Quando ciência e religião se encontram

Que o Espiritismo tem na ciência uma de suas bases, disso não há dúvidas. Contudo, durante anos, os conceitos científicos aplicados à doutrina espírita divergiram daqueles tradicionalmente aceitos pela comunidade científica. A sociedade passou, então, a desacreditar dos ensinamentos publicados por Allan Kardec como ciência. O Espiritismo passou a habitar o campo da fé e do misticismo.

Cada vez mais, porém, a ciência dita tradicional descobre fatos novos, desvenda leis naturais e conceitos que a aproxima, mesmo que por acaso, do Espiritismo. Hoje, a idéia de um universo eterno, por exemplo, já se sobrepõe ao velho modelo do big bang de criação do cosmos. É a ciência admitindo a existência do eterno, do infinito, do infindável, do divino.

No livro Do big bang ao Universo eterno1, o cosmólogo brasileiro Mário Novello apresenta aos leitores uma nova visão da ciência acerca da criação do Universo, na qual se deixa de lado aquele cenário em que tudo o que existe foi gerado por uma grande explosão que ocorreu há alguns bilhões de anos, e admite-se a possibilidade de um Universo que sempre existiu.

Segundo o autor, as pesquisas mais recentes apontam para a existência, no universo, de um tipo de energia especial que viola as condições de aplicabilidade dos “teoremas da singularidade”, ou seja, que impede que o Universo tenha tido um começo singular em um tempo finito.

Além disso, para o autor, o modelo do big bang constitui a própria negação da ciência, pois inibe a possibilidade de uma descrição completa e racional da totalidade do universo. A origem da grande explosão torna-se inacessível ao modo científico de analisar os processos físicos.

De acordo com o renomado cientista, abdicar de examinar o momento de condensação máxima pela qual o Universo passou não deveria sequer ser considerada uma atitude científica, razão pela qual a idéia de um big bang seria apenas uma versão moderna de antigos mitos da Criação.

O modelo de um universo eterno, por sua vez, vem apresentando grande compatibilidade com as novas descobertas da ciência. Segundo o autor, a análise da evolução de estruturas materiais em grande escala – como, por exemplo, as galáxias – permite distinguir propriedades do Universo associadas a uma fase colapsante anterior à atual fase de expansão. Isto é, evidencia a existência de um universo precedente à grande explosão.

Esse modelo não nega a ocorrência do big bang, mas tão somente afirma que essa explosão constitui apenas parte da história evolutiva do Universo, e não a sua origem, seu marco inicial.

Por fim, o próprio autor faz um alerta quanto ao mau hábito da sociedade, científica ou não, de adotar novas descobertas como verdades absolutas. Para ele, não devemos perder de vista que a ciência produz verdades provisórias. Em alguns momentos de sua história, uma dada explicação se mostra tão eficiente que os cientistas caem na tentação de considerá-la a verdadeira descrição da realidade, quando se trata somente de uma representação. Com a idéia de um universo eterno deve-se ter o mesmo cuidado.

Não obstante a adoção de uma ou outra corrente científica, o que interessa a nós, estudiosos da doutrina espírita, é verificar na prática a ocorrência daquilo que Allan Kardec já anunciava em 1868, com a publicação de A Gênese2, quando se afirmou que a Ciência seria chamada a constituir a verdadeira Gênese, segundo a lei da Natureza.

Conceitos como esse, de um universo eterno, antes prontamente rechaçados pela ciência tradicional, mostram-se cada vez mais lógicos, sensatos e possíveis aos olhos dos cientistas modernos. É, talvez, um primeiro passo para que a ciência e a religião caminhem, enfim, lado a lado.

Mais do que isso, o simples fato da ciência, hoje, admitir a existência de algo eterno, que foge à compreensão do ser humano no atual estágio em que se encontra, já constitui grande aliado em nosso progresso espiritual. Quem diria que idéias tão transcendentais um dia fariam parte das discussões de físicos, astrônomos e cosmólogos?

Que o Espiritismo sempre teve na ciência uma de suas bases, disso todos nós já sabíamos. Cabe agora aos homens da ciência cumprirem sua parte.

 

Por Filipe Rigo Noriller


1 NOVELLO, Mário. Do big bang ao Universo eterno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.
2 KARDEC, Allan. A gênese: os milagres e as predições segundo o espiritismo. 20. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1978.
Imagem: http://eternosaprendizes.com/

 

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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