O melhor e mais completo guia pra médiuns
Por Pedro Camilo* / [email protected]
Advogado. Escritor e expositor espírita, é trabalhador do Núcleo Espírita Telles de Menezes, em Salvador/BA. (Ao lado, selo comemorativo, lançado pela FEB)
Fruto de um trabalho conjunto de médiuns e Espíritos, somado ao critério e observação de Allan Kardec, nenhuma obra supera até hoje O Livro dos Médiuns como orientação segura para médiuns e participantes de reuniões mediúnicas.
Estabelecer os critérios para uma prática segura e frutífera deve ser o objetivo de todos aqueles que pretendem se dedicar ao exercício da mediunidade ou participar de reuniões mediúnicas. Onde porém se encontram tais critérios e informações pertinentes sobre o assunto das manifestações mediúnicas?
Lembramos que o próprio Espiritismo nasceu das manifestações mediúnicas. Foi em razão das mesas girantes, fenômeno aparentemente insólito e que distraia os cultos e incautos na Europa da segunda metade do século 19, e dos seus posteriores desdobramentos, que o professor Denizard Rivail teve sua atenção voltada para as questões espirituais, descobrindo e sistematizando princípios nas obras que assinou com o pseudônimo de Allan Kardec.
Em uma dessas obras, o mestre francês registrou um excelente estudo sobre a mediunidade. Embora em contato direto com os fenômenos desde 1855, somente em 1861, pôde ele reunir, em um único volume, “o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e tropeços que se podem encontrar na prática do Espiritismo”, conforme se lê no frontispício da obra.
Nascia, assim, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, o segundo volume de cinco que consolidariam o pensamento espírita e que, até os dias atuais, permanece desafiando e instruindo a quantos se debruçam sobre o estudo e a prática da mediunidade.
ANALISANDO O TÍTULO
Não passa despercebido ao observador atento um detalhe importante, registrado no título: Kardec a chamou O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores. Aparentemente insignificante, esse outro nome com que o mestre francês intitulou a obra nos permite reflexões necessárias, sobretudo para quem, de maneira desapaixonada e desinteressada, deseja abraçar a prática espírita sem qualquer tipo de prevenção ou preconceito.
Primeiramente, Kardec o chama de “Guia”. À primeira vista, a apalavra pode parecer mal empregada, por sugerir a ideia de um manual com formulas e receitas prontas. Talvez por isso, nas paginas introdutórias, Allan Kardec tenha feito a seguinte advertência:
“Enganar-se-ia igualmente quem supusesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns. Se bem cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que a ninguém é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da musica não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o gênio de alguma dessas artes. Apenas guiam os que as cultivam, no emprego de suas faculdades naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista.”
Trata-se, pois, de um conjunto de instruções nascidas da sua experiência e da colaboração dos Espíritos, sempre interessados no melhor aproveitamento das forcas psíquicas dos médiuns.
Além disso, note-se que o livro não se destina apenas aos médiuns, mas também aos evocadores, ou seja, às pessoas que, em lugar de aguardar manifestação espontânea, chamam determinado Espírito a fim de que este venha se comunicar. Esse pormenor revela que, à época, as evocações eram bastante comuns, servindo mesmo para designar todo aquele que, não possuindo possibilidades mediúnicas ostensivas, ocupava-se com os fenômenos de maneira útil e responsável. Tanto é assim, que Kardec propõe o termo “evocadores” para designá-los, sem qualquer tipo de objeção, a eles também dedicando a elaboração da obra, afirmando que, “como repositório de instrução prática, portanto, a nossa obra não se destina exclusivamente aos médiuns, mas a todos os que estejam em condições de ver e observar os fenômenos espíritas”. Aliás, há que se dizer que tão comuns e apropriadas eram – e continuam sendo – as evocações, que Kardec não apenas dedicou O Livro dos Médiuns também aos evocadores, como também dedicou todo um capitulo da obra ao estudo das evocações.
