O Enigma da Consciência

Por Ana Maria Grossenbacher |

Quando, à pergunta de Allan Kardec “onde está escrita a lei de Deus?”, os Espíritos Superiores responderam: “Na consciência”, ficou registrada a importância suprema da consciência.

Considerada hoje pela ciência como o maior enigma a ser desvendado em relação ao ser humano, a complexidade da consciência tem desafiado os neurocientistas, os físicos da consciência, os psicólogos, os filósofos, enfim, todos os que estão empenhados em decifrá-la.

O que é afinal a consciência? A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos”. [1]

O desenvolvimento da consciência – capacidade de conhecer a si mesmo e ao outro – é processo evolutivo gradual que amplia a faculdade de pensar, agir e querer, no ser humano.

Aliás, é ensinamento doutrinário espírita básico que a consciência está presente desde a formação do homem.

A consciência moral ou espiritual pode ser entendida como sendo o ápice do desenvolvimento da consciência, propriamente dita. A conquista da consciência moral indica que, por vontade própria, o homem passa a ser governado por valores morais, criteriosamente aplicados em diferentes contextos da vida.

É pela consciência moral que o Espírito aprende a discernir entre o bem e o mal e, dessa forma, fazer escolhas acertadas ao longo das suas existências, vivenciadas no plano físico ou no espiritual. Fazer escolhas é direito natural do ser que possui razão e livre-arbítrio.

 

Indica, porém, elevado senso de responsabilidade e de maturidade psicológica o indivíduo que sabe fazer escolhas corretas, que não interferem na liberdade de outrem nem produzem qualquer prejuízo ao próximo.

Nessas condições, o ser moralizado é alguém que possui liberdade plena, porque sabe como agir, independentemente de circunstâncias, situação, local ou pessoa.

Demonstra também que possui integridade de caráter e inabalável coragem ao assumir as conseqüências os seus atos. A responsabilidade pelas próprias ações demonstra que o Espírito saiu de uma faixa evolutiva anterior e passou a transitar em outra, onde os seus testemunhos de melhoria espiritual são mais significativos.

O ser humano atingiu imenso cabedal intelectual.

Desenvolvida a razão – e com ela o raciocínio, a compreensão e o discernimento – podendo criticar e selecionar, crescem o livre-arbítrio e a responsabilidade.

É verdade que o progresso moral não acompanha o progresso intelectual; mas isso se deve à vontade individual, que leva a querer permanecer nos velhos caminhos já muito percorridos no passado.

Podendo decidir por si mesmo a enfrentar as conseqüências do que faz, não é lícito esperar receber tudo pronto quando se trata do próprio crescimento espiritual.

A educação externa á muito importante, mas quando a pessoa já pode caminhar sozinha precisa assumir a direção do aprimoramento de si mesma.

Ao atingir certo grau de evolução racional, ninguém poderá abandonar tal tarefa por muito tempo.

O motivo é que cada filho de Deus recebeu a incumbência de construir a própria personalidade, que deve ser produto de seus esforços pessoais: não haverá felicidade nem paz sem mérito conquistado por meio da atividade individual.

Tal é o objetivo da vida na Terra: renovar a mente, aperfeiçoar o espírito.

A instrução transmitida por outros é útil, mas passa a ser mero auxiliar por não poder fornecer tudo quanto é necessário.

Nessa fase de plena consciência, o espírito maneja os elementos educativos que recebe de fora segundo sua maneira de entender e integra-os, ao seu modo, no quadro de conhecimentos que possua.

Para consegui-lo, precisa ter vontade porque o interesse é a mola de tudo na vida. Portanto, “plena consciência” e “vontade” são indispensáveis à auto-educação.

Quando está maduro para a reforma interior, o espírito sente-se impelido para frente e põe-se a procurar novos elementos a fim de ampliar suas aquisições.

Afirmam os mentores da Espiritualidade que reconhecer a própria situação interior já é um sinal favorável de adiantamento, visto conduzir à busca do aprimoramento espiritual.

Para aqueles que mantêm toda a atenção e atividade concentradas na vida material de cada dia, conhecimentos espiritualizantes serão, no máximo, sementes para futuro desenvolvimento. ►

Vivemos em sociedade.

É noção geral que nenhuma pessoa pode dispensar a cooperação das outras. A solidariedade é fundamental na vida do ser humano.

Nenhum ser humano possui todas as faculdades e, tendo necessidade uns dos outros, completam-se pela união social.

Sociedade é um grupo de pessoas que se influenciam mutuamente. Desde o nascimento, a sociedade exerce pressão no sentido de que certos tipos de comportamento, admitidos como os melhores, sejam acatados.

 

Ela define implicitamente os valores, as normas de vida, os traços de caráter, motivos, etc., que a criança deverá assimilar e robustecer para apresentar comportamento razoável.

