“Vamos buscar Deus com firmeza”, diz Jason de Camargo

“Eu acredito que, todos laborando no bem e entrando no espírito de solidariedade, de bondade que nós temos, se nós multiplicarmos tudo isso, teremos uma Terra mais feliz no futuro. Os trabalhadores ainda são poucos, mas estão aumentando gradativamente. “

Por Elizete Schazmann

Recentemente o presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, Jason de Camargo, esteve em Blumenau falando sobre Educação dos Sentimentos, tema sobre o qual tem um livro publicado (“Educação dos Sentimentos”, Editora Letras de Luz). Em entrevista ao Informativo Nova Era (INE),ele falou sobre alguns temas da atualidade.

INE – O crescimento da violência e a sua banalização pela mídia têm gerado uma sensação de incapacidade diante desse grave problema social. Como resgatar os bons sentimentos diante de tudo isso?

Jason – O indivíduo, quando se volta para a espiritualidade, precisa se firmar buscando dentro de si as condições que o conduzam à uma firmeza de atitudes. O que se observa é que a maioria das pessoas se deixa conduzir pelos fatos, pelas ocorrências da vida, pelos sistemas sociais e nesse deixar-se conduzir adquire-se toda a ansiedade, o nervosismo, o medo que a sociedade carrega neste momento. Para reverter isso é preciso buscar, através da meditação sistemática e da prece, uma realimentação das coisas positivas, da paz interior, uma realimentação dos projetos de vida. Nós temos que buscar sempre sair do tumulto, das sombras do clima social e nos encaminharmos para a luz. Cada passo que nós dermos em direção a Deus ele dará cem passos em nossa direção. Essa firmeza em buscar a divindade vai produzindo a cada passo mais força interior para o indivíduo. Nós não podemos deixar que os fatores externos interfiram no nosso equilíbrio interno, sob pena de sermos mais um sofredor da sociedade.

INE – Outro agravante social que interfere nos nossos sentimentos é a questão das diferenças sociais. Apesar de praticarmos a caridade isso ainda nos parece tão pouco diante de tantas injustiças. Como trabalhar esse sentimento muitas vezes de impotência diante de uma realidade tão cruel?

Jason – Em primeiro lugar é preciso que aqueles que já laboram no bem continuem seu trabalho produzindo cada vez mais. Eu lembro de um história de um jornalista francês, que foi até o sul do seu país. Lá havia um deserto onde ele se perdeu e estava quase à morte quando foi encontrado por uma pessoa que morava naquela região. Quando o jornalista se recuperou quis saber daquele que o havia salvado o que fazia naquele lugar deserto e ele responde: ” Eu já plantei nesse deserto 100 mil sementes de carvalho, 50 mil não vingaram, 40 mil foram comidas pelos ratos do deserto, mas 10 mil estão vicejando.”

Passados dez anos, o jornalista retorna ao sul da França e vê uma pequena floresta e no seu entorno um vilarejo em franco progresso. Ele procura o homem que o havia salvado e se surpreende ao saber que agora ele era um apicultor. Aproveitando os recursos da floresta ele produzia mel e distribuía para a comunidade pobre do vilarejo. A partir dessa história observamos que um homem foi capaz de transformar um deserto, que representa a morte, o sofrimento da vida, em uma vida mais pujante. De uma maneira geral nós subestimamos nossa
capacidade de auxiliar o semelhante. Todos temos grandes capacidades para auxiliar, para multiplicar. Muitas vezes o exemplo de pessoas perseverantes no auxílio ao próximo, como Chico Xavier, Irmã Dulce e muitas outras, conduzem outras a fazerem o mesmo. Nós temos que continuar laborando no bem, multiplicando o bem. Sobre a propagação de nossos sentimentos e ações, lembro-me de um breve diálogo de Sócrates com Diotima, em que ele diz a Sócrates:

” – O amor não é a procura do belo, como pensas. (A busca da alegria,
dos prazeres da vida…)
-Mas então, o que é o amor?
– O amor, Sócrates, é a procriação do belo, é a multiplicação da
felicidade que se faça.”

Por isso eu acredito que, todos laborando no bem e entrando no espírito de solidariedade, de bondade que nós temos, se nós multiplicarmos tudo isso, teremos uma Terra mais feliz no futuro. Os trabalhadores ainda são poucos, mas estão aumentando gradativamente.

 

INE – Outro problema dessa sociedade em conflito e em transformação é a depressão. Que caminhos a sociedade pode percorrer para reverter esse processo?

Jason – A depressão surge em pessoas que apresentam um psiquismo um tanto fragilizado. Elas reencarnam com uma certa fragilidade provocada por encarnações passadas e despertada pelas contingência do social. Muitas vezes a depressão se desencadeia porque as coisas não se realizam de acordo com as exigências da pessoa.

Todo esse processo exige que se fortaleça o consciente. Quando os problemas do inconsciente drenam para o consciente, fragilizando-o, o indivíduo terá uma tendência para o transtorno de comportamento. Aí é preciso fortalecer o consciente para que ele resista melhor aos problemas da vida.

INE – Como fortalecer o consciente?

Jason – Dizem os psiquiatras espíritas que somente o tratamento médico cura em torno de 30% dos casos de depressão, o tratamento médico mais a terapia resolvem cerca de 60%, se nós somarmos a tudo isso uma educação moral chegamos a 95% de cura. Essa educação mental, comportamental do indivíduo, voltando-se para a tarefa do bem , para auxiliar o próximo, até encurta os problemas cármicos. Aí as depressões não irão se avolumar como estão se avolumando. Falta-nos essa perspectiva de renovação moral dos sentimentos e no trabalho em direção ao semelhante.

Fonte: Informativo Nova Era

09.2004

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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