Desencarna em Barra Velha o pioneiro da Doutrina Espírita Antônio Souza

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Desencarnou hoje pela manhã (12 de março) o ex-veterinário, ex-responsável pela Delegacia de Barra Velha e ex-fiscal da Prefeitura de Araquari Antônio Souza, aos 87 anos de idade, pioneiro do Espiritismo na cidade. Seu corpo está sendo velado em casa, na Rua Joaquim Santana de Freitas, às margens da BR-101, em Itajuba, proximidades da Parada Ferretti. Seu sepultamento será amanhã, quarta-feira, às 10h, no cemitério central.

Antônio Souza marcou história em Barra Velha por ser o mais antigo veterinário do Município e também por ser um pioneiro do Espiritismo em terras barra-velhenses, junto com a saudosa Maria Conceição, a "Maria do Lauro", falecida em 1985. Ele construiu e foi por várias vezes presidente do Centro Espírita Jesus de Nazaré, que em janeiro deste ano, completou 48 anos de atividades em Barra Velha.

Abaixo segue a trajetória da vida de Antônio Souza, produzida pelo pesquisador Juliano Bernardes, do projeto "Descortinando Histórias" e publicado quando seu Antônio completou 85 anos de idade. A comunidade espírita de Barra Velha, emocionada, roga as bênçãos de Jesus a esse tarefeiro incansável da Terceira Revelação, que até dias atrás ainda frequentava assiduamente as reuniões do "Jesus de Nazaré".

Antônio Souza, na Transcendência da Vida

De acordo com o combinado, fui recebido na residência do senhor Antônio que me aguardava junto a sua esposa para uma agradável conversa sob a sombra das árvores em uma belíssima paisagem. O senhor Antônio Souza nasceu no dia 25 de fevereiro de 1926 na localidade de Putanga em Guaramirim, Santa Catarina, filho de Marcílio Dias e Porfira de Souza.

Quando o senhor Antônio tinha quatro meses, sua mãe faleceu e o casal Pedro Marciano de Souza e Amara Maria da Conceição resolveram adotá-lo como filho. Somente quando tinha 11 anos, foi registrado no cartório José Rosa. Questionado sobre sua infância, o senhor Antônio destacou que foi de muito trabalho na roça, colaborando com os pais.

Lembrou que não existia escola e quando tinha 14 anos uma professora de Blumenau procurou diversas famílias para que suas crianças pudessem estudar e assim destacou:“A professora Maria Machado insistiu muito para que meu pai permitisse que eu estudasse mas ele afirmou na época, que se permitisse, morreríamos de fome, pois necessitava da minha ajuda na roça. Mesmo assim, estudei por 8 meses e tudo que sei é assinar o meu nome. Nasci em uma casa de tapume e coberta de barro. Realmente nós éramos muito pobres e de pobreza eu entendo”, destacou.

Seu pai legítimo, Marcílio Dias, ao falecer foi sepultado no antigo cemitério de Barra Velha ás margens da lagoa. Seu corpo foi trazido pelo rio Itapocú, depois seguiu pela lagoa e ainda hoje permanece no antigo cemitério esquecido pelas autoridades e população de Barra Velha.

Seu pai de criação, de acordo com o senhor Antônio, nasceu na época da monarquia e era um homem muito integro e defensor desse sistema de governo que vigorou em nosso país até o ano da Proclamação da República em 1889.

Questionado se não fica triste por saber que o local onde seu pai legítimo foi sepultado encontra-se totalmente abandonado, foi bastante claro: “Nosso corpo é somente matéria, por isso não fico preocupado com essa situação”. 
Aos 18 anos, casou-se com a senhora Luiza Bernardes de Souza, e os filhos, José, Juracir, Vilmar, Valmor, Maria Lúcia, Marister, Francisco e já no segundo casamento nasceu a filha Silvia que chegou para completar a família, alegrando ainda mais a vida do papai e vovô, Antônio.

Ao longo da vida, residiu em muitos lugares, como Papanduva, Curitibanos, Santa Cecília e em 1961 passou a residir em Barra Velha. Sobre a vida em Barra Velha, ressaltou que no início foi muito difícil:

“Moramos por 11 anos no salão do João Augustinho que ficava perto do porto da cancela e quando tinha baile no salão, tínhamos que sair. Por diversas vezes o barbeiro Abraão que tinha casa em Barra Velha me emprestava sua casa de veraneio para que eu pudesse ficar quando havia bailes no salão do João Augustinho. Lembro de uma briga no salão alguém atirou e a bala do revolver atravessou a casa do Abraão, onde estávamos.

