“Aprender a divergir sem nos amar menos por conta dessas posições.”

Uma entrevista franca com o dirigente e jornalista Juvan Neto sobre comunicação e movimento espiritas.

Entrevista a Manoel Fernandes Neto
Fotos: Toni Almeida

A voz e a atuação de Juvan Neto são necessárias, como de tantos outros dirigentes e comunicadores espíritas espalhados pelo Brasil, que disseminam a doutrina, o pensamento de Allan Kardec e de tantos continuadores, atuais e passados.

Uma voz que reflete um trabalho de quase 30 anos, em que Juvan não se acomodou em posturas convenientes; pelo contrário, colocou a face para a conversa construtiva, amável e gentil: ele busca um espiritismo verdadeiro e um movimento com olhar no futuro.

Faz Internet, jornal e rádio, organiza eventos, já disparou newsletter, sobe até hoje em púlpitos para palestras e organiza o Natal de crianças carentes. A batalha é incessante na busca pelos recursos para tornar real a construção de pontes para todos lados, dentro e fora do movimento espírita.

Juvan conhece a comunicação espírita no Brasil como poucos. Jornalista de formação, ele é criador de uma das publicações espíritas mais tradicionais no Brasil, o Jornal Espaço Espírita, que circulava até 4 anos atrás em Santa Catarina. “Hoje, estamos no site espacoespirita.com.br, sempre com atualizações, mas ainda queremos voltar ao impresso. É um dos objetivos para esse ou para o ano que vem.”

Trabalhador espírita atuante em casas espíritas, hoje trabalha na segunda da sua vida, fundada por ele mesmo e outros confrades há cerca de três anos em Barra Velha, litoral norte de Santa Catarina. “Quase três anos depois, as dificuldades são grandes. Tarefeiros poucos, mas dedicados; um bairro de perfil socioeconômico diferente de onde estava a casa que atuávamos anteriormente. Mas avançamos.”

A Casa mantém uma atuação de destaque na internet em várias plataformas de divulgação. “Hoje, temos, então, na Rede Espaço Espírita, uma fanpage com 8.000 seguidores; a Rádio Espaço Espírita ampliando seus ouvintes – somente em novembro último, tivemos mais de 7.000 acessos; nossa produção de banners de mensagens para sites, fanpages e whatsapp já soma mais de 1.600 layouts,” comemora Juvan.

O jornalista também quer dialogar sobre os caminhos do movimento espírita e suas incongruências, mas valoriza com ênfase seus diversos aspectos. “Creio mesmo que o trabalho das uniões regionais (UREs), capitaneado pela federativa estadual junto às juventudes espíritas, notadamente aqui em Santa Catarina, seja um dos mais importantes para o futuro do próprio movimento. As capacitações doutrinárias são importantes, a busca pela integração das casas. Fiquei 12 anos participando desse movimento federativo,” destaca Juvan Neto.

Sua voz é mansa, sensata, desprovida de arrogância mesmo nos assuntos mais espinhosos. “Precisamos amadurecer para aprender a exercer a maiêutica socrática, a dialética proposta por Herculano Pires, aprender enfim a divergir sem nos amar menos por conta dessas posições.”

Juvan sabe que o mundo mudou e o espiritismo deve ocupar seu lugar nesse mundo, em um movimento espírita que exercite a amorosidade, mas também a autocrítica e o aprimoramento constante.

Sim, a voz de Juvan Neto é necessária.

Leia abaixo a entrevista na integra: 

Você tem uma atuação intensa no jornalismo, mas também no jornalismo espirita, com a publicação que se tornou um símbolo, o Jornal Espaço Espírita. Como você vê hoje o jornalismo e a Comunicação Espirita no Brasil, internet, TV, jornais impressos?

Juvan Neto – Desde já agradecendo ao espaço cedido pelo Portal Nova Era, pelos queridos amigos da Sociedade Espírita Nova Era, casa que se constitui em mais uma luminosa célula divulgadora da mensagem do Cristianismo Redivivo em nosso Estado e País, gostaríamos de dizer que a comunicação espírita no Brasil ainda precisa avançar, tendo em mente os objetivos traçados pelo nosso Codificador, Allan Kardec, no seu “Projeto 1868”, em “Obras Póstumas”, no qual o mestre de Lyon já expressava seu desejo de estender, em larga escala, a difusão das ideias espíritas.

