Os atributos de Deus

A fé racional faz com que a busca do homem por Deus seja um processo que tem começo, mas não fim. As descobertas sobre a natureza divina durante essa trajetória levam à sublime e verdadeira comunhão com Deus

Por Juvan de Souza Neto

Pode-se dizer que atualmente é diminuta a parcela de pessoas que se declara verdadeiramente ateísta. Cada vez mais, a crença num Ser Superior é admitida e impulsionada pelas populações no mundo. Interessante é observar que nenhum povo, raça ou grupamento humano, desde os tempos primitivos e em qualquer época da humanidade, se declarou verdadeiramente ateu. Os registros históricos, paleontológicos e culturais mostram a ligação do homem com a divindade desde os mais remotos tempos.

Então, partindo da constatação da realidade da existência de Deus – sensação haurida não só pelo conhecimento repassado pelos pais e tradições familiares, ou pelo estuda história e das religiões, mas principalmente pela sensibilidade – , o homem passa a buscar entender e conceituar Deus em sua intimidade, tudo para fortalecer esta busca infinita, que apenas se inicia.

A fé racional e consciente faz com que a busca pelo homem por Deus seja um processo que tem um começo, mas que não terá fim. Devido a esta filiação divina, o homem está imerso numa trajetória evolutiva infinita, e cada vez mais, sua ligação, sua intimidade com Deus será maior. E este é, talvez depois da sua imortalidade, o maior presente que o Criador já outorgou a seus filhos: a capacidade da comunhão total com Ele, quando esses mesmos filhos cumprirem sua trajetória evolutiva e se tornarem Espíritos perfeitos. A interação com o Pai, neste momento, será perene.

E é justamente nesse ponto, quando a interação do homem com deus se torna mais latente, que sentimos a grandiosidade dos conceitos que a Doutrina Espírita nos mostra sobre o Criador e seus atributos.

O QUE É DEUS?

A Doutrina, na sua missão de trazer novamente o Evangelho redivino, fala sobre um Deus Diferente e pleno de amor, não mais um “senhor de guerra” ou um soberano intocável, mas um Criador que institui uma legislação sábia, imutável. E, sobretudo, racional.

Para quem não sabe, a Doutrina Espírita tem a crença na existência do Criador como pedra angular de toso o seu edifício doutrinário. O advento do Espiritismo na Terra, que se deu pela publicação de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, destina suas 16 primeiras questões – de um total de 1019 – para o tema “Deus”. Inteligentemente, a diferença com as demais crenças inicia já na sua questão número um.

Allan Kardec, dotado de incrível percepção e intuição superiores, já pergunta aos Espíritos “o que é Deus”, e não o tradicional “quem é Deus”- já demonstrando um conceito muito diferente do tradicional – o do velhinho de barbas brancas – e mostrando que Deus, na verdade, possui um conceito além da compreensão humana. Aliás, é isto que nos fascina: a humanidade dos Espíritos Superiores e do próprio Kardec em admitir que estamos evolutivamente aquém da capacidade de entender verdadeiramente Deus.

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”; essa foi a resposta dada na primeira questão de O Livro dos Espíritos. Aqui, já se elimina a idéia de Deus como alguém com características humanas. Subtrai-se o antropomorfismo do Criador, que vive até hoje no seio das religiões tradicionais – que crêem num Ser punitivo, vingativo, mau.
Para o Espiritismo, Deus está infinitamente acima dessas conceituações incompletas, muito próprias da pequenez de nós, homens.

A CIÊNCIA EXPLICA A DIVINDADE

Diz O Livro dos Espíritos que a prova da existência de Deus pode ser encontrada na máxima aplicada às ciências: não há efeito sem causa. “Procurai a causa de tudo que não é obra do homem e a razão vos responderá”, atestam os Espíritos. Kardec tece comentários a esse respeito, dizendo que se o homem lançar os olhos às obras da Criação verá a existência do Universo. Portanto, é um efeito que deve ter uma causa. A causa é Deus. Lógica pura e direta.

Os Espíritos também rechaçam a tese de que o sentimento da existência de Deus é fruto da obra da educação ou produto de idéias adquiridas – na família, por exemplo. “Se assim fosse, por que os selvagens teriam esse sentimento?”, questionam os Espíritos, devolvendo a pergunta a Kardec e seus médiuns.