Morei também na casa do Miguelzinho de Freitas por 6 anos e mais tarde construí uma casinha nas terras do Lauro Maria em frente ao morro do Cristo. Lembro também da disputa que houve entre uma família de negros que vivia na região próxima ao morro. Após muitas brigas por terras os negros venceram e o Lauro deixou Barra Velha. Com o passar do tempo, essa família de negros foi se acabando”.

O senhor Antônio trabalhou muitos anos na Prefeitura do Distrito de Araquari quando o senhor Higino Aguiar era prefeito daquela localidade. Atuou como fiscal geral da prefeitura por 14 anos, “emprestado” para o Estado e costumava visitar as famílias de toda região para vacinar as pessoas.

Com a lucidez de uma criança, lembrou de quando Barra Velha foi emancipada e das personalidades políticas envolvidas com a emancipação. Recordou do antigo delegado de Barra Velha, Vitor Brenneisen um senhor já idoso que buscava a sua colaboração para resolução de alguns casos policiais. Com o aval do senhor Sinval Moura que o instituía como delegado local nos casos mais perigosos o senhor Antônio era nomeado a principal autoridade de Barra Velha em relação à segurança.

Um destaque nas lembranças do senhor Antônio foi o roubo de uma máquina da Prefeitura de Barra Velha que foi encontrada em Guaramirim. Ele questionou se realmente valeu a pena tantas situações perigosas que enfrentou como autoridade policial temporária.

O senhor Antônio fez história em Barra Velha ao atuar como veterinário e tem muito orgulho que seu filho, Chico Souza está dando continuidade a conhecida agropecuária que ele criou na entrada da cidade. Enfatizou que está muito feliz, pois sua neta, filha do senhor Chico, está se preparando para dar continuidade ao seu trabalho e do seu filho, Chico.

Também é necessário destacar que o senhor Antônio Souza foi um dos fundadores do Centro Espírita Jesus de Nazaré, enfrentando muitas dificuldades e principalmente o preconceito de muitas pessoas para com a doutrina espírita: “Se hoje em dia temos pessoas que criticam o espiritismo, imagina há 42 anos, quando iniciamos o Centro Espírita de Barra Velha”, destacou.

Uma das principais características do senhor Antônio é a fé em Jesus Cristo e na vida que Deus proporciona a todos nós. Deixou bem claro que não medo de partir, pois sabe que estamos aqui só de passagem.

Embora não viva mais com a senhora Luiza deixou claro que possui uma relação de amizade e muito respeito com a antiga companheira. O casal Antônio e Luci são assistidos pela filha, genro e netos que alegram a vida dos avós e residem ao lado. O senhor Antônio lembrou das transformações que ocorreram na região que reside no bairro Pedras Brancas:

“Quando chegamos aqui, era tudo muito diferente. Havia muito mato e poucas construções. No início não tinha nem luz elétrica e mais tarde consegui que conhecidos meus instalassem a luz aqui para nós. Fui o primeiro a ter telefone aqui nessa região e naquele tempo era muito caro”.

Um fato triste ocorrido com a senhora Luci foi destaque em rede nacional no programa do Ratinho no SBT ao contar para todo Brasil sua história. Um grave acidente com o moedor de cana quase tirou a vida da senhora Luci e deixou algumas sequelas. O casal jamais esquecerá os terríveis momentos que viveram e agradecem a Deus pela oportunidade de superar o acontecido e retornar a normalidade.

Embaixo de uma árvore, tomando um suco de acerola servido pela senhora Luci, tive a honra de conhecer a história de um senhor que está completando 85 anos de vida bem vivida. Mesmo com diabetes e utilizando um marcapasso há 18 anos o senhor Antônio concluiu que graças a Deus enxerga muito bem e pode admirar as belezas da natureza que o rodeia.

Agradece a Deus todos os dias pela vida e busca transmitir a todos que o procuram palavras de amor e fé em Deus. Com muita alegria, agradeci ao senhor Antônio e sua esposa ficando extremamente feliz por descortinar mais uma belíssima história.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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