Espiritismo com talento, humor e muito riso

Entrevista com o ator, diretor e roteirista, Fábio de Luca, do grupo Amigos da Luz

 

Por Eliana Haddad, do Correio News

Ator, diretor e roteirista, Fábio de Luca vem ganhando grande notoriedade fazendo humor com a temática espírita através da mídia digital, pelo YouTube. Iniciado em 2015, o canal Amigos da Luz conta com a participação de pelos menos cinco artistas e já soma mais de 300 mil inscritos, 28 milhões de visualizações e acesso em mais de 80 países. Responsável pelos roteiros e direção de vídeos do canal, Fábio tem mostrado com o canal e também em peças teatrais que é possível tratar de espiritismo com humor sem se desviar da profundidade que o tema exige. Acompanhe a entrevista.

Como surgiu o grupo Amigos da Luz? Por que “Luz”?

No início do grupo, os componentes moravam em sua maioria na cidade de Nova Iguaçu, RJ, terra onde viveu o saudoso professor Leopoldo Machado, grande personalidade do movimento espírita. E nos reuníamos para os ensaios na casa do Fábio Oliviere, no bairro da Luz. O nome Amigos da Luz, embora pareça algo meio transcendental, surgiu por causa do nome do bairro mesmo. Com exceção da Carla Guapyassu (que conheci mais tarde quando foi minha professora de voz da Faculdade de Artes Cênicas) e o Ewerton Oliveira (fã do Canal que se aproximou oferecendo ajuda na produção), todos já nos conhecíamos de trabalhos que havíamos realizado juntos no teatro, até então nenhum com temática espírita. Mas eu, Fábio Oliviere, Alex Moczydlower e Sidney Grillo tínhamos em comum a simpatia pelo espiritismo e resolvemos nos juntar para montar uma peça inspirada na doutrina. Foi quando em 2008 surgiu a comédia Morrendo e aprendendo. Os demais integrantes foram se aproximando em outras peças que montamos, seguindo essa mesma linha de humor e espiritismo, até que fundamos o canal do Youtube em 2015.

 É dirigido a que público?

Nós pensamos em vídeos que atraiam principalmente o público que ainda não conhece a doutrina espírita, para que através do humor possam assimilar algum ponto importante da Codificação e se interessem em aprofundar mais o conhecimento no espiritismo.

Qual o segredo do humor para fixar conceitos importantes sobre o espiritismo? 

Escolhemos o humor como gênero da maioria dos vídeos porque a comédia é muito eficiente em aproximar da gente, do nosso cotidiano, assuntos que a primeira vista parecem complexos e distantes. O espiritismo nos traz verdadeiros tesouros que, infelizmente, muitas vezes deixamos só na teoria. E o humor sadio, ao utilizar o exagero como elemento de comicidade, sublinha nossos defeitos e abre assim a possibilidade da reflexão sobre como o conhecimento espírita pode nos ajudar a lidar com eles na prática.

Acredita que a linguagem para divulgar o espiritismo precisa se ajustar aos novos tempos?

Nesse período de transição que vivemos no planeta, em que as instituições, os valores, a própria noção de autoridade, tudo parece desmoronar, não dá pra manter a mesma fórmula de comunicação de antes ao abordar o espiritismo. Diante do universo que a internet descortinou nas telinhas e telonas de todo mundo, somos desafiados a ser bem mais criativos, ou passamos pela timeline completamente despercebidos. Mas essa criatividade não pode descambar para banalização; tem que ser divertido e instrutivo. Então, ao tentar inovar na comunicação espírita podemos tudo, desde que não percamos de vista o compromisso com as bases da doutrina.

Vocês enfrentam críticas, preconceitos, no trabalho que realizam com os vídeos sobre assuntos tão diversos?

A receptividade do público espírita com os vídeos sempre foi muito boa, desde o início. A maior parte aprova, ri conosco das nossas próprias mazelas, que servem de tema para os vídeos, refletem junto. A maioria, quando vê algum equívoco em nosso trabalho, nos traz seu ponto de vista com muito respeito, comentando na página do vídeo ou por outro meio, sempre enriquecendo o debate que cada peça ou vídeo pretende causar. Claro, também já ouvimos coisas como “com espiritismo não se brinca”, “vocês são oportunistas”, “Kardec está se revirando no túmulo por causa de vocês” (se Kardec que é Kardec estiver preso ao túmulo o que será de nós!). Mas quem pensa assim é uma parcela muito pequena do público. Estamos abertos a críticas que nos ajudam a melhorar, estimulamos nosso público a nos alertar, caso desviemos da rota, mas diante de pensamentos daquele tipo apenas deixamos pra lá. Afinal, não dá pra agradar todo mundo.

Vocês têm apoio financeiro de espíritas? 

