Mito pessoal, por Adanáuer Novaes

O texto a seguir pertence a um capítulo do novo livro de Adenáuer Novaes, "Mito Pessoal e Destino Humano". A obra trata da análise do perfil da vida humana em seus aspectos macros e das experiências que formam o existir. No seu conteúdo, o autor apresenta uma idéia do destino pessoal e como ele vem sendo traçado pelo espírito. Contém também algumas formas de se enxergar o mito pessoal vivido e como alterá-lo.

O mito é uma das mais fiéis representações do inconsciente. Sua constituição revela algo oculto que o idealizou, de forma sutil, porém condicionado a determinantes psíquicos imponderáveis. Como todo ser humano, nenhuma civilização sobrevive sem o mito. Ele é um ícone mobilizador de poderosas forças forjadoras da personalidade e da identidade pessoal. O mito simboliza aspectos psíquicos inconscientes e revela parcialmente o funcionamento da psiquê.

Uma encarnação é mais um período para o espírito viver novas experiências. Ao longo de seu curso muitos mitos são atualizados e vividos de forma inconsciente. Durante a curta ocorrência da existência no corpo físico, em meio a muitas experiências, atualizam-se relações, aprimoram-se habilidades e novos conhecimentos são adquiridos. Ódios são aplacados, amigos se revêem e amores são alimentados. A humanidade se aprimora, graças à inteligência humana que se aperfeiçoa a cada retorno a um novo corpo. Por mais que se queira pensar que renascer se trata de uma repetição, é, em realidade,  uma nova e fantástica vivência do espírito, no tempo e no espaço. O retorno a um novo corpo é sempre algo de inusitado, bom e útil ao espírito. Há muito o que se aprender no corpo físico, principalmente no que diz respeito à educação das emoções. As experiências emocionais carreiam à consciência importantes paradigmas das leis de Deus, necessários à evolução do espírito.

Seu aproveitamento pode se tornar melhor, na medida em que o espírito se apercebe da linha mestra que conduz sua vida, a qual ele e Deus tecem concomitantemente.

Tal linha mestra pode ser chamada de mito pessoal. É o  roteiro de um filme que contém aquilo que decorre do livre arbítrio, do planejamento reencarnatório e das tendências supra-arquetípicas* coletivas a que todo espírito está submetido. É a linha ou o trilho em que o trem de sua vida tem viajado. São aspectos da vida e da individualidade que, quando percebidos de um ângulo mais amplo, permitem maior capacidade de modificação do destino e de assimilação do aprendizado ao espírito. Identifico dez aspectos a serem percebidos para a consciência do mito pessoal: anseios ocultos, buscas arquetípicas, polarizações típicas, repetições de experiências, eventos em sincronicidade, eventos mediúnicos, sinais e símbolos da vida, direção da energia psíquica, sonhos e complexos. Adiante explicarei cada um deles, em capítulos específicos, visando tornar clara a percepção do significado do mito pessoal.

O mito pessoal é a soma das percepções que o indivíduo tem de sua própria vida e do caminho que ela tem trilhado, independentemente da consciência pessoal. Nem sempre corresponde àquilo que o indivíduo deseja ou desejou para a própria vida, mas sim no que ela se constituiu até aquele momento. Sua percepção se dá a partir de um olhar sobre o somatório das experiências vividas na atual encarnação e, quando possível, em vidas passadas. Tal percepção não se dá numa única dimensão da existência corporal, mas em todos os aspectos e áreas de que ela se compõe.

Perceber seu mito pessoal é como enxergar a própria vida como um espectro, com todas as experiências nela vividas. É simultaneamente perceber o mosaico das fases ou etapas que a constituem e como foram vividas, ou não,  as experiências pertinentes a cada uma delas. É mais do que uma rememoração de fatos ocorridos, mas também das emoções vividas, do que foi aprendido e do que se deixou de aprender.

Reunir as experiências relacionadas a esses dez aspectos, conectando-as entre si e a si mesmo, como se fossem contas de um colar, extraindo do conjunto um sentido único, é encontrar o mito pessoal. Sua percepção facilita a condução da vida, bem como a correção do direcionamento que ela tem tomado. A consciência do mito pessoal, após a reunião das emoções e reflexões geradas nas experiências da vida, requer a firme decisão de se conectar ao que há de mais profundo em si mesmo, bem como de se colocar como autor do próprio destino.

