Como estudar e explicar melhor a Doutrina Espírita

Walter Barcelos | O espírita verdadeiro é um construtor do futuro. Cabe-lhe o dever inalienável de estudar a Doutrina, aprofundando-se no seu conhecimento.

Artigo originalmente publicado na Revista Espírita Harmonia.
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O espírita verdadeiro é um construtor do futuro. Cabe-lhe o dever inalienável de estudar a Doutrina, aprofundando-se no seu conhecimento, difundi-la com vigor e confiança para que a luz solar afugente as trevas de um passado contraditório de lamúrias, imprecações e louvores subservientes a Deus…”
Herculano Pires

(O Centro Espírita. Cap VI: “As almas frágeis”).

1 – O MELHOR HORÁRIO PARA ESTUDAR:

Escolher o melhor dia e horário para o estudo espírita individual. Aquele dia (ou dias) mai(s) folgado(s) e o horário de maior tranquilidade.
Para que? A fim de ganhar tempo, aproveitamento no estudo e melhor aprendizagem.

2 – LOCAL PARA ESTUDAR:

Recinto claro, isolado, onde podemos estudar sem ruídos ou conversações de outras pessoas. Buscar o silêncio para obter a concentração (nada de bate-papo, ouvir rádio, assistir à televisão ou música com som alto).

Cadeira firme, que não possibilite espreguiçar-se.
Mesa somente com o material de estudo: livro, caderno, papéis, lápis, caneta, borracha. Não deixar na mesa: revistas ou jornais que possam tirar a sua atenção do estudo sob sua responsabilidade.

3 – LEITURA INICIAL:

Fazer a leitura inicial, para conhecimento superficial do tema.

O texto doutrinário que se vai estudar não é somente um conjunto de palavras, frases e períodos. É, muito mais, um conjunto de ideias, coordenadas pelo autor.
Surgem as ideias que afirmam ou negam, as verdadeiras ou as falsas, as explicações enriquecidas de exemplos, fatos, contos e comparações.

4 – PESQUISAR NO DICIONÁRIO:

Ler com atenção, anotando em um caderno todas as palavras cujo verdadeiro sentido se desconhece.

Procurar no dicionário a melhor definição ou sinônimo para as palavras do texto em estudo e registrar ao lado da palavra ou no papel em que se fará o resumo do estudo.

É um contrassenso a pessoa falar em público palavras extraídas de um texto estudado cujos sentidos ela mesma ignore. Se não se sabe o significado de alguma palavra é melhor não dize-la.

5 – LEITURA COM TRADUÇÃO MAIS DIFÍCIL:

Faça a leitura completa do texto, procurando agora entender o significado das palavras pesquisadas no dicionário, alcançando uma melhor compreensão da lição.

Leia novamente, bem devagar as frases, procurando conversar mentalmente com o autor, dando uma parada onde termine a conclusão de uma ideia. Todo estudo realizado com pressa, sem método e paciência, embora você consiga fazer o resumo da lição ou capítulo indicado, muito difícil será assimilar o máximo das questões existentes no texto.

Leia novamente por etapas (releia cada frase ou período quantas vezes forem necessárias), buscando descobrir: as ideias centrais, as definições, os exemplos, as comparações, os contos reais, os contos fictícios, as parábolas e as explicações profundas).

Não se apresse, desejando fazer o estudo rapidamente, a fim de lidar com outros afazeres. Se já escolheu dia e hora, é para ter mais tempo de estudo sério. A pressa é inimiga da perfeição – diz o ditado. Tenha sempre em mente: o mais importante, não é você apresentar um estudo na Casa Espírita. O mais importante por agora é você aprender e assimilar o máximo de ideias e conhecimentos da lição ou o capítulo que lhe foi determinado.

 

O lucro maior da aprendizagem não será daqueles que ouvirão a sua exposição doutrinária, mas o seu próprio lucro na instrução espírita, pois estudará o máximo que puder para extrair o máximo de conhecimentos, a fim de que aprendendo muito, possa falar o necessário diante do público ávido de esclarecimentos, com convicção, certeza e segurança.

6 – COMO SUBLINHAR E RESUMIR O TEXTO ESTUDADO:

Sublinhar é traçar uma linha abaixo das palavras, frases ou períodos que você julgar eu contenha ideias importantes para a compreensão, o resumo e a explanação do estudo. Use pequena régua para traçar as linhas, que devem ser retas e harmoniosas.

