Psicoses e vidas passadas

Adriano Espíndola

Notas e pesquisa sobre o assunto: Como deve ser encarado o problema da doença mental sob a ótica espírita?  Quais os elementos envolvidos nesse processo de tanta dor? Qual o papel da família que tem em seu seio um doente?

Atualmente a palavra loucura que sempre foi utilizada para designar os portadores de algum distúrbio psíquico está fora de moda, foi substituída pelos termos deficiência mental, transtornos mentais ou psicoses, isso porque nas últimas décadas a doença mental tem sido tratada de forma mais racional, mais humanizada. A classe médica e mesmo a sociedade civil em geral vem mudando a maneira como encara esse distúrbio.

Mas nem sempre foi assim.

” O francês Michel Foucault, em seu livro A História da Loucura na Idade Clássica lançado em 1978, estabeleceu um paralelo entre a loucura e a lepra. A lepra, na Antigüidade, era objeto de exclusão e supressão das pessoas da sociedade; o portador da doença era o bode expiatório culpado de causar males aos outros. Os vales dos leprosos eram lugares ermos, afastados das cidades, em que se “depositavam” todos os doentes leprosos escorraçados do convívio social comum. A loucura, sobretudo a partir da Idade Média, ocupou o lugar da lepra, como alvo da brutalidade dos homens ditos normais. A Loucura, nas palavras de Foucault, seria o novo “espantalho”, que estabeleceu com a sociedade uma relação de divisão e exclusão. A doença mental era encarada como resultado da presença demoníaca, da força maligna na sua plena ação. O louco era submetido a sessões de tortura física e psicológica; não havia compreensão, o que havia era um sentimento de ódio e de temor, as pessoas tinham medo dos doentes mentais.” (1)

Mas graças à lei do progresso os dois últimos séculos foram de fundamental importância para o aprimoramento dos conhecimentos médicos. Em todos os campos da medicina ocorreram progressos e hoje colhemos os frutos de novas ações terapêuticas. São várias pesquisas científicas desvendando o funcionamento das doenças, modernos aparelhos como tomógrafos, ressonância magnética, a utilização do laser que proporcionam recursos para amenização dos sintomas e até mesmo a erradicação de diversas doenças.

Por outro ângulo tivemos os vários questionamentos éticos e filosóficos procurando compreender o comportamento das pessoas, abrindo assim caminho para as ciências psíquicas, o desenvolvimento da psiquiatria, da psicanálise e da psicologia, que humanizaram mais as relações entre profissionais e pacientes.

Mas apesar de todo este avanço a medicina ainda não consegue responder por que alguns adoecem e outros não? Se ambos são submetidos a situações patogênicas semelhantes? E por que alguns se curam e outros não?

Somente o Espiritismo provando a imortabilidade da alma é capaz de responder a estes questionamentos.

“Através da lei da reencarnação, Kardec explicou a questão das causas atuais e passadas das nossas aflições; que como seres imortais, somos fruto do que fizemos anteriormente. Sofremos mais ou somos mais felizes de acordo com o que viemos construindo nas diversas existências que já tivemos.” (1)

Conforme a Lei de causa e efeito, “O Plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.”

Emmanuel define saúde como: “a perfeita harmonia da alma, para a obtenção da qual, muitas vezes, há a necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias da terra” (3)

O espírito de Joseph Gleber completa, dizendo que saúde seria a “real conexão criatura/Criador”. Aonde esta conexão seria a vivência, por parte do homem, das leis de Deus. (3)

Com base nestas definições o Psicólogo Adenauer Novaes no livro Psicologia do Espírito nos diz que “as falhas de caráter, a maldade, os desvios de personalidade, observados nos indivíduos e comumente caracterizados como enfermidades da alma, são decorrentes da ignorância do Espírito quanto às leis de Deus. E é exatamente esse desconhecimento que será a causa da grande maioria dos transtornos psíquicos. (2)

“Emmanuel e Joanna de Ângelis nos explicam que são várias as causas dos transtornos mentais e que, quase sempre, são contraídas por faltas em uma existência anterior. O suicídio, o uso inadequado das faculdades mentais, o envolvimento exagerado com a vida mundana, ou mesmo um progresso intelectual sem a contraparte moral podem ser assinalados como causas anteriores de uma vida atual mergulhada na insanidade.” (1)

No Períspirito que ficam energeticamente impressos os registros destes nossos desvios e que precisam ser expurgados para entrarmos novamente em harmonia com as leis divinas, e uma das principais formas para fazermos este expurgo é através do afloramento de doenças e isto pode acontecer naquela mesma vida em que cometemos estes desvios ou em outras vidas futuras.

Na nova vida encarnada a doença pode manifestar-se desde o nascimento ou pode ser desencadeada por uma aparente causa material: uma fixação, um trauma, um estresse ou mesmo uma decepção. O que devemos saber é que em ambos, o gérmem da doença mental já estava registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais simples, passando pelo mongolismo, pela demência, pela esquizofrenia: a gênese é sempre espiritual.

