Imortalidade e Perfectibilidade

Ponderações Necessárias, por Juvan Neto

Quem ousa se aventurar por digressões filosóficas sobre a existência humana, não raro, chegará ao entendimento de que essa condição – a qual difere fundamentalmente das outras formas de vida dos demais reinos anteriores – só tem sentido se houver, após essa existência, o chamado “algo mais”. O Espiritismo, em seu arcabouço filosófico, talvez seja a Doutrina com mais condições de dar respostas contemporâneas, e portanto, racionais, aos nossos questionamentos existenciais (não que tudo que seja contemporâneo seja necessariamente racional, haja visto assistirmos, impactados, o fenômenos de muito dos jovens atuais defendendo ideias de terraplanismo, de negacionismo científico ou mesmo revisionismo histórico).

A Doutrina codificada e em seguida, sistematizada didaticamente por Allan Kardec, então, responde de maneira consistente as grandes questões existenciais, como “quem sou?”, “de onde venho?”, “para onde vou?”, “porque aqui estou?” e ainda, “o que sinto?” (quando se adentra ao conhecimento da mediunidade).

Falamos de início que entendemos que após a vida “há algo mais” justamente porque a vida, expressa nos outros reinos anteriores – mineral, vegetal e animal inferior – não oferece a possibilidade (ou láurea) da razão, que é fruto do milenar processo existencial. Minerais e vegetais possuem existência sensorial, enquanto que animais do reino inferior vivem, mas não têm consciência da própria finitude.

 

O pensador Jaci Régis, na frase selecionada pela Rede Espaço Espírita, constante do banner abaixo, acresce a essa concepção de vida imortal (que prevê então a possibilidade de muitas experiências, ou “vidas”, dentro de uma só existência, como nos esclarece a Doutrina Espírita sobre o processo reencarnatório) mais uma possibilidade: a perfectibilidade.

Somos, então, consoante o pensamento de Régis, não apenas Espíritos Imortais, mas Perfectíveis. Essa certeza dá todo sentido aos objetivos da Divindade para com sua criação; ao invés de um ser imperfeito, dotado mesmo de todas as perfídias, vícios, incompletudes, egoísmos e limitações, que numa única e hipotética existência, seria “julgado” por um Deus antropomórfico e monarca, por conta de supostos pecados conscientes ou mesmo inconscientes, a visão se amplia.

O homem, então, tem na Imortalidade a condição de avançar rumo à Eternidade, porém, aperfeiçoando-se, mesmo que lentamente (Kardec demonstra isso na questão 785 de “O Livro dos Espíritos”, atentando para o fato de que o avanço intelectual e o moral “não marcham lado a lado”, na própria palavra do Codificador).

Mesmo assim, de experiência em experiência, a cada ciclo da então chamada “vida” – e então, numa só existência, permeada pelos mergulhos no escafandro carnal, o homem se aperfeiçoa. A ideia de Imortalidade se reveste de muito maior sentido nesse aspecto.

Ao invés de chegarmos ao Pai cheios de vícios e ranços, medos, conflitos e traumas, crimes e injúrias, poderemos nos posicionar diante do Criador em uma “versão revista e ampliada”, com o melhor de nós mesmos, na condição da perfeição relativa.

 

A perfectibilidade como potencial está então em nós, e é impulsionada no momento em que buscamos o cumprimento da Lei de Deus, a qual está inculcada em nossa consciência (questão 621 de “O Livro dos Espíritos”). Imaginemos então o Cristo, mais perfeito dos Espíritos a encarnar no Orbe – como não seria a expressão da Legislação Divina pulsando em Sua Mente, por conta dos degraus já percorridos pelo Magnânimo Rabi da Galileía.

Dessa forma, e finalizando, então entendemos melhor a assertiva de Spinoza, em seu “Tractatus Tehologico-Politicus”, quando ele assevera: “A eterna sabedoria de Deus (…) mostrou-se em todas as coisas, mas principalmente, na mente do homem, e acima de tudo, em Jesus-Cristo”.

Juvan de Souza Neto
Comunhão Espírita Elo de Amor
Barra Velha – SC.

Fontes de referências

KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”, questões 621 e 785, site Kardecpedia.com.

RÉGIS, Jaci, “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo”, editora Licespe.

DURANT, Will, “A História da Filosofia”, cap. 4, “Spinoza”, editora Nova Cultural.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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