A Doutrina Espírita atesta a existência de Deus, sufoca o materialismo e traz todo um novo panorama para a crença humana, Os Espíritos realmente admitem que falta ao homem o sentido para entender a natureza íntima de deus.

 

O fato é que o Espiritismo propõe-nos uma relação com Deus absolutamente abstrata. O Criador – embora saibamos que seja o mesmo em todas as religiões e devemos respeitar todas as crenças como parcelas de uma verdade única – ganha um entendimento diferente na Terceira Revelação. O Deus que o Espiritismo nos traz ultrapassa aquela imagem do velhinho de barbas longas ou de um senhor de exércitos, zangado e punitivo. O Espiritismo mostra Deus sem esta visão monárquica de seu reino, e acrescenta ainda mais ä racionalidade da fé ao despachar de vez a crença numa suposta trindade, pois O coloca em seu devido lugar: como nosso Criador incriado, e Jesus como seu filho, nosso irmão. De ‘rei’ e integrante da ‘trindade’, o Cristo passa a ser o governador espiritual do planeta Terra – Espírito perfeito que acompanha o planeta desde sua formação geológica.

E nós, espíritos imortais, porém imperfeitos, somos os irmão de Jesus, a caminho do Pai e anda tão imaturos que não podemos entendê-lo de forma plena. Um dia, porém, teremos a primazia da verdadeira comunhão com o Pai. “Quando o Espírito do homem não estiver mais obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, se houver aproximado do mistério da Divindade, ele então O verá e compreenderá”, prevêem os Espíritos na 11ª questão de O Livro dos Espíritos.

DEUS, A CIÊNCIA E O CRISTIANISMO

É interessante destacar que a vinda do Cristo (Segunda Revelação) teve papel preponderante na disseminação da idéia de Deus (que já era considerado como único, devido à Primeira Revelação de Moisés). Jesus Cristo aliou a idéia do Deus único ao seu Evangelho (código moral), redefinindo o pensamento sobre Deus para toda a humanidade e desenhando para o homem o mapa de sua relação com o Pai.

Emmanuel, no livro que leva seu nome, psicografado por Chico Xavier, comenta que o Cristianismo inaugurou um novo ciclo de progresso espiritual, pois renovou as concepções de Deus no seio das idéias religiosas – apesar de que a propagação das idéias de Jesus deu lugar ás várias interpretações das Escrituras e abriu espaço aos dogmas da fé.

Jesus foi realmente quem sedimentou a idéia de Deus. Ao Espiritismo (Terceira Revelação) coube, a partir de 1857, a missão de relembrar a verdadeira mensagem de Jesus e acrescentar informações que o Cristo confessou serem avançadas demais para a época em que ele encarnou entre os homens. E ele disse isto textualmente.

 

O mais interessante, porém, é ver que Emmanuel, no mesmo livro, contextualiza Deus, O Cristianismo, o Espiritismo e a Ciência – entrelaçando os três últimos como complementares – até, mesmo porque Emmanuel já via o Espiritismo em seu tríplice aspecto, contemplando elementos de religião, ciência e filosofia. “A Ciência desvendou ao espírito humano as perspectivas inconcebíveis do infinito: o telescópio descortinou a grandeza do Universo e os novos conhecimentos cosmogônicos demandaram outra concepção do Criador”, destacou Emmanuel. E acrescentou: “Desvendando, paulatinamente, as sublimes grandiosidades da natureza invisível, a Ciência embriagou-se com a beleza de tão lindos mistérios e estabeleceu o caminho positivo para encontrar Deus, como descobrira o mundo microbiano, ao preço de acuradas perquirições. É que a Divindade das religiões vigentes era defeituosa e deformada pelos seus atributos exclusivamente humanos; as Igrejas estavam acorrentadas ao dogmatismo e escravizadas aos interesses do mundo”.

Para Emmanuel, a Ciência tem no universo infinito condições de conceituar Deus, através da pesquisa. Ele não está errado.

JUVAN DE SOUZA NETO é jornalista. Trabalhador da Casa Espírita Jesus de Nazaré, em Barra Velha, litoral norte de Santa Catarina, é editor do jornal doutrinário Espaço Espírita.

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Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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