Muitas pessoas estão convencidas de que os maiores males do ser humano procedem e vícios e falhas da sociedade. Muitos a declaram corrompida, decadente, inibidora, restritiva.

Ora, a sociedade não é uma instituição independente do homem e, sim, um organismo formado pela reunião de todos os indivíduos que nela vivem e atuam.

Ela é o que os seus membros são!

A aprendizagem social não funciona independentemente da natureza das pessoas; há, nestas, certas tendências inatas do comportamento que variam de indivíduo para indivíduo, o que é lógico: cada ser humano é um pequeno mundo, tendo no passado, vivido e assimilado experiências que são estritamente pessoais.

Segundo Einstein, a essência da crise do mundo moderno reside nas relações entre o indivíduo e a sociedade.

Dá-se que os impulsos egocêntricos dele sofrem contínua acentuação, enquanto que os impulsos sociais, fracos por natureza, são desestimulados.

Escravizado pelo próprio egoísmo, o homem sente-se inseguro, ameaçado em seus direito e é solitário. O único meio de encontrar significação na vida, diz o grande físico, é dedicar-se à sociedade, ou seja, desenvolver o sentimento social.

A sociedade não pode ser mudada subitamente por meio de leis drásticas. O ser humano é que pensa e goza de livre-arbítrio; ele á a cabeça da sociedade.

Logo, ele é que precisa modificar-se interiormente, o que acarretará automaticamente as condições do meio comunitário. É preciso agir primeiro sobre a inteligência e a consciência dos indivíduos, porquanto, a origem de todos os males está na ignorância e na inferioridade moral, afirma Leon Denis.

 

Tal relação tem sido constantemente invertida, o que é conveniente para afastar responsabilidades, mas não muda o problema.

O fato é que a sociedade é um organismo, imperfeito ainda, dentro do qual o indivíduo – mesmo comportando-se bastante mal – goza de ampla liberdade e pode, querendo-o alcançar a realização completa. As conquistas e construções são coletivas, a começar pela ciência e tecnologia.

Na sociedade atual, as atividades econômicas, obrigam a pessoa a vender o seu esforço e engenho a outra pessoa. A finalidade de qualquer atividade econômica é obter lucro, o que, naturalmente, gera a competição. Cada indivíduo sente-se impelido a superar o seu competidor. Todos lutam para alcançar os melhores lugares e as maiores vantagens.

Nessa batalha contínua por lucros e posições, ruíram os preceitos morais, que impunham restrições no passado: o que importa é ser o primeiro, o que significa desvantagem para outros.

O mal não está no lucro em si, até certo ponto necessário, mas no fato de o motivo para produzir não ser a utilidade social, a satisfação pelo trabalho, e, sim, a perseguição de objetivos externos (vantagens e posições) que atendem ao egocentrismo e ao orgulho.

Desse caráter competitivo da sociedade, derivam importantes influências deformantes sobre a personalidade humana: agressividade, conformidade, insatisfação, fadiga, falta de religiosidade, desintegração moral, carência de convicções, consumo exagerado de diversões, etc.

Trabalhando para desenvolver suas próprias capacidades e para ser útil à comunidade, não precisa se ocupar em deslocar outros para assumir supremacia; estes saberão dar-lhe o devido valor, pois notarão que ele é diferente e respeitá-lo-ão por ser assim.

 

O que não se leva em conta, ao criticar o meio social, é a perspectiva espiritual da vida, isto é, a eternidade e o adiantamento contínuo do espírito.

Não se considera que cada ser humano traz um programa de vida conforme as suas necessidades espirituais, o que torna o dever cumprido o mais importante modo de viver. Daí não se observar que a posição ocupada por um determinado indivíduo é a que melhores oportunidades de progresso dão a ele.

Convém não esquecer que cada é responsável pelo que faz e, por isso, goza de relativa liberdade de tomar decisões.

O ser humano na maioria das vezes não sabe pensar por si mesmo, deixando-se guiar pela moda, pelos costumes, pela opinião pública, imprensa, etc., e está cego para uma série de restrições, compulsões e medos interiores.

Pensa que é livre, mas está cada vez mais preso a opiniões e costumes.

O verdadeiro interesse pessoal do ser humano é o desenvolvimento total das suas potencialidades como espírito imortal e não a com quista de posições e vantagens materiais a qualquer preço, tomando parte em competições que arrasam o equilíbrio mental.

O fim disso é o tédio, a insatisfação, a sensação de futilidade – a frustração, enfim, de uma vida inteira.

O segredo para vivermos bem com nossa consciência é termos em mente o que Jesus nos ensinou: “não faça aos outros o que não queres que os outros te façam”.

[1] Livro dos Espíritos, Questão 835.

 


Texto da palestra realizada em 28/02/11 na Sociedade Espírita Nova Era.
Baseado no livro Evolução para o terceiro milênio, de Carlos Toledo Rizzini.
Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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