O Mecanismo Secreto da Evolução Espiritual

Rita Foelker |

Até que ponto sabemos escolher com base no conhecimento que possuímos?

Já há muitos séculos os seres humanos pensam sobra a responsabilidade espiritual, encontrando diversas explicações sobre como suas ações geram consequências boas ou ruins para si mesmos. Espiritas, falam em lei de ação e reação. No entanto, até que ponto essa lei é bem compreendida? Até que ponto sabemos escolher com base no conhecimento que já possuímos?

Emoções e pensamentos definem o modo como vivemos. Diariamente, criamos nosso céu e inferno pessoais. E a cada minuto a vida responde conforme nossos padrões mentais e nossas atitudes.

As consequências de nossas atos têm sido entendidas e ensinadas por religiões e filosofias, durante séculos. E, para os que acreditam nas leis da vida espiritual e buscam estudá-las, a tentativa de compreensão do que acontece a partir do comportamento tornou-se um dos principais elementos a influenciar as escolhas.

Aprendemos a chamar essa correspondência, entre atos e resultados, de “lei de causa e efeito” ou de “lei de ação e reação”. Contudo, nem sempre é suficientemente claro, o que se pretende dizer com essas expressões. Seria o sofrimento, o resultado de nossos atos contrários à lei de Deus? Podemos melhorar nossa vida melhorando nossa forma de pensar, sentir, escolher e agir?

PRÊMIOS E CASTIGOS

Conduta moral é o conjunto das atitudes que revelam o caráter de cada pessoa, sua forma habitual de agir segundo as virtudes já conquistadas. A igreja católica exerceu uma forte influência no pensamento ocidental sobre como os efeitos da conduta moral influenciam a vida futura. A matemática era simples: cumprir os preceitos religiosos e evitar o pecado levariam a criatura para o Céu, depois de única existência. Ignorar essas coisas redundaria numa eternidade de sofrimento atrozes e irremediáveis, a conhecida vida no Inferno. A sorte de cada criatura estaria lançada a partir do momento em que sua alma deixasse este mundo em busca do próximo, em locais específicos de felicidade ou sofrimento: o “Céu” e o “Inferno”.

Sobre a localização das penas e alegrias depois desta vida, a questão 1011 de O Livro dos Espíritos deixa claro que não há, no mundo espiritual, lugares circunscritos para a permanência dos Espíritos felizes ou em sofrimento. “As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um traz em si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou de infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns e a outros”.

Os Espíritos afins, em razão de seus gostos, simpatias, pensamentos habituais, emoções predominantes e interesses comuns, reúnem-se em grupos e podem permanecer ligados entre si, mas não é necessário que haja um lugar próprio para tal. Contudo, muito tempo atrás, sacerdotes desenharam em nossa imaginação visões da imortalidade para os bons e os maus, de maneira a incentivar comportamentos virtuosos ou, pelo menos, aprovados pela instituição religiosa a qual pertenciam. É claro que muitos se aproveitaram de nossa ingenuidade, tirando partido de nossos temores para atender aos próprios interesses. Mas ficou muito marcada, para nós, a ideia de que vamos receber o prêmio ou o castigo depois, no “além”, ao se encerrar esta existência. E muitos espíritas conservaram essa noção equivocada.

Já para os problemas durante a vida, o remédio indicado pelos sacerdotes era o da tolerância, para suportá-los com o mínimo de reclamação e o máximo de resignação “santificante”, com vistas ao porvir de venturas celestiais.

ALEGRIA E SOFRIMENTO NA VIDA PRESENTE

Para outras doutrinas, contudo, o sofrimento presente é entendido como resultado de ações em vidas passadas. No Oriente, as crenças na reencarnação e no carma conduzem à noção, bastante difundida entre aquele povo, de que aquilo que fizemos no passado de múltiplas reencarnações reverte em situações vividas presentemente.

