Emmanuel, mentor e amigo

Por Érika Silveira
Jornalista da Revista Cristã de Espiritismo e repórter da TV Mundo Maior

Durante os vários anos de mediunidade, Chico Xavier sempre pôde contar com a ajuda desse companheiro inseparável para ter forças e prosseguir na missão de levar a palavra espírita para toda a humanidade

Por mais de 70 anos, Chico Xavier esteve unido com Emmanuel, seu mentor espiritual, na missão de propagar os ensinamentos do Espiritismo. Com certeza, este é o relacionamento entre um encarnado e um desencarnado mais conhecido e comentado dos últimos tempos, pois é impossível para todos aqueles que acreditam e seguem a doutrina espírita imaginá-los separados. Por meio da inquestionável mediunidade psicográfica de Chico, ambos realizaram um trabalho que jamais se perderá com o tempo, tamanho o acervo de informações e conhecimentos encontrados em centenas de obras publicadas.

O mentor que acompanhou o médium mineiro desde a infância só veio a se manifestar pela primeira vez duas décadas depois, em uma das reuniões na fazenda de Dona Carmem, que ouviu nitidamente uma voz pedindo lápis e papel, pois iria ditar uma mensagem. Em seguida, esse espírito se identificou como Emmanuel e, daí em diante, ficou mais próximo do médium e companheiro inseparável.

As produções psicográficas começaram em 1927, porém, as mensagens recebidas até 1931 foram inutilizadas, atendendo a um pedido de Emmanuel, pois elas tinham o objetivo de treinar Chico. A partir de então, o mentor assumiu o encargo de orientar todas as atividades mediúnicas dele.

As encarnações passadas
Em muitas obras de Chico Xavier, os prefácios trazem palavras de Emmanuel sobre suas encarnações passadas. Porém, questionado várias vezes sobre o assunto, ele sempre preferiu não tecer maiores comentários, alegando razões particulares e relevantes.

Entre algumas de suas dissertações, encontram-se passagens de fundamental importância para a compreensão do universo de sua tarefa junto ao querido médium mineiro. No romance Há Dois Mil Anos, por exemplo, Emmanuel descreve uma de suas encarnações anteriores, quando foi o senador romano Públio Lentulus na época em que Jesus esteve na Terra. Cogita-se que Chico possa ter sido a filha dele, chamada Flávia, fato que teria constituído um forte elo de amor que perdura ainda hoje, porém, nada foi confirmado até então.

No livro 50 Anos Depois, Emmanuel se dirige mais uma vez aos leitores para relatar sua passagem no plano terrestre, desta vez como um escravo chamado Nestório. Segundo ele, a finalidade dessa reencarnação, ocorrida cinqüenta anos depois do desencarne do senador romano, era a de reparar erros do passado. Ele prossegue nos relatos sobre suas vidas anteriores no romance Renúncia, quando diz que esteve encarnado como padre Daminiano, vigário da igreja de São Vicente, na cidade espanhola de Ávila.

Há indícios também de que Emmanuel teria sido o padre Manoel da Nóbrega, famoso catequisador do início da colonização brasileira e um dos fundadores da cidade de São Paulo (SP). No livro Amor e Sabedoria de Emmanuel, do professor Clóvis Tavares, encontra-se o seguinte comentário: "Completam-se, assim, neste 1970, quatrocentos anos de Nóbrega (Padre Manoel da Nóbrega) e quarenta anos de Emmanuel, nesse apostolado espiritual de oferecer um novo sentido da vida aos filhos da Terra".

Enfim, durante todo esse tempo de trabalho conjunto, um vivendo no plano terrestre e o outro no mundo dos espíritos, muito se questionou sobre a identidade do passado encoberta pela sabedoria divina. A dúvida permanece sem respostas concretas, mas será que tal questão possui maior importância do que todo o bem que os dois fizeram pela humanidade? Basta analisarmos o conteúdo das obras e, principalmente, o grande exemplo de renúncia dedicados em favor do bem comum para que a resposta não demore a aparecer.