Imaginemos que Kardec falava isso à sua época, a qual mal conhecia a energia elétrica; defendia o Codificador uma publicação das ideias espíritas em larga escala, aproveitando-se de jornais e revistas. Hoje, 152 anos depois dessa publicação específica, chegamos à era da internet, e mais que isso, da inteligência artificial. Evidente que muito melhoramos, mas ainda a comunicação social espírita é, por vezes, colocada em plano secundário pelas casas ou mesmo organismos espíritas diversos.

 

A maioria dos centros espíritas sequer possui um modesto boletim informativo, mesmo que seja hoje na facilidade da diagramação de um boletim digital, que não exigiria, como antes, os custos de uma gráfica para vir a lume. Seria preciso conscientizar mais e mais os dirigentes sobre a importância de expandir a mensagem da Terceira Revelação adotando essas publicações – “maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita”, no dizer de Emmanuel.

Falando em momento digital, penso que os poucos veículos impressos que bravamente ainda resistem – tendo à frente os mais antigos, Reformador, Revista Internacional de Espiritismo (RIE) e jornais Mundo Espírita, Espírita Mineiro, Correio Fraterno e O Clarim – ainda possuem seu valor e seu espaço. Não devem seus idealizadores e responsáveis pensar em abandonar o formato impresso, pois toda alternativa de comunicação têm seu nicho e público específico.

Mas o fato é que a publicação digital nos chegou de forma avassaladora, e as casas e organismos espíritas deveriam então começar por ela, até pela questão dos custos.

Outro panorama a ser considerado é que a imprensa espírita ainda mantém um panorama lá do século 19, início do século 20: é uma imprensa opinativa, formada predominantemente por artigos doutrinários. Talvez pela falta de jornalistas espíritas, não se invista em jornalismo espírita propriamente dito – falo na produção de reportagens, pesquisas espíritas de cunho jornalístico mesmo. Claro que esse padrão exige mais do que a produção de um artigo informativo, por exemplo.

 

E a internet abriu o campo para a difusão doutrinária: hoje pode-se explorar não apenas o texto, mas a produção de banners digitais com mensagens espíritas, vídeos, palestras, podcasts (áudios rápidos), os quais podem ser postados e deixados à disposição seja nas redes sociais, seja em blogues, seja no YouTube ou SoundCloud. É um campo enorme a ser explorado; e a rede está aí, para também disseminar o Bem.

De nossa parte, editamos e publicamos, durante 16 anos ininterruptos, não apenas nós, mas um grupo de amigos, o jornal Espaço Espírita, que chegou a expressivos 3.500 exemplares de 16 páginas com tiragem quadrimestral, e que por bom tempo, foi o único jornal espírita impresso na imprensa espírita catarinense, lutando bravamente com certa falta de apoio e até de compreensão de parte do movimento espírita organizado.

Hoje, o Espaço Espírita está apenas no site, atualizado regularmente pelo nosso confrade Dorival Strelow, dentro da Rede Espaço Espírita, que é nossa plataforma digital de divulgação doutrinária. Mas ainda pretendemos retomar a publicação impressa, que somente teve essa pausa nos últimos quatro anos por conta de um período de estudos que eu iniciei, e me impossibilitou de destinar maior à publicação.

– Você acha que a comunicação espirita atual procura falar com vários públicos, ou somente para quem é espirita? Comente.

Juvan Neto – Ela deveria, por bem, falar com vários públicos, mas por vezes, não fala. Ainda há, nesses veículos impressos já citados, textos rebuscados, pesados, mais complexos, que, claro, cumprem sua função, mas sentimos falta de canais de internet ou mesmo imprensa convencional, impressa, específicos para iniciantes da doutrina, para o diálogo com jovens, com a Melhor Idade, com portadores de necessidades especiais. Linguagens mais adequadas. Como falamos acima, as casas espíritas deveriam estimular a criação desses canais de comunicação, de departamentos de divulgação, pois é uma seara ainda vasta para ser trabalhada.

A Rádio Boa Nova e a Rede Mundo Maior, de Guarulhos, SP, emissoras das Casas André Luiz, é que talvez no Brasil tenham uma diversificação temática, mas infelizmente, também sofrem com falta de apoio para sua divulgação. A Rádio Rio de Janeiro, da Fundação Paulo de Tarso, a Funtarso, em terras cariocas e hoje na internet, também fala com diversos públicos. Mas no restante do País, os canais de YouTube, webrádios, sites, blogues e jornais e revistas ainda impressos que ainda resistem possuem alcance bem menor.

– Fale-nos um pouco do Jornal Espaço Espirita na internet e também a Radio Espaço Espirita. Quais são os desafios e as conquistas.