“Outro aspecto que temos de considerar são as psicoses desencadeadas por um processo obsessivo, que também tem por causa um ato anterior. A obsessão é um mecanismo de cobrança do ser desencarnado em relação ao encarnado. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz, agora em papéis trocados. O obsessor acredita que com sua má influência e vingança do ofensor encarnado se livrará da dor que carrega, influência essa que pode inclusive levar o obsediado a um diagnóstico equivocado de deficiência mental. Quando na verdade não possui. Com a devida terapia espírita, mudança de comportamento do encarnado, reforma íntima e amor dos companheiros mais próximos é quase certo que a cura total seja possível nesses casos.” (1)

Mas também na maioria dos casos de transtornos mentais há a presença de seres obsessores, que não são a causa da doença, mas como o doente geralmente vibra em ondas baixas, com pensamentos negativos e depressivos atraem espíritos afins com esta vibração.

Para a medicina Conforme o livro Por que adoecemos? Um dos Conceitos mais aceitos de Psicose é:

“Doença mental de desestruturação profunda do pensamento, podendo levar a alterações afetivas, cognitivas, da senso-percepção, do juízo crítico, dispondo à perturbação nas relações interpessoais e do comportamento.” (3)

A OMS divulga freqüentemente uma lista chamada de CID-10 que é a Classificação Internacional das Doenças. O capítulo V trata dos transtornos Mentais e Comportamentais, nesta lista os desequilíbrios psíquicos são divididos em 11 tópicos.

1 – Transtornos Mentais Orgânicos, Inclusive os Sintomáticos; que inclui as Demência, as Amnésias, as síndromes pós-traumáticas, o Alzheimer, os AVCs.

2- Transtornos Mentais e Comportamentais Devidos ao Uso de Substância Psicoativa; Álcool, drogas, excesso de medicamentos…

3 – Esquizofrenia e Transtornos Delirantes; que são os casos mais graves de psicoses.

4 – Transtornos de Humor (Afetivos); inclui Distúrbios Bipolares

5 – Transtornos Neuróticos, transtornos relacionados com o Estresse; inclui as fobias, as ansiedades, o pânico, o TOC.

6 – Síndromes Comportamentais Associadas a Disfunções Fisiológicas e a Fatores Físicos; Inclui os transtornos da alimentação (Bulimia e Anorexia), os transtornos do sono (Insônia, Hipersonia, Sonambulismo e pesadelos)…

7 – Transtornos da Personalidade e do Comportamento Adulto; que inclui os indivíduos com personalidade paranóicas, anti-sociais, histriônicos (exagerados), ansiosos, perfeccionistas. inclui também os indivíduos com transtornos dos hábitos e dos impulsos (Jogo Patológico, piromania, cleptomania, tricotilomania). E ainda os indivíduos com transtornos da identidade e da preferência sexual (transexualismo, travestismo, fetichismo, exibicionismo, voyerismo, pedofilia, sadomasoquismo, bolinagem, necrofilia, imaturidade sexual)

8 – Retardo Mental; que inclui as gradações leve, moderado e profundo.

9 – Transtornos de Desenvolvimento Psicológicos; que tem em comum o início situado na primeira ou segunda infância, os transtornos do desenvolvimento da fala, do desenvolvimento das habilidades escolares, o autismo, os transtornos de conduta infantis.

10 – Transtornos do Comportamento e Transtornos Emocionais que Aparecem Habitualmente durante a Infância ou a Adolescência; Agressividade, crueldade a outras pessoas e animais, matar aulas, desobediência,

11 – Transtorno Mental não Identificado. (2)

No livro Psicologia do Espírito, Adenauer Novaes faz uma ótima abordagem de cada um destes 11 tópicos, citando o que são, quais os sintomas, quais as prováveis causas na visão espírita e a terapêutica recomendável que pode ser o acompanhamento médico com o uso de medicação prescrita por um psiquiatra; ou o tratamento psicológico com a aplicação de algum tipo de psicoterapia efetuada por um psicólogo; ou tratamento espiritual ou espírita aquele executado num Centro Espírita com passes, água fluidificada, reunião mediúnica intercessora, oração pelo doente, além das recomendações de que ele faça leituras edificantes, aprenda a orar e buscar sua transformação interior. Ou até mesmo estes três tratamentos conjugados. E as recomendações sempre incluem também o grupo familiar, que é importantíssimo neste processo.

“A doença mental é uma expiação ou prova também para os pais que podem ter sido coadjuvantes nas faltas desses espíritos. Eles são agora testados e deverão aplicar todo o amor possível na convivência com o doente, sendo responsáveis por este querido ser que os acompanha. Sabemos que a cura total é quase sempre impossível porque consta do plano reencarnatório da criatura, mas a dor tanto do doente quanto da família pode ser suavizada se tivermos em mente que nunca estamos sozinhos; se confiarmos e tivermos a figura divina como nosso norte, espíritos amigos estarão sempre nos inspirando e colaborando em nossa caminhada.” (2)

Lembremos também que os transtornos mentais nem sempre são provas, algumas vezes podem ser oportunidades que pedimos para desenvolver novas habilidades, novas percepções, novas sensibilidades. Ou mesmo para ajudar nosso grupo familiar que necessita passar por esta experiência. Um grande missionário entre cegos solicitou que antes deste trabalho pudesse reencarnar como cego para associar todo seu amor e sabedoria à experiência de, também, ter sido cego. Associar teoria, amor, sabedoria e vivência prática.

