“Eu sou um Espírito”

A placa “Eu sou um Espírito” animou durante vários anos as turmas que monitorei do curso preparatório sobre a Doutrina dos Espíritos.

Por Manoel Fernandes Neto

No primeiro dia de aula de cada turma, os alunos seguravam a placa individualmente, repetiam a frase e diziam o nome e o porque queriam aprender sobre a doutrina codificada por Kardec. O momento era de integração mas também de descontração. Saber de antemão que você é um espírito, que está em um corpo, recipiente de experimentações, sempre me pareceu o que de mais importante podemos saber para o “início dos trabalhos”, como falamos hoje em algumas situações.

Os espíritos são os seres inteligentes da criação. Ele é relevante na sua essência e isso nos possibilita uma amplitude de aprendizado em relação a todas as coisas. Sem espíritos, encarnados e desencarnados, não existe o espiritismo.

Naquele momento, da pequena placa erguida por alunos interessados nos ensinamentos dos espíritos, algo se rompia dentro de cada um. Como assim espírito? Como assim imortal? Que bicho é esse? Um ótimo motivo, instigante, para a sequência de cada lição que ainda cultivo todos os dias. Para onde vamos quando o corpo morre? Como se processa a reencarnação nessas tantas moradas do Pai, e que Pai que é esse amoroso, causa primária de todas as coisas, que nos dá o livre arbítrio, que nos dá independência e responsabilidades pelas escolhas?

 

Quando comecei a estudar no espiritismo, algo recente, perto de duas décadas nesta vida, todas essas questões me impulsionaram ao estudo. Arcabouço coerente e lógico, as obras da codificação sempre foram um cardápio apetitoso para quem gosta de pesquisar, aprender, comparar, avançar dentro da própria doutrina e para outras ciências e aprendizados.

Foi essa sede de saber que impulsionou o cético Hippolyte Léon Denizard Rivail a erguer esse trabalho monumental que investiga questões simples em nossas vidas: de onde viemos, para onde vamos, o que estamos a fazer aqui. Algo que parece banal, mas que a busca dessas respostas determina a forma como queremos viver.

Mas o espiritismo, sempre disse a todos os estudantes que erguiam essa placa, não é somente um ensinamento para compreender o que ocorre quando damos o último suspiro neste corpo: ele é pra já. Para esse momento sublime em que você está vivendo ao ler esse texto, a respirar e a sentir. É aqui também que o espiritismo faz a diferença.

Ter a consciência de que somos um espírito é necessário para que percebamos que as coisas da matéria devem ser encaradas como uma jornada que caminhamos sem medo, em muitas ocasiões com montanhas a superar, em outras livres e com céus estrelados. Essa é a essência do Viver, que avança pelas reencarnações em direção ao infinito.

 

Herculano Pires, o melhor metro que mediu Kardec, refletiu bem o que é este estar no mundo sem ser do mundo no texto O Espírita e o Mundo Atual:

O Espiritismo lhe ensina e demonstra que este mundo em que agora nos encontramos, longe de nos ameaçar com morte e destruição, acena-nos com ressurreição e vida nova. O espírita tem de enfrentar o mundo atual com a confiança que o Espiritismo lhe dá, essa confiança racional em Deus e nas suas leis admiráveis, que regem as constelações atômicas no seio da matéria e as constelações astrais no seio do infinito.

O espírita não teme, porque conhece o processo da vida, em seus múltiplos aspectos, e sabe que o mal é um fenômeno relativo, que caracteriza os mundos inferiores. Sobre a sua cabeça rodam diariamente os mundos superiores, que o esperam na distância e que os próprios materialistas hoje procuram atingir com os seus foguetes e as suas sondas espaciais. Não são, portanto, mundos utópicos, ilusórios, mas realidades concretas do Universo visível.

 

Guardo a placa “Eu sou um Espírito” até hoje, às vezes a ergo para reafirmar a convicção. Com certeza, vou voltar a usá-la em salas de aula, em novas turmas do curso preparatório do espiritismo. Quero continuar a demonstrar que raciocinar a existência, a fé e a própria presença no mundo requer a consciência plena do nosso papel como mola propulsora do progresso. E ele só virá com tolerância, estudo (ciência) e amor ao próximo, aos animais e à natureza e também com uma forma autônoma de pensar e tomar as próprias decisões, sem medos ou culpas.

Isso é ser um Espírito.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


Continue no Canal
+ Manoel Fernandes Neto