Juvan Neto – Então, o jornal Espaço Espírita foi uma iniciativa de um grupo de irmãos espíritas entre as cidades de Balneário Piçarras, Penha e Barra Velha, lá no ano 2000 – Paulo Pires, Paulo Beduschi, Luiz Garcia, Juvan Neto e saudoso Joaquim Ladislau Pires Júnior. O jornal nasceu, foi evoluindo de 8 para 16 páginas, de 1.000 para 3.500 exemplares, e marcou esse período. Agregou muitos articulistas catarinenses, como Ricardo Di Bernardi, Jouglas Lafitte, Evaldo Nogueira, Éder Fávaro, Luiz Miiler, Cida Massucatti, Lúcia Helena Purper, Gerson Tavares, e tantos outros. Hoje estamos no site espacoespirita.com.br, sempre com atualizações, mas ainda queremos voltar ao impresso. É um dos objetivos para esse ou para o ano que vem.

Simultaneamente, anos depois, em Barra Velha, outro confrade, o Dorival Strelow, começou a filmar palestras na casa em que atuávamos como tarefeiros, o Centro Espírita Jesus de Nazaré, uma casa importante que serviu, serve e ainda servirá muito aos propósitos do Cristo; a ideia inicial era filmar e em seguida, converter as palestras da casa em DVDs. Mas sentimos que a resposta do YouTube era muito melhor. Mais tarde, em 2016, nos desligamos da casa; Dorival já interagia comigo na intenção de ampliar esse leque, e idealizou a webrádio Espaço Espírita.

Seja por inspiração ou não, sentimos que essa lacuna digital trazia respostas muito boas do público. O Dorival então custeou e colocou no ar a emissora; junto disso, criou a Rede Espaço Espírita, fanpage de Facebook, para divulgar a emissora e os banners espíritas que eu passei a diagramar.

Creio que o apoio da Espiritualidade Amiga foi decisivo; sem eles, nada poderíamos fazer. Quando menos esperávamos, estávamos com várias plataformas no ar, e como disse, tendo respostas muito boas. Em 2017, criamos em Barra Velha a Comunhão Espírita Elo de Amor, segunda casa doutrinária da cidade; e então, enfeixamos essas plataformas todas no Departamento de Divulgação Doutrinária dessa casa.

 

Hoje temos então, na Rede Espaço Espírita, uma fanpage com 8.000 seguidores; a Rádio Espaço Espírita ampliando seus ouvintes – somente em novembro último, tivemos mais de 7.000 acessos; nossa produção de banners de mensagens para sites, fanpages e whatsapp já soma mais de 1.600 layouts, reproduzidos por várias casas ou organismos, como o Projeto Saber e Mudar, do ator espírita Fernando Peron, de SP, a Federação Espírita Catarinense (FEC), o Coletivo de Estudos Espiritismo e Justiça Social (CEJUS), várias casas e também comemorativos aos 50 anos de mediunidade de Carlos Baccelli, em Uberaba, MG, entre outros. Lançamos a fanpage da casa, já com quase mil seguidores.

Junto disso, Dorival vem aprimorando a emissora, que se prepara para ter programas próprios, desenvolveu nova home-page para a rádio, implantou o canal TV Espaço Espírita no YouTube, hoje já com mais de uma dezena de palestras à disposição do internauta, e estamos gestando ainda nossos Twitter e Instagram. Vamos seguindo, com confiança na Espiritualidade, para que possamos avançar sempre com discrição, sem qualquer pretensão de superioridade ou valor pessoal, entendendo que a Rede Espaço Espírita, vinculada hoje então à Comunhão Elo de Amor, é um projeto não nosso, mas da Espiritualidade.

– Hoje existe uma polarização de visões entre algumas vozes do movimento espirita brasileiro, no que diz respeito a posicionamentos sociais e políticos, mas também em relação à própria doutrina. Como você vê isso?

Juvan Neto – Vejo com absoluta naturalidade. O Espiritismo, na condição de Ciência, Filosofia e Religião, ou Moral de consequência religiosa, como alguns assim o entendem, é uma doutrina livre, e de livre apreciação. Chico Xavier dizia que o Espiritismo não tinha chefes, e veio para o povo, e para com o povo dialogar. Não temos representantes máximos. Evidente, que há organismos nobres que falam pelo movimento, mas não necessariamente, pela Doutrina. Eles têm liberdade para fazê-lo.

