Páscoa não encontra respaldo na Doutrina Cristã

Por Maria Helena Marcon

A palavra Páscoa vem do aramaico pashã, cujo sentido original é muito discutido. Pode significar “saltar”.

No hebraico pesah (pessach) significaria originariamente “dança cultual”, ou conforme alguns, a passagem do sol pela constelação do carneiro ou da lua pelo seu ponto mais alto. No livro bíblico de Êxodo, a palavra toma o sentido de “passagem”.

Originariamente, o pesah e a festa dos ázimos eram duas festas distintas. A primeira dessas festas tinha relação com a vida dos nômades, a segunda com a dos agricultores sedentários.

Como ambas as festas caíam na primeira lua cheia da primavera, foram mais tarde unidas, e celebradas em memória do êxodo dos judeus, porque, conforme a tradição, esse se dera na primavera.

Os ritos para a comemoração da Páscoa foram se transformando, ao longo dos anos. Ao tempo de Jesus, a refeição pascal era tomada em grupos de dez a vinte convivas, em casas particulares.

Os cordeiros, para a ceia, eram mortos no Templo, no dia 14 de Nisan, (ou Abib), que corresponde ao nosso mês de abril (talvez dia 6 ou 7), entre 14h30min e 17h., mas comido depois do pôr-do-sol.

A festa tomou verdadeiramente o caráter de comemoração da libertação do Egito, o que explica os ritos da festa, pela pressa com que os israelitas saíram, o que os obrigou, naquela oportunidade, a usar a massa que estava na masseira, antes que pudesse levedar.

Além do cordeiro e do pão ázimo (sem fermento) utilizavam-se ainda o “charoset”, isto é, um prato de frutas desfeitas em vinagre, formando uma pasta cor de tijolo, que servia para recordar a argamassa que os filhos de Israel empregavam nos trabalhos do cativeiro egípcio. Ervas amargas recordavam as agruras da escravidão.

As ervas eram mergulhadas no “charoset” e comidas, em meio a preces de gratidão a Deus. O pão ázimo era distribuído em pequenas parcelas, a fim de recordar a antiga escassez de víveres. O vinho era indispensável, misturado com água: 4 cálices ao todo, servidos pelo chefe de família e seguidos, um a um, de explicações a respeito da simbologia daquela comemoração especial e de entusiásticos louvores dos Salmos. As famílias que não o pudessem adquirir, deveriam buscá-lo no Templo, de forma gratuita, especialmente entregue para a ocasião que era imprescindível de ser celebrada por todos os varões de Israel. As mulheres poderiam participar, se o desejassem, não sendo a isto obrigadas.

De acordo com os Evangelhos, a prisão, condenação, flagelação e a morte de Cristo coincidiram com a festa em que os judeus comemoravam a libertação do cativeiro egípcio, a sua Páscoa. É por este motivo que, posteriormente, se ligou o episódio da ressurreição de Jesus à Páscoa, tendo a liturgia Católica a adotado em seu calendário.

Quanto aos símbolos da Páscoa, responsabiliza-se os teutônicos pelo ovo de Páscoa. Antes eram ovos mesmo, símbolo da vida e da fertilidade, provavelmente proibidos como alimentos durante a Quaresma (liturgia católica) e reaparecendo no cardápio do domingo da ressurreição.

Contudo, o costume de oferecer ovos como presente nessa época, remonta aos antigos egípcios. Entre nós, esse costume foi trazido por missionários que visitaram a China. Só que, antigamente, eram ovos mesmo, de pata ou de galinha, coloridos e enfeitados. A partir do século XVIII, incorporou-se o ovo de chocolate como símbolo da Páscoa, admitindo-o como indicativo de fertilidade e renovação. No Brasil, os ovos de chocolate foram introduzidos entre os anos 1913/1920, por imigrantes alemães.

O coelho, outro símbolo ligado à Páscoa, conforme a Liturgia Católica expressa a capacidade da Igreja em reproduzir novos discípulos. Alguns historiadores associam isso a antigos ritos de fertilidade, o que se justifica, pois o coelho é o animal que mais se reproduz.

Com tais explicações, observamos que a comemoração da Páscoa não encontra respaldo na Doutrina Cristã e recordamos a exortação do espírito André Luiz, na obra “Conduta Espírita”, cap. 37:

“Dispensar sempre as fórmulas sociais criadas ou mantidas por convencionalismos ou tradições que estanquem o progresso. Toda complexidade atrasa o relógio da evolução. O espírita não se prende a exterioridades.”

Fonte

* SAULNIER, Christiane e ROLLAND, Bernard. A Palestina no tempo de Jesus, Edições Paulinas.
* VAN DEN BORN, A. Dicionário enciclopédico da Bíblia, Editora Vozes.
* XAVIER, Francisco Cândido/André Luiz. Sinal verde. Comunhão Espírita Cristã.

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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