Tal perspectiva oferece-lhes uma possibilidade de compreensão e aceitação da condição pessoal e social em que cada um se encontra, por mais difícil que possa ser. A resignação é uma atitude importante perante situações sobre as quais não se tem possibilidade de ação, mas é preciso perceber que em muitos casos há o que fazer para colocar-se em melhor condição física, emocional e espiritual. Essas ideias chegaram ao Ocidente, em grande parte, com a divulgação da obra de Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, em Nova York, no ano de 1875.

O Espiritismo, no que se refere aos espíritos, informa que ele são mais ou menos felizes, conforme o mundo que habitam seja mais ou menos adiantado. E a classe do mundo onde vão encarnar está de acordo com o grau de evolução que já atingiram e a necessidade de aprendizado naquela fase específica de seu progresso. A Terra é classificada, entre as categorias de mundos habitados, como um planeta de provas e expiações, de acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo: “A Terra nos oferece, pois, um dos tipos de mundos expiatórios, em que as variedades são infinitas, mas têm por caráter comum servirem de lugar de exílio para os espíritos rebeldes à lei de Deus. Nesses mundos, os espíritos exilados têm de lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza, trabalho duplamente penoso, que desenvolve a uma só vez as qualidades do coração e as da inteligência”.

Além das características planetárias, que participam da configuração das condições da encarnação, existem aspectos relativos à especificidade do organismo (estado de saúde ou doenças congênitas), do grupo familiar, e da condição sócio-econômica em que o Espírito irá reencarnar, e tudo isso atende ao aprendizado espiritual das virtudes que buscará desenvolver.

O capítulo VII de O Livro dos Espíritos dia que o Espírito prestes a retomar a vida física possui consciência mais ou menos nítida de que está chegando o momento da reencarnação, embora muitos deles nem compreendam o que lhes sucederá. Explica também que ele pode abreviar o tempo de espera pelo retorno ao plano físico, ou mesmo retardá-lo, mas não indefinidamente. O Espírito que se unirá a um determinado corpo já está designado com antecedência, e o corpo sempre corresponde ao tipos de provas que a que deseja se submeter. Há casos em que ele mesmo pode, escolher em qual corpo irá reencarnar, embora esta escolha nem sempre dependa dele.

Estes poucos esclarecimentos sobre a volta do Espírito à vida corporal nos oferece uma evidência interessante: de que não existe determinismo na encarnação.

NÃO HÁ DETERMINISMO NO EFEITO

A ideia de uma aplicação automática da lei de ação e reação, nos moldes da “pena de talião” – “olho por olho, dente por dente” – deixa conosco uma impressão de que, como diz o adágio popular, “aqui se faz, aqui se paga”. Como se fosse um sistema de troca entre o indivíduo e a lei natural – que cobra pelo que aquele fez contra ela.

Esta visão é reforçada por muitos romances onde se explora a correspondência entre as múltiplas existências de um mesmo Espírito, de modo a vincular as ações infelizes em uma vida com o sofrimento na vida posterior. Embora seja um recurso literário interessante, a correlação entre fatos de uma e de outra vida não pode ser encarada de forma tão simplista. Tal concepção não poderia conviver com a Justiça Divina, que é perfeita, e leva em conta a melhoria de sentimentos, o arrependimento, e que também considera as mínimas atitudes favoráveis ao equilíbrio íntimo e à pacificação das relações com o próximo.

Nunca se pode afirmar, portanto, que sofremos exatamente aquilo que fizemos sofrer, de maneira automática. Porque a Leia de Justiça é também de Amor e Caridade e respeita as condições do espírito em evolução para melhor oferecer recursos para seu aprendizado.

Não há automatismo da lei de ação e reação, pois mudanças morais no Espírito podem alterar a intensidade ou mesmo a qualidade da “reação”, em virtude das mudanças interiores que cada um de nós pode realizar, a qualquer momento, com o poder da vontade.