Outro dia, lendo um artigo de um sociólogo espírita de Goiânia, Goiás, que aprendi a admirar muito, o confrade Elias Moraes, no seu blogue “Fronteiras do Pensamento e da Atuação Espírita”, ele mostrou como deveria se portar a proposta de união dos espíritas dentro dessa diversidade de visões existente. E concordei integralmente com ele. Deveríamos nos unir pelos nossos pressupostos básicos, mas infelizmente, nos dividimos por entendimentos secundários. Isso é limitador, é complicador e chega a desperdiçar talentos e valores doutrinários vários.

 

Na nossa experiência de divulgação doutrinária, senti e ainda sinto, ao longo dos anos, que esses entendimentos secundários que nos dividem é que justamente prejudicaram ou pelo menos limitaram um apoio maior, seja ao jornal Espaço Espírita, nossa iniciativa primeira nesse campo, seja para a Rede Espaço Espírita.

Poderíamos crescer muito mais, se nos uníssemos verdadeiramente em torno, primeiro, do Evangelho e dos nossos postulados básicos, e creio mesmo ser esse o entendimento de Bezerra de Menezes e do próprio Chico Xavier. Mas o fato é que há organismos que engessam a expansão doutrinária. Talvez não o façam por mal, mas por um excesso de zelo que por vezes, não se justifica.

Há um segmento de espíritas no movimento que é mais religioso? Há, sempre houve. Certa vez, a pesquisadora Cida Massucatti, de Joinville, mostrou no jornal Espaço Espírita que o debate ente científicos e “místicos” (ou religiosos) vem de longe na história do movimento, lá do século 19. Bem, então, há quem ainda resiste a libertar-se de ideias errôneas como as de Jean Batiste Roustaing; que ainda pensam que são necessários porta-vozes ou algo do gênero. Mas tem muita gente boa e devotada nesse segmento, aliás, em todas as outras tendências de nosso movimento também. E então, há outro segmento mais ligado à mensagem de renúncia de Chico Xavier? Também há. E há ainda setores mais ligados a Kardec, às suas propostas progressistas, filosóficas, não necessariamente religiosas. O que fazer então? Como unir essas “correntes” de entendimento doutrinário?

 

Ora, se temos então “a turma do Divaldo”; a “turma do Chico”, a “turma do Armond”, a “turma da CEPA”, a “turma da FEAL”, a “turma da Concafras”, a “turma da FEESP” e, mais recentemente, duas outras turmas, a dos “conservadores” e “dos herculanistas progressistas”, qual é a dificuldade de um dia, juntar todo mundo em torno de uma mesa, fazer uma prece sincera e propor que nos unamos então pelos nossos postulados básicos, e não mais nos dividirmos por visões secundárias? É tão difícil cada um abrir mão um pouquinho de suas limitações ou condicionamentos interpretativos (leia-se, do seu orgulho) e finalmente, chegamos a um consenso? São respostas que ainda não consegui encontrar, e olha, estou há 30 anos no movimento espírita. Percebo porém que aí há muito de nosso orgulho falando mais alto. O Espiritismo que vale, ou o modo de “fazer Espiritismo” que vale parecer ser “o meu”; e o dos outros então estaria completamente errado. Será que é esse o caminho que devemos seguir?

– O movimento federativo. Como você vê a atuação das Federativas?

Juvan Neto – O movimento federativo está dentro dessa dinâmica que ainda prioriza nossa prática pela ótica religiosa, e num primeiro momento, não deveria haver problema maior nesse aspecto. Tem muita gente devotada, irmãos de ideal realmente direcionados a esse desiderato de União e Unificação; eventos doutrinários inspirados, importantes. Creio mesmo que o trabalho das uniões regionais (UREs), capitaneado pela federativa estadual junto às juventudes espíritas, notadamente aqui em Santa Catarina, seja um dos mais importantes para o futuro do próprio movimento. As capacitações doutrinárias são importantes, a busca pela integração das casas. Fiquei 12 anos participando desse movimento federativo.

Mas ali surgiram também os vícios próprios da imperfeição humana: vaidade, personalismo, tentação de manter o comando, de fazer prevalecer sua visão de Espiritismo – e isso é complicado até para eu apontar, entende? E não que essas imperfeições não aconteçam também nas demais correntes doutrinárias do movimento; não que isso não aconteça comigo mesmo, sabe? Mas o fato é que não há uma autocrítica, e quando tenta se esboçar uma, olham para gente como se estivéssemos “obsediados”.

