Em Busca de Deus!
Edson Figueiredo de Abreu, do ECK | | “Deus reside em todos os homens, mas nem todos os homens estão nele, por isso é que sofrem” (Ramakrishna).
É, sem dúvida alguma, que a grande questão do ser humano – sem, ainda, uma resposta exata – ao longo dos tempos, desde os primórdios, é aquela acerca de sua própria existência. Por que existimos? Quem ou o que nos criou e com qual propósito? Seria toda a criação obra de um Deus único ou de vários Deuses? Somos realmente obra do acaso através de uma explosão, conforme preconiza a teoria do Big Bang?
Estas são perguntas intrigantes que suscitam várias teorias e que já causaram disputas, dissabores, imposições ideológicas, guerras, etc.
Na busca das explicações para a sua própria existência, o ser humano sempre se deparou com o “inconcebível”, o “imaterial”, o “sobrenatural”, o “extrafísico”, ou algo posicionado no campo da não percepção, do não palpável, mas do imaginável. Neste sentido, o criador ou “Deus” – independentemente do que se entenda por esta palavra – foi e é uma das grandes questões filosóficas da humanidade. Eu, particularmente entendo que é daí que surge a filosofia, apesar de não ser um especialista no assunto.
Na história das sociedades humanas, a “criação” ou a figura do “criador” foram moldadas às características próprias do homem, adequadas a cada momento evolutivo e à compreensão das leis que governam o tempo e o espaço e à própria natureza humana em si, em seu significado mais profundo. Neste sentido, surgem afirmativas do tipo: “Deus é o incriado criador supremo”, “Deus criou todo o Universo” “Deus é a essência de tudo e está em todos os lugares” “Deus é a força que nos une, por isso nele habitamos e existimos”, etc.
Naturalmente que a Doutrina Espírita, com seu caráter revelador de algumas leis desconhecidas ou não observadas pela maioria dos seres humanos, não se furtaria a tratar deste tema. E é assim que encontramos, nas primeiras questões de “O livro dos Espíritos” (itens 1 a 16), a busca do entendimento do tema da criação universal e a própria definição para o criador. É onde nos deparamos com afirmações como estas:
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”;
“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo que é desconhecido é infinito”;
“Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do ser humano e a vossa razão responderá”;
“Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom”;
“É o criador do Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais”
Com relação à afirmativa de ser, Deus, a inteligência suprema e a causa primária de tudo que há no Universo, penso que o melhor argumento é o da própria ciência, ou seja, a de que “não há efeito sem causa”. Neste sentido, procurando a causa de tudo o que existe no Universo – e que não é obra do ser humano –, concluiremos, pela lógica, tratar-se de obra de Deus.
Então, aqueles isentos de conceitos religiosos ou paixões pré-concebidas, se puseram a observar as leis da natureza e cunharam suas próprias ideias da criação. É assim que, para Einstein por exemplo, a concepção de Deus está correlacionada com as leis que governam o tempo e o espaço, a natureza em sua acepção mais profunda, por isso afirmou que “Deus não joga dados com o Universo”. Nesta mesma linha de raciocínio, Voltaire, por sua vez, afirmou: “O Universo me espanta e não posso imaginar que este relógio exista e não tenha um relojoeiro”.
Ainda na Doutrina Espírita, aprendemos que nós, como Espíritos, somos os seres inteligentes da criação e povoamos o Universo, fora do mundo material. E, também, que os Espíritos preexistem ao mundo material e sobrevivem a tudo pela eternidade, abrangendo infinitamente os espaços, em diferentes tipos de mundos. Então, a ideia de Deus não está limitada à compreensão restrita humana, ao pequeno e insignificante planeta Terra – um pálido ponto azul, como asseverou Carl Sagan – ou à nossa galáxia. A criação abrange todas as coisas, todos os seres vivos, inteligentes ou não, encarnados ou desencarnados do Universo. Deus, então, se estende por todo o Cosmo e o mantém.
Essa informação de que, como Espíritos, preexistimos à matéria, nos leva a entender que, na realidade, a nossa “essência espiritual” anseia por Deus. É por isso, inclusive, que os Espíritos falaram da Lei de Adoração (questões 649 a 673 de “O livro dos Espíritos”). Nós, aqui encarnados, mesmo encerrados num corpo físico, no nosso subconsciente sabemos da existência do criador e o buscamos em diferentes formas, pois que a matéria, exercendo enorme influência, dificulta o entendimento acerca de Deus. Vide, pois, a resposta à questão 652: “A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes”.