O PORQUÊ DO SOFRIMENTO

O ajuste impecável entre nossas atitudes e suas consequências é fruto da perfeição da justiça divina, mas isso não trata necessariamente de punição ou recompensa (embora se possa pensar que os bons efeitos de boas escolhas seriam os nossas prêmios, e vice-versa).

No item 5 do capítulo V de O Céu e o Inferno, Allan Kardec escreveu: “Sendo o sofrimento inerente à imperfeição, sofre-se por tanto tempo quanto se for imperfeito, como se sofre de uma doença por tanto tempo quanto não se consegue extinguir as suas causas. É assim que um homem orgulhoso sofrerá as consequências do orgulho, da mesma maneira que um egoísta as do egoísmo”.
Fica nítida a noção de que sofremos, em razão de como somos, e não em razão daquilo que fizemos. E quando mudamos nosso modo de pensar, sentir e agir, conseguimos minorar o sofrimento, embora ainda continuemos sofrendo os efeitos de causas que deflagramos.

Este alívio ocorre, muitas vezes, imediatamente! Por exemplo. Em muitos casos de enfermidades físicas, o maior estresse está relacionado à revolta, ao derrotismo, à inconformação, do que aos sintomas experimentados. Se mudarmos a maneira de pensar e sentir sobre a doença e seu papel no nosso desenvolvimento espiritual, não só sofremos menos como podemos ativar potenciais de cura pela ação do pensamento sobre os fluidos e a matéria.

É comum, pensar-se unicamente em termos de futuro, como se o período da encarnação fosse um tempo de semeadura e tivéssemos de aguardar no post-mortem a colheita dos frutos. Contudo, se hoje sabemos que nossas condições atuais de vida resultaram de escolhas feitas no mundo espiritual, antes da presente encarnação, ou de causas originadas em encarnações anteriores, o fato é que a maioria delas nasceu de deliberações mais recentes, desta própria vida. São estas que, com frequência, ocasionam prazer ou sofrimento, como explica O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítuloV. Kardec lhes dá o nome de causas atuais das aflições e, se estamos causando aflições para a nossa vida atual, significa que, igualmente, podemos aprender atitudes que nos proporcionem bem-estar a partir de agora, rompendo, em definitivo, com as ideias aprendidas em outras doutrinas, de que o céu e o inferno estão além desta vida, num outro tempo e lugar.

Não exite “lá” ou “aqui” para a lei de ação e reação. Podemos, agora, estar convivendo com o resultado de decisões tomadas em outras vidas ou no mundo espiritual, ou podemos estar gerando, também neste instante, uma situação que terá efeitos em poucos minutos. Por exemplo: talvez estando num lugar público enquanto lê esta revista, alguém se sente ao seu lado e queira conversar. Talvez, esta mesma pessoa venha trazer-lhe a resposta para uma questão que o(a) vem atormentando durante muito tempo, gerando contentamento.

Podemos tomar atitudes que começam a gerar resultados no mesmo instante em que as tomamos, e que perdurem enquanto nelas perseveramos, deixando de existir somente quando mudarmos interiormente.

Causas e efeitos de nossos atos estão em toda parte, porque elas não dependem de se estar encarnado ou desencarnado. Como encarnados, não apenas permanecemos livres para escolher novos rumos como, também, as nossas decisões começam a fazer efeito na existência atual – rapidamente, no campo emocional e mental, embora materialmente possam se concretizar mais tarde.

Responsabilidade cresce com o entendimento espiritual e implica em responder por tudo o que for manifestação da vontade do Espírito, por tudo o que ele decide com razoável consciência dos resultados, seja sob a forma de pensamentos, atos ou sentimentos.

Dessa forma, a dor e o sofrimento ganham outra dimensão. Observamos que não somos seres passivos perante eles, podendo realizar modificações em nossas formas de pensar e de lidar com as situações que redundarão numa vida com mais qualidade em muitos sentidos.

Rita Foelker é escritora com mais de 40 livros publicados, entre infantis e adultos, mediúnicos e próprios. 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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