O Exemplo é o mais poderoso agente de propagação

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Allan Kardec

Venho esta noite, meus amigos, falar-vos por alguns instantes. Na ultima sessão não respondi; estava ocupado alhures. Nossos trabalhos como Espíritos são muito mais extensos do que podeis supor e os instrumentos de nossos pensamentos nem sempre estão disponíveis. Tenho ainda alguns conselhos a dar-vos sobre a marcha que deveis seguir perante o publico, com o fito de fazer progredir a obra a que devotei minha vida corporal, e cujo aperfeiçoamento acompanho na erraticidade.

O que vos aconselho antes de mais nada e sobretudo, e a tolerância, a afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para com os incrédulos.

Quando vedes um cego na rua, vosso primeiro sentimento e a compaixão. Que assim seja também para os vossos irmãos cujos olhos estão fechados e velados pelas trevas da ignorância ou da incredulidade. Lamentai-os, em vez de os censurar. Por vossa doçura, mostrai vossa resignação para suportar os males desta vida, vossa humildade em meio as satisfações, vantagens e alegrias que Deus vos envia; mostrai que há em vos um principio superior, uma alma obediente a lei, a uma verdade também superior: o Espiritismo.

As brochuras, os jornais, os livros, as publicações de toda a espécie são meios poderosos de introduzir a luz por toda a parte, mas o mais seguro, o mais intimo e o mais accessível a todos e o exemplo da caridade, a doçura e o amor.

Agradeço a Sociedade por ajudar aos verdadeiros infortúnios que lhe são indicados. Eis o bom Espiritismo, eis a verdadeira fraternidade. Ser irmãos: e ter os mesmos interesses, os mesmos pensamentos, o mesmo coração!

Espíritas, sois todos irmãos na mais santa acepção do termo. Pedindo que vos ameis uns aos outros, limito-me a lembrar a divina palavra daquele que, há mil e oitocentos anos, pela primeira vez trouxe a Terra o germe da igualdade. Segui a sua lei: ela e a vossa. Nada mais fiz do que tornar mais palpáveis alguns de seus ensinamentos. Obscuro operário daquele mestre, daquele Espírito superior emanado da fonte de luz, refleti essa luz como o verme luzidio reflete a claridade de uma estrela. Mas a estrela brilha nos céus e o verme luzidio brilha na terra, nas trevas. Tal e a diferença.

Continuai as tradições que vos deixei ao partir.

Que o mais perfeito acordo, a maior simpatia, a mais sincera abnegação reinem no seio da Comissão. Espero que ela saiba cumprir com honra, fidelidade e consciência o mandato que lhe e confiado.

Ah ! quando todos os homens compreenderem tudo o que encerram as palavras amor e caridade, na Terra não haverá mais soldados nem inimigos; só haverá irmãos; não haverá mais olhares torvos e irritados; só haverá frontes inclinadas para Deus!

Ate logo, caros amigos, e ainda obrigado, em nome daquele que não esquece o copo d\’água e o óbolo da viúva.

Allan Kardec

(Transcrito da Revista Espirita de 1869, publicada pela EDICEL, traducao de Julio Abreu Filho)

Revista Espírita, junho de 1869
(SOCIEDADE DE PARIS, SESSÃO DE 30 DE ABRIL DE 1869)

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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