O bem como caminho para a felicidade

Por Rose Mary Grebe

No livro, O Homem Integral, psicografado por Divaldo Franco, Joanna de Ângelis comenta:

“A vida feliz é um dar, um incessante receber.  Toda doação gratifica, e nela, embutida, está a satisfação da oferta, que é uma forma de gratulação. Aquele que se recusa a distribuição padece a hipertrofia da emoção retribuída e experimenta a carência, mesmo estando na posse do excesso.”
(ÂNGELIS, Joanna, p.101 e 102)

A autora espiritual, em seus ensinamentos a respeito da personalidade humana, lembra que, no passado, a psicologia sociológica recomendava a posse como uma forma de segurança.

A felicidade era medida pelos haveres acumulados, pela tranqüilidade de não ter que se preocupar com o presente nem com o futuro.

Mesmo as religiões que preconizavam as renúncias aos bens terrenos, reverenciavam os ricos e poderosos, inclusive possibilitando a estes compra do céu.

Através dos tempos, a cultura hedonista também tem se direcionado para o culto do prazer, principalmente aquele que se consegue com o menor esforço. Então os mais felizes seriam somente os que tivessem acumulado bastante, pois poderiam satisfazer seus desejos com facilidade e ainda teriam a garantia do reino dos céus. E nos acostumamos e repetimos o ditado tão antigo: “O dinheiro não traz felicidade, porém ajuda a conseguí-la”.

E em nossos julgamentos apressados não paramos para pensar. Quando vemos a riqueza, a beleza material que ela pode proporcionar, não pensamos se, realmente, atrás desse glamour, existe felicidade.

O que acontece é que confundimos felicidade com desejos e satisfações realizados. Nos acostumamos a pensar felicidade como algo que está para a gente e não em algo que está na gente.

Daí felicidade pode se resumir à várias satisfações e posses, como a criança que ganha muitos brinquedos…

Vamos refletir: Já observaram que a criança, quanto mais brinquedo ganha, menos curte cada brinquedo? O seu prazer com cada brinquedo, dura pouco, logo se sente desmotivada e quer outro. De repente nada mais a agrada.

E crescemos, mas continuamos, na maioria das vezes, querendo nossos brinquedinhos. E pensamos: se eu tivesse tal vestido, seria muito feliz, se tal pessoa estivesse ao meu lado, seria muito feliz, carro novo, casa, iate e por aí vão as minhas felicidades.

Chega um momento em que percebemos que aquilo que chamamos de felicidade, são lances de satisfações, que acabam rapidamente. Acabamos sentindo um certo vazio. Isto porque, como nos diz Joana de ângelis, "ninguém consegue viver em harmonia consigo mesmo sem a auto-realização, sem a conquista de metas que permitem essa emoção estimuladora e vital. A vida possui outros significados mais profundos, outras realizações que nos darão um outro tipo de prazer: ético, estético, espiritual. Não é palpável ou comprável."

É por isso que a teoria hedonista, falha, sua concepção é tornar a vida uma busca incessante de prazer. São inevitáveis as ocorrências do desgaste orgânico, do conflito psicológico, do distúrbio mental, das dificuldades financeiras, sociais e existenciais.

Mas, então o que é felicidade ?

920. LE. O homem pode gozar, sobre a Terra, de uma felicidade completa?

Não, visto que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Mas depende dele amenizar seus males e ser tão feliz quanto se pode ser sobre a Terra.

921. LE. Concebe-se que o homem será feliz sobre a Terra quando a humanidade estiver transformada; mas até lá, cada um pode se garantir uma felicidade relativa?

O mais freqüentemente, o homem é o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele se poupa dos males e chega a uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência grosseira.

922. LE. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um; o basta à felicidade de um faz a infelicidade de outro. Entretanto, há uma medida de felicidade comum a todos os homens?

Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, é a consciência tranqüila e a fé no futuro.

Mas a maioria de nós ainda não entende a felicidade de pessoas que trabalham muito, ganham pouco e ainda conseguem dispor do seu pouco tempo para ajudar os outros . E estão sempre de bem com a vida! , exclamamos desorientados.

Será que entendemos a felicidade de uma Madre Tereza de Calcutá? Tinha a saúde debilitada, só lidava com o sofrimento alheio, tentando minorá-lo. Será que entendemos a felicidade de pessoas que vão para comunidades indígenas, em locais de guerra, para se doar, fazer o bem?  A felicidade não acontece de fora para dentro. A subjetividade do estado de felicidade dificulta defini-la.