Por isso é muito importante que a família procure informações para ajudar o seu doente e se ajudar, dizem que a desinformação mata mais que as doenças. Hoje as pessoas tomam decisões sem ter todas as informações nas mãos e acabam errando por desinformação. É muito comum as pessoas não entenderem o que está acontecendo.

No programa Transição que vai ao ar aos Domingos às 16hr15min pela REDE TV, o Psiquiatra João Lourenço disse que normalmente quem tem um doente mental passa pelo que ele chama dos 4C’s: “As famílias acham que são a CAUSA da doença, e como nós causamos nós vamos CONTROLAR a vida desta pessoa e vamos CURÁ-LA e como não conseguem controlar e muito menos curar, aí vem a sensação de CULPA e aí por culpa elas acabam fazendo um monte de coisas que não são terapêuticas e atrapalham o desenvolvimento daquela pessoa que tem uma limitação por causa de uma psicose.” (4)

Por exemplo: Ah ele é doidinho, não sabe o que faz, então a gente faz tudo por ele, aí ele começa a se acomodar, fica só no quarto, é muito comum a família por medo que ele entre em surto dar tudo o que ele pede, ou então coloca ele lá no quartinho do fundo, compra um cinzeiro gigante e deixa ele fumando o dia inteiro, porque aí ele fica quieto.

Aí quando vai numa consulta médica o psiquiatra pergunta como é que está o seu filho e eles respondem: – Ah! Ele está bem!
Isto não é estar bem, estar bem é levantar cedo, tomar seu próprio banho, se alimentar, sair para fazer alguma atividade terapêutica ou esportiva. Isto é estar bem. Mas, para a maioria das pessoas que tem medo da crise, estar bem é estar quieto num canto e não quebrando tudo, ou falando besteira ou fazendo coisas que possam dar vergonha para a família.

Por isto a família quando possível deve participar de terapias em grupo, de cursos onde angariem instrumentos e instruções para que saibam lidar com a doença, não perdendo a capacidade de ajudar por medo ou por culpa, sabendo o que fazer. Numa hora de um surto, por exemplo, já ter anotado em algum lugar o que fazer, para quem ligar qual o número da ambulância, do médico, quais os medicamentos e doses que ele toma, aí fica mais fácil para o médico decidir se vai aumentar a dose ou se vão ter que levar no pronto-socorro. Ou seja, se temos a informação, temos os instrumentos e sabemos como usá-los, dificilmente entraremos em desespero, aí se quebra a teoria do 4C’s. Eu não sou a Causa, não vou Curá-lo e, portanto não devo me sentir Culpado. Eu devo sim, me ocupar de tratar alguém que eu recebi na minha família com muito carinho. Portanto deve-se estudar a doença, tirar proveito desta dor, procurando saber para que esta doença surgiu, a dor é uma alavanca para a evolução de todo o núcleo familiar.(4)

“A terapêutica espírita no tratamento dos transtornos mentais é também preventiva, pois sugere a resignação ante os dramas da vida que poderiam causar o afloramento da doença. O autoconhecimento, a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal de cada um constituem meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer um de nós pode ser doente em potencial.

O autoconhecimento tão bem aplicado por Santo Agostinho é uma das chaves mestras na prevenção de toda e qualquer doença. A auto-observação no dia-a-dia, na busca constante de identificar os pontos a serem melhorados, as fraquezas e más tendências são elementos importantes para assegurar a qualidade de vida. A proposta de renovação íntima, de transformação moral, da mudança dos hábitos mentais, da substituição do pensamento negativo pelo positivo são ferramentas de prevenção ditadas pelo Cristo e renovadas pelo Espiritismo.

A fé e a confiança em Deus deverão nos dar uma natural resignação ante as tribulações cotidianas e o Espiritismo nos faz lembrar que a vida na Terra é sempre passageira; que se passarmos por tudo de forma equilibrada uma sorte mais feliz nos aguardará no plano espiritual.

Se olharmos para a vida eterna do Espírito que somos, veremos que passamos hoje apenas uma fase passageira nessa existência. Que a cruz, embora possa parecer demasiado pesada, pode ser perfeitamente carregada se tivermos força e confiança na providência divina. Todo esforço será recompensado e aos olhos do Pai, cada gota de suor será computada no final.
Nunca há injustiça alguma vinda do céu. Encaremos as dificuldades como oportunidades de progresso. Essa é a proposta do Espiritismo.” (1)

Bibliografia:

(1) Pastorelli, Danilo. Doença Mental e Espiritismo. Portal do Espírito.
(2) Novaes, Adenauer. Psicologia do Espírito. Fund. Lar Harmonia.
(3) Autores Diversos. Porque Adoecemos. Ed. Esp. Cristã Fonte Viva.
(4) Lourenço, João. Doenças Mentais e Espiritismo. Entrevista no Programa Transição. Rede TV.

 

 

 

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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