A gente então se depara, no movimento federado, com reuniões extensas, profundamente burocráticas; com discussões documentais arrastadas; por vezes, não encontra espaço para vozes dissonantes e parece não haver espaço para outra matriz de entendimento que não seja a dos líderes. Isso que é complicado; isso que Kardec justamente não queria.

 

Onde está, por exemplo, o posicionamento, seja das federativas estaduais, seja da FEB, contrária ao aumento dos atos de invasão e destruição de terreiros de crenças de matriz africana, que sofreu uma escalada no Brasil nos últimos anos? Vão esperar nossas casas espíritas também serem alvos da intolerância? Onde está a posição contra o discurso de lideranças políticas brasileiras favoráveis à tortura, à pena de morte, à ditadura? Não entendo, porque quando uma liderança política se manifesta favorável ao aborto, lá está a FEB lançando nota contrária – e, claro, todos somos contrários ao aborto, está certa a federativa quando se posiciona; mas porque a medida não é a mesma quando se exalta um notório torturador em pleno Congresso Nacional?

 

Outras situações complicadas são o veto de determinados livros, por exemplo. Evidente que um livro mistificado ou suspeito não deva estar lá na biblioteca da casa, mas ele deve estar na casa espírita, até para que sua análise possa ser feita. E surgem então há registros de proibição de livros; até de livros destruídos… claro, por vezes, não é uma diretriz da federativa, mas é ação subliminarmente estimulada por alguns dentro dela; e isso é um acinte ao pensamento do próprio Codificador, que mandava lermos e estudarmos de tudo!

Outro acinte: os congressos espíritas pagos, que se multiplicam no País, em espaços “gourmet”, apenas para espíritas de melhores condições financeiras. Qual a base doutrinária disso? Entendo que até podemos nos cotizar ali, com 30, 40 reais, para custear um evento; podemos chegar num meio termo; mas eventos a 300, 400 reais a entrada, mais 160 reais por cada criança participante, mais 160 reais por oficinas; eventos até em resorts.

 

E todo mundo em silêncio, afrontando não apenas Kardec, quando ele estabelece a necessidade de gratuidade para os dons do Evangelho, mas usando sofismas perigosos, como “ah, todo evento tem custo”; “ah, pode ver pela internet” (que cria então o espírita de segunda classe). Aí a mesma federativa que silencia nesse caso é que a veta livros de médiuns que vendem “cursos de mediunidade” a 600 reais no “Black Friday Espírita”, ou que assina mensagem de “mentor” contra um “determinado partido político”, mas não vê a corrupção dos demais. Complicado isso, porque o evento pago abre a porta para toda uma gama de desvirtuamentos, dos quais, Chico, profeticamente, alertou no final dos anos 70, início dos 80, e está devidamente registrado em várias obras: a ameaça de elitização do movimento espírita.

No mais, soube eu ano passado que agora, algumas uniões regionais, ou UREs, estão orientando as casas a chamar somente palestrantes de outras casas federadas para a exposição doutrinária. Questionei um dirigente, ano passado também, e ele falou que “não é censura, mas é orientação”. E qual a linha divisória entre a “orientação” e a censura? Onde eles inventam essas coisas? Eu mesmo conheço na região de Joinville, uma dezena de palestrantes de casas não filiadas que são ótimos, corretos, responsáveis, sempre com lindas e inspiradoras mensagens; vamos então censurá-los previamente? E quem disse que o palestrante de uma casa federada não possa, numa exposição, dar uma boa derrapada também? Se fosse seguir isso ao pé da letra, e Chico encarnado estivesse, então Chico não poderia palestrar nas casas filiadas, pois seu inolvidável Grupo da Prece não era filiado a organismo nenhum!

Perdoem-me os internautas e leitores da Nova Era, mas são esses temas espinhosos que deveriam estar nos fóruns de discussão espíritas nas federativas e suas uniões regionais. E não estão. Precisamos amadurecer para aprender a exercer a maiêutica socrática, a dialética proposta por Herculano Pires, aprender enfim a divergir sem nos amar menos por conta dessas posições.

– Você utiliza muito o Whatsapp para disseminação de conteúdos. Pode falar um pouco sobre essa rede…

Juvan Neto – O Whatsapp é um campo de difusão doutrinária excepcional. Participar de grupos, tirar dúvidas, esclarecer irmãos sofredores, fazer novas amizades, ele possibilita tudo isso. Recentemente, fiz amizade com dona Hilda Tavares, viúva do saudoso Clóvis Tavares, de Campos, RJ, biógrafo, família amiga do Chico idealizadora da Escola Jesus Cristo. Até hoje converso muito com ela e com o próprio Flávio, filho dela e Clóvis. E a conheci num fórum de Whatsapp.