Joanna de Ângelis, no seu livro Alerta, psicografado por Divaldo Franco, nos dá uma definição de felicidade:

“A felicidade é o estado íntimo, em que a emoção libera os ideais de beleza e de harmonia, convidando a criatura ao crescimento, à libertação.” ( p. 153)

Ela ainda nos diz que a felicidade alimenta-se nos ideais do bem, a pessoa feliz não se desestrutura diante dos problemas, é fundamentalmente solidária ao bem, o homem esquece-se de si mesmo para trabalhar pelos outros.

Essa felicidade, que muitos já conhecem, é difícil de conceituar, pois se apresenta na forma de grande contentamento, parece que o coração, se assim podemos dizer, se expande, a sensação é de uma alegria interior, nos sentimos energizados.

Não é o mesmo que acontece quando adquirimos tudo o que queremos, facilmente.

Não se trata de fazer a apologia do largar tudo, não se adquirir mais nada, mas começarmos a nos conhecer melhor e perceber que a felicidade, que é relativa, pode e deve existir, independentemente dos problemas que todos temos que enfrentar porque somos ainda pouco evoluídos e vivemos neste planeta que é de Provas e Expiações. Felicidade se constrói sem sonhos fantásticos, como ainda nos diz Joanna de Angelis. Felicidade se constrói com o bem.

Muitas vezes escutamos que certas pessoas fazem tanto mal, tripudiam sobre os outros e são felizes.

Ledo engano. Em primeiro lugar elas estão apenas vivendo daquelas satisfações, que são momentâneas, em segundo porque estamos todos submetidos à lei de ação e reação, e desta não tem como escapar. Não precisamos nos preocupar com os outros, o que precisamos é entender o porquê de algumas situações que nós achamos injustas (para nós) e nos imaginamos infelizes.

Joanna de Angelis nos esclarece:

“ A resolução de ser feliz rompe as amarras de um carma negativo, face ao ensejo de conquistar mérito através das ações benéficas e construtivas, objetivando a si mesmo, o próximo e a sociedade.

(…) O amadurecimento psicológico, a visão correta e otimista da existência são essenciais para adquirir-se a felicidade possível.”
( O Homem Integral, p.127)

Para que exista essa alegria, ou felicidade, é preciso que nos conheçamos. Dessa forma teremos um comportamento psicológico mais maduro, sabendo que nossas ações se integram ao cosmo, que somos seres espirituais, imortais. Quando nos conscientizamos dessa realidade, a de que somos Espíritos imortais, fica mais fácil buscamos o nosso crescimento intelectual e moral, e com isto a nossa marcha à felicidade acontece.

O ser humano em si mesmo é sempre conseqüência dos seus atos anteriores. A cada realização desenvolvida, apresentam-se novas propostas que dela resultam, ampliando o campo do crescimento emocional.  Os Espíritos e estudiosos do assunto têm colocado a felicidade como um efeito do bem, da bondade, do amor, não aquela bondade que supõe uma troca, barganha. Mas a prática de vida tem que ser pautada em gestos de bondade, de fraternidade… Não é a lei do troca-troca, mas uma postura a assumir diante da vida, começando com pequenos atos, mas começando. Não há perdas para quem faz o bem.

Vamos encerrar com um trecho da página 126 da obra Alerta de Divando Franco

“ O bem não te imunizará do sofrimento, de que necessitas, no entanto, auxiliar-te-á a enfrentar as situações difíceis com ânimo robusto e confiança em Deus.

O bem não te preencherá todos os ‘vazios da alma’, todavia evitará que te encharques de pessimismo e de azedume.

O bem não te oferecerá a plenitude da alegria, mas facultar-te-á fruir as satisfações prenunciadoras da renovação, que te tornará ditoso um dia.

O bem não te resolverá todos os problemas, porém ofertar-te-á resistências para vencer dificuldades e não contrair novos compromissos negativos.

O bem não te libertará da luta, caminho é de redenção, sem embargo, ser-te-á cirineu e amigo, sustentando-te em todos os lances, até que logres a felicidade.
O bem que se faz, é bem que não cessa nunca, sempre produzindo o bem.
Não receies, jamais, o mal, nem te omitas na ação do bem.

BIBLIOGRAFIA

1. ANDREA, Jorge. Enfoques Científicos na Doutrina Espírita, 2 ed. Rio de Janeiro: Sociedade Lorenz, 1991.
2. FRANCO, Divaldo. Alerta, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: 1982.
3. FRANCO, Divaldo. Despertar do Espírito, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4 ed. Salvador: 2000.
4. FRANCO, Divaldo. O Homem Integral, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 16 ed. Salvador: 2003.
5. O Livro dos Espíritos. 36 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
6. XAVIER,Francisco C. A Religião dos Espíritos. 15 ed. Rio de janeiro: FEB, 2002.

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Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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