O único apoio que temos é do público, quando nos prestigiam nas apresentações teatrais que fazemos, de onde vem os recursos financeiros para todas as produções (teatro e audiovisual). Nessa época de quarentena abrimos em nosso site a possibilidade do público nos apoiar financeiramente e a galera tem chegado junto, já que todas as apresentações de teatro foram canceladas este ano (2020).

Como o público pode apoiar esse projeto?

Acessando nosso site www.amigosdaluz.com/apoio. Tem várias opções de apoio financeiro, mas o mais importante é continuar assistindo aos vídeos, curtindo, comentando e compartilhando nosso conteúdo, para que chegue cada vez em mais pessoas!

Como conciliar a “seriedade” dos espíritas com a licença poética do humor?

Uma coisa não exclui a outra. O contrário de seriedade não é sisudez, mas falta de compromisso.

Qual o papel do humor em tempos de desafios, crises, pandemia? 

Acreditamos que quando rimos dos nossos monstros, eles perdem as forças, se tornam menores.

Como surgem as ideias, a criação? Os textos são seus?

Fazemos esporadicamente uma reunião de roteiro onde alguns integrantes dão sugestão de um tema, de uma piada, de algum fato que aconteceu consigo ou presenciou. A partir daí eu escrevo. Temos algumas colaborações de roteiro, mas sempre quem faz a redação final sou eu.

Todos da equipe são espíritas?

Não, mas todos acreditam em reencarnação e são ligados de alguma forma à espiritualidade. A Sônia, por exemplo, curte uma parada mais oriental, budismo e etc. A Loeni, um lado mais exotérico. O barato de termos uma diversidade de filosofias juntas é que temos vários olhares diante de um mesmo assunto.

Qual o grande aprendizado para vocês nesses projetos, com relação ao espiritismo e à própria arte da criação?

Cada vídeo ou peça de teatro quem lê, relê, decora primeiro somos nós mesmos. Acreditamos que cada mensagem que tentamos passar deve atingir a nós mesmos primeiro, e é nosso compromisso praticar. Isso acontece sempre? Claro que não! (risos)

Qual a relação do grupo com o escritor e educador espírita Leopoldo Machado?

Uma inspiração. Fui aluno do Colégio Leopoldo, em Nova Iguaçu, e por lá eu iniciei minha carreira artística. Apesar de ser um colégio bem tradicional, éramos incentivados à arte por todas as disciplinas. Já bati altos papos com um busto dele que tem lá, Acho que começou aí nossa parceria.

Como tem sido a experiência com as lives sobre O livro dos espíritos?

O contato com o público é sempre muito bom e nossas lives é um bate-papo sobre assuntos variados. Lembramos sempre que, mesmo quando nos propomos a ler e comentar O livro dos espíritos, não se trata propriamente de um estudo. É mais um bate-papo despretensioso, leve, pra apresentar o livro a uma boa parcela da nossa audiência que não o conhece. Sempre incentivamos o pessoal a procurar uma casa espírita para se aprofundar mais no assunto em um estudo sistematizado.

ArteUne é nosso mais novo projeto durante a pandemia, é uma super live de 6 horas de duração, no total, divididas em dois dias.

A primeira edição será realizada nos dias 8 e 9 de agosto das 15h às 18 horas, em vários canais espíritas que retransmitirão, além do nosso, é claro. A super live será apresentada pela nossa equipe. Todos artistas convidados são artistas ligados à música espírita. www.arteune.com

Vocês fizeram também alguns filmes (Além das janelas e Uma dívida de Natal). Existem novos planos nesse sentido?

Pensar, ter ideias é com a gente mesmo; temos muitos projetos engavetados: filmes, séries, webséries, programas, curtas e longas. Sempre esbarramos com a falta de grana para produzir, fazer cinema não é nem um pouco barato, de equipamento a equipe. Mas devagarzinho tem saído algumas coisas legais!

Além dos vídeos e filmes, vocês também se apresentam em várias peças de teatro. Como tem sido essa experiência? 

Na verdade, o teatro veio antes do que os vídeos. Costumamos dizer que somos bichinhos de teatro; levamos para as telas (celulares e computadores) o que já fazíamos nos palcos. Mas sem dúvida a criação do canal deu uma visibilidade e destaque enormes para o grupo. Rodamos o Brasil inteiro com nossas apresentações de teatro.

O público das peças é espírita ou é comum a participação de simpatizantes?

A linguagem dos nossos espetáculos é bem simples, justamente para qualquer pessoa assistir e entender, evitamos jargões e termos espíritas. A maioria do público é espírita ou simpatizante, mas nosso foco mesmo são os não espíritas. Se conseguirmos atingir esse publico também com um momento de diversão e reflexão, missão cumprida!

Saiba mais em https://www.amigosdaluz.com/

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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