Você não sabe com quem está falando!
Por Manoel Fernandes Neto
E o fato não tem nada de estranho. Espíritos milenares que somos, trazemos nos arquivos vivências e ocorrências de milhares de vidas na matéria, a partir das formas primárias. Personalidades que se acumulam no corpo astral e influenciam atitudes a partir de novas situações. Conhecer-se a si mesmo, como orientou o filosofo, é muito menos saber dos nossos gostos superficiais desde o nascimento e sim, conhecer mazelas arraigadas e reveladas no silêncio da noite escura de cada um.
Você não sabe com quem esta falando quando se surpreende com ato destemperado de alguém, até então sereno e curativo. Algo poucos tons acima da franqueza natural de quem tem como objetivo mostrar caminhos equivocados. Destempero é falta de equilíbrio, advindo de processos desconhecidos, erva daninha que, ano a ano, secularmente, vão impregnando o nosso jardim íntimo.
Temperança, por sua vez, não quer dizer concordância com tudo e com todos. Mas uma forma de agir em que a gentileza genuína prevalece acima dos próprios humores. Por isso é tão relevador ter a consciência de não saber com quem se está falando. Em relação ao outro, evita decepções angustiantes: o patamar da jornada é individual e único. Em relação ao próprio espírito imortal, habitante incógnito dentro de nossa carcaça, um convite à pesquisa e à investigação.
Existe um lugar comum entre os reencarnacionistas: saber o que fez ou o que foi. Naturalmente, preocupar-se mais com o efeito do que com a causa, essa sim, é premente de ser revelada. Não esconder-se das causas em rituais do cotidiano: é a receita para perder cinco quilos em uma semana; é o diálogo público de coisas particulares na rede social; ou mesmo a meditação tântrica após um banho de pétalas de rosas vermelhas; ou, ainda, a corrente de felicidade eterna disparada por e-mail para os amigos e desconhecidos, com a singela frase que revela a própria crença: "Gente, não custa nada tentar!"
Custa, sim, e custa caro. De ritual em ritual, enterra-se o que de fato somos, impossibilitando correções e ajustes. O resultado é que nos tornamos reféns de nossos perfis, nem percebendo o quanto relevador é cada compartilhamento de atitudes, mesmo sem participar de orkut, facebook ou twitter. Tive um professor que dizia que tudo que é publicado, falado, exposto compõe a sua história. E, de impublicável em impublicável, nos afastamos de pessoas que podem colaborar conosco, seja com uma palavra, um sorriso, ou mesmo com a franqueza de dizer aquilo que não queremos ouvir. Mais delicado: sepulta-se por um longo período qualquer chance de diálogo íntimo, este sim, o mais importante.
Somos luzes, não se cansa de nos lembrar Heloisa Pires, nas palavras de seu pai, Herculano. Que possamos deixar essa essência prevalecer e revelar esse desconhecido milenar; morador íntimo que revela sua face sem nos surpreender.
Ler outros artigos de Manoel Fernandes Neto
{{edicoes}}