Espiritismo – A Perseguição Continua Implacável

Cabe ao espírita manter a serenidade e prosseguir amando e servindo a todos.

Por Josué Portella Gamborgi

Esquematicamente, pode dizer-se que a religião decorre da primeira fase histórica do processo de conhecimento. É verdade que o contato com os Espíritos deu-se desde a aurora da humanidade, para mostrar-lhe a realidade interexistencial em que vive.

No dia 09 de outubro de 1861, o bispo de barcelona, a quem competia o exercício da polícia de livraria, ordenou a apreensão e queima em praça pública de um volume aproximado de 300 livros.
Tratava-se de exemplares de O livro dos espíritos, de o livro dos mé-diuns, de coleções da revista espírita, entre outras obras espíritas, que allan Kardec remeteu de paris, a pedido do sr. lachâtre.

Allan Kardec, fustigado por uma saraivada de ataques desferidos pelos inimigos do espiritismo, obtemperou com magistral lucidez:
“(…) a violência é o argumento daqueles que não têm boas razões.
Se o espiritismo é uma quimera, ele cairá por si mesmo, sem que para isso se esforcem tanto; (…)”
(Kardec, allan. O que é o espiritismo. 55. ed. rio de Janeiro : federação espírita brasileira, 2009, p. 135).

Passados mais de 150 anos do episódio que se notabilizou como o auto de fé de barcelona, os espíritas são alvo de manifesto
preconceito daqueles grupos que, de modo intransigente, arvoram-se como os únicos detentores da razão. levada ao extremo, a diferença de crença religiosa tem o condão de decretar: aquele que não comunga da minha fé é meu inimigo!

Examine-se o recente fato divulgado pela mídia, ocorrida com algumas personalidades artísticas do brasil que passaram a alvo de
comentários hostis disparados por seguidores de dada religião, tão somente por se declararem espíritas.
Após ter assumido o credo espírita, atribuíram o fracasso do casamento do galã de novelas à religião eleita por ele. Quanto à cantora de sucesso nacional, bastou que se declarasse espírita para que seu talento musical fosse esquecido e iniciado contra ela um movimento de retaliação nas redes sociais.

Causa espanto à população espírita a insistência de certos grupos religiosos em vincular o espiritismo a algo “do Diabo” – figura tão presente no imaginário de dadas religiões e, por outro lado, solenemente desprezado pelas obras da codificação espírita.

Ora, se o espiritismo tem por fundamento moral o evangelho de Jesus, e, se a doutrina dos espíritos move-se pela restauração do cristianismo primitivo vivido em sua pureza e simplicidade, não há raciocínio respeitável que possa admitir a presença de algo satânico no seio do espiritismo. pensar o contrário seria admitir que o “anjo caído” (ou qualquer outro nome que se lhe atribua) trabalha em prol do reino de deus proposto pelo cristo (?)

Assim como sucedeu no alvorecer da doutrina espírita, inaugurada com a publicação do livro dos espíritos, na frança de 1857, ainda hoje o espiritismo é alvejado por opositores que sequer conhecem–lhe o conteúdo. divorcia-se da lógica e do razoável o exercício da crítica ferina, revestida de opróbrios e humilhações, em desfavor de algo que se não conhece.

A palavra religião pretende descrever a relação entre o ser humano e deus. mas, constituindo-se em doutrinas ou sistemas fechados, a religião aspira regulamentar essa relação, em regime de subordinação e, assim, castrando a liberdade de consciência. etimologicamente, supõe-se tenha origem, alternativamente, em três palavras latinas: religio, como culto, receio ou escrúpulo; religare, no sentido de estar unido ou atado, e relegere, significando escolha cuidadosa.

Contemporaneamente, ainda que entenda que o próprio ser humano é responsável pela construção do seu destino, não vejo como, em termos coletivos, descartar-se a religião formal. menos mal, o controle social que exerce com o seu moralismo doutrinário, enquanto não se propiciam os reflexos de uma educação para o desenvolvimento livre da consciência.
Urge, todavia, fazê-la refluir à espiritualidade, seu berço performático, em uma perspectiva dialógica. É nossa natureza espiritual, independente da matéria, que nos faz à imagem e semelhança de deus.

Fonte: FEC – O Federativo

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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