Não estará faltando caridade na prática?

É inegável o crescimento do Movimento Espírita, a multiplicação do número de Centros Espíritas, o que é altamente positivo.

A difusão doutrinária é a mola propulsora desse crescimento, levando a mensagem espírita a um número cada vez maior de pessoas, oportunizando-lhes travar contato com os ensinos da Doutrina Espírita.

Divulgar Espiritismo é despertar interesses e convidar o interessado a que conheça mais detidamente suas letras, o que melhor se dá pelo estudo. Felizmente vem crescendo o interesse e a dedicação dos espíritas pelo estudo sério da Doutrina Espírita.

O estudioso da Doutrina Espírita, tão-logo se encontra com as primeiras letras noticiosas do conhecimento novo, descobre que o Espiritismo é a revivescência do Cristianismo na sua pureza primitiva e nas expressões cunhadas pelo seu Codificador, tem como máxima que: Fora da caridade não há salvação.

É natural que entre o conhecimento e a prática, decorra tempo necessário para amadurecimento dos conceitos no foro íntimo de cada um.

À medida que o Espiritismo vai sendo bem compreendido, o espírita vai, espontaneamente, promovendo reformas morais íntimas, e vai redescobrindo o próximo, agora de fato, como seu irmão em Deus e passa a empreender visível esforço na prática da caridade com maior interesse e profundidade, que permita o alevantamento moral do homem em face das suas carências e conflitos.

Atualmente, no entanto, decorrente do entendimento pouco abrangente da assertiva de que a maior caridade que se pode fazer ao Espiritismo é a sua divulgação, atribui-se ao labor de amparo aos necessitados uma validade discutível, e alguns dão à divulgação doutrinária meta única e quase exclusiva.

Bem afirmam José Petitinga e Vianna de Carvalho em texto que assinam juntos, recebido mediunicamente por Divaldo Pereira Franco, encontrado no recente livro “Aos Espíritas”, cap. 33: O compromisso de divulgar o Espiritismo é de emergência e relevância, nunca, todavia, em prejuízo da ação da Caridade.

O Movimento Espírita não pode esquecer o caráter essencialmente cristão do Espiritismo.

Encontra-se Centro Espírita bem estruturado quanto aos estudos doutrinários, porém, com quase nenhuma ação de assistência e promoção social, e, mesmo quando há trabalho de maior profundidade nesse sentido, não encontramos ali, ombreando nessa tarefa, os que são os divulgadores do Espiritismo, os cartões de visita da Instituição, que pregam que é essencial para a renovação moral do ser a vivência dos postulados doutrinários e a prática da caridade em todas as suas latitudes. Entretanto, como falam mas não fazem, acabam comprometendo a consistência do discurso, sendo os pregadores do “faça o que eu falo mas não faça o que eu faço”. A máxima que diz que um bom exemplo ensina mais do que mil livros, tem seu reverso: um mau exemplo destrói ensino de mais de mil palavras.

Outrossim, percebe-se também, que hoje, há Casas Espíritas onde basta que se apresentem pessoas que se comunicam bem, tem um bom conhecimento do conteúdo teórico do Espiritismo e já são escaladas para coordenarem grupos, para fazerem palestras, mesmo quase sem nenhuma integração com os trabalhadores e com as demais atividades da Instituição, onde ainda não deram maior contribuição do esforço pessoal, do suor e das lágrimas. São companheiros que conhecem as formulações kardequianas, mas nada fazem além de simplesmente ensinar esses postulados. Ainda não têm outro compromisso para com o Centro Espírita, menos ainda com as suas ações de serviço social, além de comparecerem no dia em que vão coordenar seus respectivos grupos de estudos ou proferirem palestra. Caridade, para esses, parece ser uma palavra como tantas outras, desconhecendo que ela é base da verdadeira moral. Também não se dão conta de que a fé que professam e propalam, para ser proveitosa, tem de ser ativa; não deve entorpecer-se.

A visão de que basta o estudo do Espiritismo, seu conhecimento e a sua propagação, sem prática efetiva desses conhecimentos na vida como um todo, a começar de dentro da Casa Espírita, tem permitido o perigoso surgimento no seio dos Centros Espíritas do predomínio de grupo dominador, apenas por ser culturalmente melhor dotado, mas sem qualquer vivência doutrinária, como alertam os autores acima citados.

Uma medida que se faz muito própria no momento e para qualquer Centro Espírita, é a de incrementar os estudos e envolver todos os trabalhadores nas ações de benemerência social e no auxílio ao próximo, num esforço conjunto pela reforma íntima do indivíduo para melhor, que é questão intransferível e essencial, razão de ser do Espiritismo dentre os homens.

José Petitinga e Vianna de Carvalho recomendam que não sejam esquecidas as origens evangélicas, nem desdenhados os humildes, os sofredores, os “filhos do Calvário”, o nobre ministério do intercâmbio mediúnico, a utilização das terapias hauridas na vivência da mensagem espírita.

Num futuro, espera-se não muito distante, se o tempo continuar sendo bem aproveitado com trabalho constante e produtivo, veremos maior homogeneidade de conhecimentos e práticas no Movimento Espírita, com reconhecimento e obediência que a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão.
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IX, item 4.)

Fonte: FEP  

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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