Destacar do texto somente aquilo que for mesmo essencial.

O objetivo principal da leitura atenta e raciocinada não é sublinhar de forma sistemática, pois poderá se tornar excessivo e prejudicial à compreensão das ideias centrais da lição em estudo.

Necessário ser econômico no sublinhar as palavras e frases básicas do texto em estudo, para verdadeiramente extrair pelo resumo a essência da lição ou capítulo.

Não sublinhar abusivamente, pois perderá todo o espírito de síntese, recolhendo as ideias básicas de entendimento do texto em estudo.

Não tenhamos pressa em aprender tudo que está contido no capítulo ou lição pois isso é impossível. Somente com a repetição do estudo no dia da explanação doutrinária e do debate que daí surge, aprenderemos muitos pontos de que nem cogitávamos.

 

Sublinhar não é registrar o de que mais gostamos na leitura, atendendo aos nossos caprichos, mas sim o que vai nos atender ao tema e ao plano de aula. Muitas vezes gostamos de tudo, e riscar tudo não tem valor algum.

Sublinhar é anotar as palavras, conjunto de palavras ou frases que julgamos sintetizar uma idéia, um ensinamento, um exemplo.

Podemos sublinhar com canetas de várias cores.

Use a caneta vermelha somente para destacar palavras que dão título a uma frase, a um período ou a palavra que constitui matriz de um conjunto de palavras e frases.

Quando encontrar uma escala de palavras, que mostrem uma ordem de efeitos, depois de sublinhadas, podem ser enumeradas para facilitar a montagem de sinopse. Sinopse é a apresentação concisa do conteúdo de uma lição, texto, artigo ou capítulo.

Depois das leituras necessárias e registros devidos, fazer uma leitura somente do que foi sublinhado. Na leitura, deverá sentir que o essencial foi extraído.

Passar para o papel, pela escrita manual ou pelo computador, se possuir, tudo que foi anotado no texto estudado. Se for manual, escrever com letras bem legíveis e com palavras bem espaçadas, facilitando em muito os posteriores estudos e a apreensão mais clara e aprofundada da lição.

 

Não julgar que somente com este estudo estará praticamente estudada e bem compreendida a lição. Não acredite nisso. Cada vez que voltar à mesma lição ou ao resumo, já bastante estudado, novas verdades e novas luzes surgirão. Sua mente estará avançando sempre assimilando coisas novas, quando você retornar à mesma lição para novo estudo sua capacidade de interpretação e de aprofundamento das ideias estará sempre melhor e com maiores facilidades. É o fruto do progresso mental do aprendiz de boa vontade, humilde e esforçado.

Todo estudo de que deixamos registros lógicos, racionais e metódicos, nos próprios livros e nas compilações destes dados, num caderno especial ou no disquete, estaremos enriquecendo em muito o nosso aprendizado, que facilitará futuras pesquisas e análises mais profundas.

7 – ESTUDAR RACIOCINANDO

O que é exercício do raciocínio?

Do Dicionário de Filosofia, extraímos: “O pensar, quando consiste na apreensão de uma série ordenada de pensamentos entrosados entre si, de modo que o último decorra do primeiro, temos o que se chama raciocínio”. E “Só há raciocínio quando inferimos [concluímos] um pensamento de outro pensamento. Podemos começar de um fato singular, para chegar a uma conclusão geral, ou uma conclusão geral para concluir que o singular está contido naquela”.

Necessário se trona compreender muito bem a lição que está sob sua responsabilidade.

Estudar é pensar e acompanhar detidamente o pensamento do autor, seja a lição, o capítulo ou o livro.

Raciocinar é pensar palavra a palavra, frase a frase, período a período, parágrafo a parágrafo.

Raciocinar é analisar detalhadamente quantas vezes forem necessárias e assimilar as ideias e conhecimentos que o autor está dissertando por meio de determinado conjunto de palavras.

 

É imprescindível a quem deseja verdadeiramente aprender Doutrina Espírita se esforçar no estudo sistemático, gastando fosfato e tempo para captar o máximo de ideias contidas nas frases e período e também a ordenação destas ideias dentro do contexto.

8 – A FADIGA DO CÉREBRO:

Se cansar o cérebro depois de algum tempo de estudo, não continue e nem desanime.

