Aos viajores dos mundos

Por Manoel Fernandes Neto

Todos nós, espíritas, sabemos de cor a escala dos mundos, além de nos determos primeiramente nos mais elevados: Divinos, Celestes, Felizes, Ditosos, de Regeneração. E de Provas e Expiações: este mesmo em que estamos, e em referência ao qual, em certo momento, na erraticidade, afirmamos que suportaríamos os desafios. Entusiasmados por tantos mundos que se avolumavam à nossa espera, declaramos em alto e bom pensamento: “sim, eu topo!”

O escritor Hermínio Miranda, em seu livro Alquimia da Mente, diz que durante os mais de 30 anos em que atuou em mesas mediúnicas, como doutrinador, aprendeu muitas coisas com os desencarnados que encontrou. “Diálogos vibrantes de emoção”, diz Hermínio. Ele destaca: “O de que mais se queixam eles, ao cabo de tantas existências perdidas a repetir ou aprofundar erros, é que é muito comum trazerem para a vida terrena um programa de trabalho retificador e tornarem a fracassar ou a transviar-se, por melhores que sejam as intenções”. O maior dos equívocos, segundo o escritor: “Nos deixamos envolver pelas matrizes de pensamento e ação que predominam deste lado da vida”.

E este lado da vida gosta de incoerências. Uma dessas: mesmo com tantos mundos à nossa espera, ainda nos perdemos nos labirintos dos mundos interiores que surgem em nosso cotidiano.

É o mundo do orgulho, advindo de vidas em que encaramos como privilégios talentos emprestados para o nosso progresso; o mundo do egoísmo, que ainda resiste desde encarnações primitivas, quando defendíamos com unhas e dentes as provisões, sem saber o que era compartilhar.

Nossos mundos interiores se multiplicam: o mundo das maledicências, oriundo da nossa insegurança, ao varrermos nossas próprias falhas para baixo do tapete dos defeitos alheios, os quais apontamos, implacavelmente. Ou, ainda, o mundo da vitimização, que, equivocadamente, achamos que nos transforma em criaturas “dignas” da Misericórdia Divina ou em santos sem altares.

Falamos do mundo maior, mas insistimos em viver em um mundinho diminuto. Um quase nada. Que não resiste à mais frágil análise racional e se melindra sob simples observações sobre nós. Somos ávidos em orar aos benfeitores da morada espiritual, quando a nossa morada interior é construída sobre o solo infértil das lições não apreendidas. Temos medo de encarar o mundo sem as nossas cada vez mais sofisticadas máscaras.

Herculano Pires, em O Tesouro dos Espíritas, diz que o mundo atual é o “campo de batalha do espírita”, com a ressalva de que também é a sua oficina. Uma oficina para forjar um mundo novo. “Dia-a-dia ele deve bater a bigorna do futuro. A cada dia que passa, um pouco do trabalho estará feito. O espírita é o construtor do seu próprio futuro, é o auxiliar de Deus na construção do futuro do mundo. Se o espírita recuar, se temer, se vacilar, pode comprometer a grande obra. Nada lhe deve perturbar o trabalho, na turbulenta, mas promissora oficina do mundo atual”.

“Estar no mundo, sem ser do mundo” é a autêntica sabedoria do Mestre de Nazaré; só nos resta interiorizar este ensinamento. Ou seja, sermos capazes de ter os pés fincados na terra, com todas as suas atribulações, mas com a consciência de que somos espíritos imortais, incorruptíveis como essência divina. Capazes de reagir enquanto mantivermos nossa consciência em alerta contra as armadilhas da nossa personalidade.

Nutramos uma certeza: somente a partir do nosso mundo interior seremos capazes de enviar a caravana das nossas aquisições à conquista de mundos cada vez mais iluminados. Se não existe limite para a Obra do Pai, por que ficarmos enclausurados em um caos interior, quando as ferramentas de organização estão ao nosso alcance? Em qual mundo você quer viver a partir de hoje? A partir de agora?

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07.2007 

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Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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+ Manoel Fernandes Neto