TIPOS DE COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS
O Livro dos Médiuns nos ensina a classificar as comunicações que recebemos dos Espíritos em quatro categorias: Comunicações Grosseiras. Ferem o decoro e só podem provir de Espíritos das classes mais inferiores. Podem ser triviais, ignóbeis, obscenas, insolentes, arrogantes, malévolas e até mesmo ímpias, dependendo do caráter do Espírito comunicante. Comunicações Frívolas. São dadas por Espíritos levianos, zombeteiros ou maliciosos, que não se preocupam com a verdade e nem dão importância ao que dizem. Saem às vezes com tiradas espirituosas e mordazes, misturando muitas vezes brincadeiras banais com duras verdades. Espíritos levianos costumam aproveitar todas as ocasiões de se intrometerem nas comunicações. Comunicações Sérias. Tratam de assuntos graves, são ponderadas, não contém traços de frivolidade nem de grosseria. Elas são sempre úteis, mesmo que para uma finalidade particular. Pode conter erros, pois os conhecimentos dos Espíritos são limitados ao seu grau evolutivo. Por isso todas as comunicações recebidas devem ser analisadas à luz da razão e da lógica. Comunicações Instrutivas. São as comunicações serias que têm por finalidade principal algum ensinamento dado pelos Espíritos sobre as Ciências, a Moral, a Filosofia, etc. Podem ser mais ou menos profundas, mas seu alcance é geral ou, algumas vezes, universal. Adverte O Livro dos Médiuns: “Os Espíritos sérios se ligam aos que desejam instruir-se e perseverem, deixando aos Espíritos levianos o cuidado de divertir os que só vêem nas comunicações uma forma de distração passageira |
O PLANO DA OBRA
Dividindo o livro em duas partes, Allan Kardec buscou, nos primeiros capítulos, lançar as “Noções Preliminares” do seu estudo, levantando as vigas sobre as quais todo o texto seguinte se sustentaria.
É assim que, questionando e demonstrando a existência dos Espíritos como condição primeira dos fenômenos mediúnicos, ele revela que esses acontecimentos não fazem parte da faixa do “maravilhoso ou sobrenatural”, mas obedecem a leis naturais e têm acontecido em todos os tempos, desde as recuadas épocas, como atestam os registros históricos de um sem numero de povos e religiões. Também apresenta e analisa os métodos de abordagem dos fenômenos, destacando o que melhor se aplica à prática espírita, e analisa os sistemas alternativos empregados para explicar as comunicações espíritas, revelando suas fragilidades.
“Das manifestações espíritas” é o titulo da segunda parte da obra. Estudando a ação os espíritos sobre a matéria, Kardec classifica as manifestações em dois grandes grupos: as físicas e as inteligentes, apresentando teorias e análises criteriosas sobre como alguns fenômenos se processam. Analisa, também, a natureza grosseira, frívola, séria ou instrutiva das comunicações, estudando a linguagem dos Espíritos e as diversas características e especialidades de médiuns (videntes, aqueles que vêem Espíritos; audientes, aqueles que os ouvem, etc), ensinando como a identificação das possibilidades individuais é caminho seguro para uma boa prática da mediunidade.
Ainda nesse passo, o mestre francês se ocupa da formação e desenvolvimento da mediunidade, mostrando seus possíveis inconvenientes e perigos, estudando o papel e também a influência moral dos médiuns nas comunicações, bem como do meio onde este se encontra, e abordando, ainda, questões como obsessão (a influência persistente, incômoda e indesejável de um Espírito sobre outro), charlatanismo (quando pessoas se fazem de médiuns iludindo a boa fé das pessoas) e outras de igual importância, indicando sua sensibilidade na percepção da abrangência e complexidade da experiência mediúnica.
UM DETALHE A MAIS
Dissemos, no inicio dessas linhas, que o Espiritismo é fruto das manifestações espíritas. De fato, é impossível pensá-lo nascendo de outra maneira que não como conseqüência da análise das manifestações físicas e inteligentes que encontraram em Kardec observação e critérios seguros.
Aliás, é preciso dizer que o Espiritismo nasceu e se alimenta da mediunidade, haja vista que o constante intercâmbio com os Espíritos é condição essencial de sua sobrevivência, por ser o seu distintivo e por possibilitar a dilatação dos horizontes morais de toda criatura, ao contato com a realidade espiritual.
Allan Kardec percebia isso de maneira muito clara. Se, por um lado, consignou em O Livro dos Espíritos, que é considerado a obra principal do pensamento espírita, “a parte filosófica da ciência espírita”, procurou registrar, em O Livro dos Médiuns, “a parte prática, para uso dos que queiram ocupar-se com as manifestações, quer para fazerem pessoalmente, quer para se inteirarem dos fenômenos que lhes sejam dados observar.”
“Estas duas obras, se bem a segunda constitua seguimento da primeira, são, até certo ponto, independentes uma da outra. Mas, a quem quer que deseje tratar seriamente da matéria, diremos que primeiro leia O Livro dos Espíritos, porque contém princípios básicos, sem os quais algumas partes deste se tornariam talvez dificilmente compreensíveis”.
Assim, O Livro dos Médiuns deve ser visto, lido e estudado como uma continuação de O Livro dos Espíritos. Cientes desta verdade, é possível devassar-lhe as páginas com um novo olhar, redescobrindo seus ensinos e descortinando novos horizontes.
CAMILO, Pedro. O melhor e mais completo guia para médiuns. Universo Espírita, São Paulo, Universo Espírita, Ano 6, n. 63, p. 54-57, 2009.
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