Amor e respeito
Sob uma humildade exemplar, Chico Xavier sempre demonstrou claramente o seu grande amor e, sobretudo, respeito por todo conhecimento existente em seu mentor espiritual. O livro Emmanuel – Dissertações mediúnicas sobre importantes questões que preocupam a humanidade, traz um comentário de Chico no qual ele descreve como foi que todo o trabalho começou, deixando clara sua gratidão pelo amigo e mentor. Veja:

"Lembro-me de que, em 1931, em uma de nossas reuniões habituais, vi ao meu lado, pela primeira vez, o bondoso espírito Emmanuel. Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico recebido através de minhas humildes faculdades (Parnaso de Além-Túmulo) e experimentava os sintomas de grave moléstia dos olhos.
Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença. Mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim dentro de reflexos luminosos em forma de cruz. Às minhas perguntas naturais respondeu o bondoso guia:

– Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos espíritos se encontram unidos pelos laços mais santos da vida e o sentimento afetivo que me impele para o teu coração tem suas raízes na noite profunda dos séculos.

Essa afirmativa foi, para mim, um imenso consolo e, desde essa época, sinto constantemente a presença desse amigo invisível que, dirigindo as minhas atividades mediúnicas, está sempre ao nosso lado em todas as horas difíceis, ajudando-nos a raciocinar melhor no caminho da existência terrestre.

A sua promessa de colaborar na difusão da consoladora doutrina dos espíritos tem sido cumprida integralmente. Desde 1933, Emmanuel tem produzido, por meu intermédio, as mais variadas páginas sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades nossos para se pronunciar sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o mais alto grau de tolerância, afabilidade e doçura, sempre tratando todos os problemas com o maior respeito pela liberdade e pelas idéias dos outros. Convidado a se identificar várias vezes, esquivou-se delicadamente, alegando razões particulares e respeitáveis, afirmando, porém, ter sido, em sua última passagem pelo planeta, padre católico desencarnado no Brasil.

Levando suas dissertações, de fato, Emmanuel, em todas as circunstâncias, tem dado a quantos o procuram o testemunho de grande experiência e cultura. Para mim, tem sido ele de incansável dedicação. Junto do espírito bondoso daquela que foi minha mãe na Terra, sua assistência tem sido um apoio para o meu coração nas lutas penosas de cada dia. Muitas vezes, quando me coloco em relação com as lembranças de minhas vidas passadas e quando sensações angustiosas me prendem o coração, sinto sua palavra amiga e confortadora. Emmanuel me leva, então, às eras mortas e me explica os grandes e pequenos porquês das atribulações de cada instante. Recebo invariavelmente, com sua assistência, um conforto indescritível e é assim que renovo minhas energias para a tarefa espinhosa da mediunidade, na qual somos ainda tão incompreendidos.

Alguns amigos, considerando o caráter de simplicidade dos trabalhos de Emmanuel, esforçaram-se para que este volume despretensioso surgisse no campo da publicidade. Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência. Apenas me cumpria o dever de prestar, ao generoso guia dos nossos trabalhos, a homenagem do meu reconhecimento com a expressão da verdade pura, pedindo a Deus que o auxilie cada vez mais, multiplicando suas possibilidades no mundo espiritual e lhe derramando, na alma fraterna e generosa, as luzes benditas de seu infinito amor".

Compromisso com o trabalho
Embora o carinho e o respeito tenham sido duas constantes em ambas as partes, Emmanuel sempre teve como característica, de acordo com relatos do próprio Chico, manter o compromisso com a tarefa designada, independentemente do sacrifício que fosse necessário para tanto. Prova disso foram as respostas dadas às indagações do médium, quando dizia que se ele, Chico, quisesse mesmo desempenhar o trabalho mediúnico, deveria respeitar três pontos básicos: "disciplina, disciplina e disciplina". Disse-lhe ainda que pretendia trabalhar por longo tempo ao seu lado, mas que Chico deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus Cristo e Allan Kardec.

Por fim, alertou que, se algum dia, ele aconselhasse algo fora das palavras destes dois mestres, que o médium ficasse com eles e o esquecesse.

Também em trechos extraídos de declarações dadas por Chico Xavier, é possível conferir as repreensões feitas pelo amigo e mentor espiritual quando o médium, em alguns momentos, caía em tristeza ou lamúrias. Emmanuel dizia que ele não deveria colocar seus problemas pessoais acima do trabalho e Chico assim o fez. Enfrentou diversos obstáculos, causados por dificuldades físicas, para levar luz, paz e conhecimento para toda a humanidade, sempre amparado e pela grande sabedoria e amor de Emmanuel, seu inseparável companheiro de jornada.

O artigo e a imagem foram publicados na Revista Cristã de Espiritismo, edição especial 05.
Ao usar o texto, favor citar o autor e a fonte.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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