O mito pessoal pode se repetir por várias encarnações até que o espírito mude ou tenha alcançado o que desejava. Uma grande frustração de uma encarnação pode se tornar o grande motivo que direcionará existências futuras. Alcançar o que foi frustrado no passado pode vir a se tornar o mito pessoal de alguém. Isso significará que a pessoa viverá de seu passado, ou melhor, do desejo de resolver frustrações alimentadas.

Em alguns casos vamos encontrar pessoas com mais de um mito pessoal. Apresentam buscas em várias dimensões da vida, não se detendo especificamente num só campo. Assim parecerá quando se observa apenas uma ou duas encarnações. Porém, numa análise a longo prazo, ampliando o alcance da visão para mais encarnações, verse- á que há um núcleo das buscas daquele espírito. Nem sempre essa análise é possível, muito menos para quem está encarnado e não tem qualquer possibilidade de acesso a suas vidas passadas.

O mito pessoal, quando percebido, torna-se um acontecimento que dará a sensação de ter encontrado um porto seguro na vida da pessoa. A compreensão do significado da própria existência amplia as perspectivas de vida, facilitando a aceitação das experiências inevitáveis, que geralmente são istas como um desafio ou imposição de Deus.

Exemplos de mito pessoal facilmente identificáveis:

– pessoas que estão sempre viajando em excursões, em grupo ou sozinhas, não se demorando muito tempo num lugar. Certamente o mito pessoal é fugir de algo consciente ou inconsciente de difícil contato.

– pessoas que perseguem obstinadamente uma marca individual superior em algum esporte, não admitindo derrota. Certamente querem superar um grande complexo de inferioridade.

– pessoas que defendem fanaticamente por toda uma encarnação religiões, filosofias políticas ou doutrinas diversas, à custa de sua própria socialização. Certamente
estão à procura de um contato íntimo com Deus.

– pessoas que se determinam obsessivamente a um objetivo, sem o qual não conseguem viver. Seu mito pessoal é atender ao que está oculto no inconsciente, e usam este objetivo como símbolo.

– pessoas que se desvelam por outra por toda uma encarnação, sem motivo real, apenas pela afeição que a ela dirigem. Certamente satisfazem a dependência que criaram em relação àquela pessoa.

– pessoas que passam a encarnação ocupando cargos de poder, sem conseguir desempenhar funções sob o comando de alguém. São antigos mandatários que não se desligaram de seu complexo de poder.

– pessoas que se dedicam obsessivamente a um trabalho, não conseguindo dele se ausentar, mesmo após o tempo dedicado à aposentadoria. Fogem da liberdade
de viver.

– pessoas que vivem uma persona específica durante toda a encarnação, como se estivessem interpretando um papel numa peça teatral. Cristalizam sua forma de viver no mundo. Vivem em constante regressão ao passado, em busca inconsciente pelo que lá ficou.

– pessoas rígidas em seus princípios e que não se permitem mudanças, impondo aos outros seu modo de pensar e agir. Agem obsessivamente, exigindo do si e dos
outros, mais do que devem. Vivem o mito da proteção contra si mesmas. Protegem-se de suas próprias idéias libertadoras.

– pessoas que se tornam referenciais positivos no que fazem, servindo de modelo e exemplo para outras, sem perderem sua identidade pessoal. Vivem o mito da realização de sua própria individualidade em meio ao coletivo. Um exemplo de mito pessoal pode ser visto na vida de certos artistas em busca da imortalidade na memória de seus fãs. Procuram perpetuar uma imagem estética para não cair no esquecimento. Vivem cristalizando a imagem que lhe foi mais proveitosa em suas carreiras. São como ícones de mármore que o tempo mal consegue corroer. Imortalizam a imagem, da qual se alimentam em seus
pensamentos cristalizadores do passado. São prisioneiros deles mesmos.

Assim ocorre com muita gente que vive a vida fantasiosa que criaram para si. Precisam se libertar do mito que elegeram como trilha de suas vidas. A identificação do mito pessoal permite, quando mantém o espírito aprisionado num padrão negativo de viver, libertá-lo de si mesmo, direcionando sua vida para realizações outras, mais adequadas à sua evolução. Quando o padrão é positivo, permite ao espírito aperfeiçoar-se para maiores cometimentos. É fundamental identificar o mito pessoal, modificando-o ou não, para melhor conduzir-se na vida, visando o próprio progresso espiritual.

* Aquilo que transcende o livre-arbítrio.

Adenáuer Novaes é escritor, pesquisador e expositor espírita. Saiba mais.

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Mito Pessoal e Destino Humano

Novaes, Adenáuer (autor)
Psicologia – 240 págs. 14×21 cm
FLH – Livro – Espírita – Cód. 12606

R$ 27,00
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Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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