É então que, no Espírito, quando encarnado, esta consciência preexistente de Deus o faz buscá-lo naquilo que mais lhe satisfaça os sentidos físicos. Isto fez com que, no passado, Deus fosse “adorado” na natureza, em diferentes concepções e formas. Nós já tivemos Deus para o Sol, a Luz, a Chuva, o Raio, o Trovão, o Fogo, a Água, etc.
No entanto, é necessária uma real compreensão da Lei de Adoração, pois o Deus apresentado pelos Espíritos é aquele que estabeleceu leis naturais que regem toda a estrutura de vida no Universo. Portanto, não se ocupa com oferendas, sacrifícios, promessas e templos. Não julga, não condena, não concede graça, dom ou favores. Não intercede, não aceita pedidos, não tem predileção por um povo ou raça, não protege alguém em especial, não atua através de milagres e não se prende a uma ou outra religião. Aliás, como bem afirmou Mahatma Gandhi: “Deus não tem nenhuma religião”.
Ainda neste sentido da consciência espiritual do Criador, até mesmo boa parte das pessoas que se dizem não crentes em Deus – os chamados ateus –, no seu íntimo, O buscam, porém sem aceitar os conceitos religiosos de Deus, cunhados a partir da interpretação humana de pretensos profetas. As religiões falham justamente por isso, pois, através de uma simples interpretação, Deus passou a ter sentimentos humanos e agir como humano, possuindo características de uma personalidade inconstante. Foi esta constatação que fez com que Nietzsche afirmasse que: “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança”.
Por não ser humano, Deus não prescreve comportamentos que o agradem ou desagradem, não determina um conjunto de dogmas, rituais ou regras a serem seguidas. Assim sendo, não há desobediência à sua vontade, portanto, não deveria haver o pecado e, consequentemente, nem a culpa. Deus não vigia, não fiscaliza. Não é juiz, não pune, não castiga e não determina ou executa sentenças. O Criador simplesmente permite a vida com as características próprias que nos outorgou, incluindo aí a nossa capacidade individual de raciocínio. Se Deus nos deu a oportunidade de pensar, decidir e agir, o que há de errado nisto? Será que ele errou e falhou na criação? Se falhou, então não é Deus, não é mesmo!?
Eu gosto muito de uma frase de Ramakrishna que diz: “Deus reside em todos os homens, mas nem todos os homens estão nele, por isso é que sofrem”. Esta frase me faz pensar que é justamente este o problema do ser humano: a não compreensão de que Deus estaria em nós, e não no exterior, ou seja, fora de nós. As religiões, por não compreenderem isto, criaram inúmeros rituais e fórmulas que dificultam este entendimento. Isto faz com que as pessoas mais religiosas, nos seus menores atos, demonstrem o quanto estão afastadas de Deus. São “sepulcros caiados”, conforme asseverou Jesus. Perdem-se na ritualística e nas orações decoradas e não percebem que, com isso, se deligam em espírito. Lembrando que Deus é espírito como assevera o evangelho de João (João, 4:24) que diz: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Concluindo nosso raciocínio sobre a busca de Deus, encerro este artigo lembrando a postura de Jesus que, visando desmistificar a figura do Deus guerreiro e punitivo apresentado pelos Judeus, que se deliciava com os sacrifícios e as oferendas de um povo sofrido, não se utilizou dos templos para suas prédicas. E, na maioria de seus ensinos, apresentou-nos Deus como um Pai amoroso, justo e bom, Criador e Construtor de várias moradas. Contrariando o entendimento geral à época, do temor a Deus, disse que era preciso: “Amar a Deus acima de todas as coisas, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Ame o seu próximo como a si mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a Lei e os Profetas”. (Matheus, 22:37-40)
Encerro com uma frase do cientista Louis Pasteur: “Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”
Você quer encontrar a Deus? Busque-O dentro de si!
Texto publicado originalmente na Revista Harmonia, Junho de 2021, acesse abaixo:
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