Algumas dicas para essa rede social: poste mais links e anexe menos áudios e vídeos, pois eles entopem a memória do aparelho. Ao postar os links de vídeos, elabore um pequeno texto informativo sobre seu conteúdo, ajuda a despertar o interesse pelo conteúdo; opte pelos banners de frases doutrinárias e esqueça – eu digo mesmo, esqueça (risos!) os banners de “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”. São até gentis, fofinhos, mas entopem o celular, como eu disse, e não agregam conhecimento ou reflexão doutrinária.

– Você agora também participou da fundação e dirige uma casa espirita: a Comunhão Espírita Elo de Amor • CEELO, em Barra Velha, litoral norte de Santa Catarina. Como está sendo a experiência? Conte um pouco pra gente essa historia e como está hoje.

Juvan Neto – Bem, se você hoje perguntar para mim o que é mais difícil – gerir uma casa espírita ou fundar uma delas, digo com certeza: fundar não é fácil (risos). Após 26 anos numa mesma instituição doutrinária, optamos por novos rumos. Nossa cidade, com pouco mais de 30 mil habitantes, só tinha um centro espírita. Optamos pela criação da CEELO, com um detalhe interessante, que demonstra a, de nossa parte imerecida, assistência dos Amigos Espirituais: escolhemos uma casa para locar, após mais de 10 ou 12 opções, num morro, área relativamente carente de nossa cidade.

Tentamos fechar o contrato de aluguel numa quinta-feira, isso em 2017; o proprietário não pôde vir, pois morava em outra cidade. Depois, marcamos para a segunda-feira seguinte; era feriado. Marcamos novamente para a terça-feira seguinte e aí deu certo. Locamos o imóvel, com o apoio do irmão Dorival Strelow. Só depois vimos a data: 18 de abril de 2017, aniversário de O Livro dos Espíritos. Nossa surpresa foi geral, pois não tínhamos programado – a Espiritualidade é que sabe das coisas.

Também nessa casa recebemos relatos pela vidência de uma frequentadora (católica, por sinal, mas médium) acerca de uma entidade espiritual que ora à moda dos irmãos pentecostais; esse espírito, de apresentação feminina, chega, se prostra com a cabeça na cadeira do miniauditório e ali ora, junto da palestra. Uma narrativa muito bonita. E em março do ano passado, num seminário de Fábio Dionisi, escritor do interior de São Paulo, sobre a vida de Irmã Scheilla, tivemos um fenômeno de odor de flores, de lavanda, proporcionado por Scheilla e presenciado por 29 pessoas. Talvez tenha sido o momento mais belo da casa!

 

Quase três anos depois, as dificuldades são grandes. Tarefeiros poucos, mas dedicados; um bairro de perfil socioeconômico diferente de onde estava a casa que atuávamos anteriormente. Mas avançamos.

Estamos hoje com dois horários presenciais. As palestras doutrinárias na segunda-feira às 20h, seguida de aplicação de passes, água fluidificada, conversa fraterna, brechó comunitário. Na quinta à tarde, 15h, todas essas atividades menos a palestra. Nosso horário de estudos de O Livro dos Espíritos passará para um dia da semana, nos próximos meses, e queremos ainda implantar o Estudo da Mediunidade; reforçamos então as plataformas digitais, agregando-as então sob a Rede Espaço Espírita.

Em termos presenciais, nosso público ainda é pequeno. Nosso miniauditório comporta 30 pessoas, é um bom tamanho, mas registra média de 12 a 15 pessoas pro palestra. Há oscilação de público, mas isso toda casa espírita enfrenta, junto dos problemas de sempre: estrutura, recursos financeiros, burocracias administrativas, etc. etc.. Lembramos de Chico, quando Adelino da Silveira, de Mirassol, interior de SP, reclamou a ele o pequeno número de tarefeiros para condução de sua casa espírita, dizendo que se tivesse “uns nove” já ajudava. E Chico então soltou aos que ouviram o relato de Adelino: “Irmãos, para mudar o mundo Jesus contou com 12 abnegados; nosso Adelino quer nove apenas para Mirassol!”. Claro que o Chico arrancou gargalhadas – e nos deu preciosa lição de que precisamos dar tempo ao tempo e entender que é preciso o trabalho de formiguinha. Acho que hoje, a Comunhão já passou de nove tarefeiros fixos, superamos então a experiência do Adelino em Mirassol (risos).

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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