Aprenda a se organizar, administrar as suas próprias dificuldades.

Sentindo que o cérebro já está esgotado, com um determinado tempo de estudo (este tempo varia de pessoa pra pessoa) paralise o estudo por alguns momentos, dê uma volta, respire a longos haustos e contemple a natureza, para descansar o sistema nervoso e o cérebro. Depois de algum tempo, volte ao estudo, procurando concentrar-se com o máximo de atenção sobre o tema proposto par o estudo. Esforço próprio quer dizer superar a si mesmo.

Ninguém aprende, desenvolve, melhora e aperfeiçoa sem o esforço próprio perseverante, sem desânimo, e sempre encorajado a melhorar o conhecimento espírita.

9 – DIFICULDADE NO ENTENDIMENTO DE ALGUNS PONTOS DO TEXTO:

Como é muito natural para quem estuda, encontrando dificuldades na compreensão de alguns pontos da lição, não fique quebrando a cabeça e nem deixe para ser resolvida na hora da apresentação do estudo, mas busque o auxílio de melhores explicações com um colega espírita mais experiente no estudo doutrinário, a fim de não estacionar no aprendizado, continuando a desconhecer aquilo que lhe foi determinado estudar e compreender com maior profundidade.

10 – A COMPETÊNCIA DOUTRINÁRIA:

Competência: capacidade para apreciar e resolver determinado assunto. Facilidade para explanar com boa interpretação segurança e profundidade sobre temas espíritas.

Conquistar um bom conhecimento doutrinário, principalmente das Obras Básicas de Allan Kardec.

Facilidade para explanar sobre o tema em estudo.

A repetição do estudo sério com paciência e atenção de uma mesma lição ou capítulo que nos foi indicada a explanar, é de sumo valor para o aprendiz, pois somente desta maneira ele adquirirá o verdadeiro conhecimento e aprofundamento doutrinário.

Como buscar e conhecer a verdade na palavra dos Espíritos da Codificação? Assim eles nos afirmam:

“Para discernir o erro da verdade, é necessário aprofundar no entendimento dessas respostas, meditando-as demorada e seriamente. É um verdadeiro estudo que se tem de fazer. Precisa-se de tempo para isso, como para todos os estudos. Estudai, comparai, aprofundai-vos nas questões. Temos dito incessantemente: o conhecimento da verdade tem esse preço”, Allan Kardec (O Livro dos Médiuns/Cap. XXVII/Questão n. 301, item 4. Nossos os grifos).

11 – O ÊXITO DO ESTUDO

O êxito no conhecimento está ao lado daquele que se aplica no estudo com:
1 – Boa vontade;
2 – Recolhimento interior;
3 – Atenção fixa nas ideias e princípios;
4 – Observação atenta dos pequenos detalhes;
5 – Análise de palavra por palavra, frase por frase, período por período;
6 – Meditação paciente dos ensinamentos morais e filosóficos;
7 – Raciocínios prolongados para aprofundamento das ideias, a fim de realmente penetrar o conhecimento da verdade, seja ela científica, filosófica, moral evangélica ou ciência espiritual.

12 – PRINCÍPIOS PARA MELHOR LER UM LIVRO:

Os livros não devem ser lidos somente com os olhos, devem ser assimilados em tudo quanto tenham de nutriente.

Um dos maiores pensadores da Renascença disse:

“Alguns livros são para serem provados, outros para serem tragados e alguns poucos para serem mastigados e digeridos. Isto quer dizer que alguns livros são para serem lidos por partes; outros para serem lidos não apenas por curiosidade, mas cuidadosamente; e alguns poucos, em todo o conjunto, com diligência e atenção”, Gilberto Highet (A Arte de Ensinar. Cap. III, Os Métodos do Professor. Nossas marcações).

Conclusão: 

As Obras Básicas da Doutrina Espírita são as que devem ser lidas e estudadas, mastigadas e digeridas com ATENÇÃO e REFLEXÃO, ANÁLISE e MEDITAÇÃO PACIENTE, repetindo o estudo do mesmo capítulo, questão ou item, quantas vezes forem necessárias, sem cansaço e desânimo, num processo longo e perseverante. A convicção espírita nascerá somente desse comportamento humilde de aprendizagem.

* Artigo originalmente publicado na Revista Espírita Harmonia.

 

 

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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