Alerta Amarelo com um novo discurso

Se a teoria espírita nos coloca na posição de protagonistas em nossas vidas, não há qualquer predestinação de espíritos para lugares de “pranto e ranger de dentes”.

Marcelo Henrique

A vida possui muitos dissabores. Dificuldades de convivência e relacionamento; contratempos, imprevistos, perdas; reveses no trabalho, na vida afetiva, desilusões amorosas, embates entre parentes e amigos… Todos passam por isso. Alguns mais, outros menos. Somos criaturas eternas, com inúmeras vivências anteriores, embora nossa memória não forneça claros e completos registros, mas o fato é que estamos na Terra para cumprir testes, resgatar faltas do passado e cumprir missões de variadas importâncias.

Assim é a cátedra espírita.

Cada um, individualmente, sabe o peso do fardo que carrega. Aquele Sublime Carpinteiro, motivado por consultas dos que lhe seguiam, atento às necessidades de todos e com sua didática do amor, certa feita vaticinou: “- Vinde a Mim, os que estão aflitos e sobrecarregados, pois eu sou o alívio. Suave é o meu jugo e leve, o meu fardo”. Quanto carinho e compreensão vindo daquele que foi um dos maiores que já pisou no solo deste planeta…

Estamos iniciando mais um mês do calendário humano e as campanhas, que se repetem a cada ano, informam que Setembro é Amarelo. O amarelo da atenção, do cuidado, da percepção aguçada, do amparo, da solicitude, do ombro amigo, do ouvido compreensivo, dos que podem ajudar alguém a carregar o fardo, num momento de fraqueza e desespero.

O alerta amarelo é acerca da perspectiva de muitos dos que nos circundam não conseguirem resistir à visão imediata da vida, ante a ausência de respostas ou justificativas para problemas e dificuldades, e no entendimento de que, fora da existência, possam estar melhores ou mais aliviados. E vão-se, muitos, pela porta do suicídio, a interrupção voluntária da vida.

Kardec, nossa referência, dialogou com os Espíritos Superiores sobre o tema. E foi além, ao interpretar relatos de alguns que, não conseguindo mais continuar suas jornadas, delas deram cabo em atos agudos e irreversíveis. Pelos textos da Filosofia Espírita, no entanto, não há qualquer prescrição definitiva e condenatória a quem quer que seja. O Espiritismo deve ser, sempre, um caminho de compreensão e entendimento, seja qual for o destinatário, tanto o indivíduo que abdica da vida material – mas conserva a sua espiritual – quanto para seus entes queridos que por aqui permanecem, muitos, inconsoláveis.

Por vezes, leio textos ou assisto palestras (presenciais ou em vídeo), uns e outros ditos espíritas, vejo expositores ou articulistas se apressarem em prescrever acerca do que vão encontrar os suicidas além do portal da morte. Citam, inclusive, alguns relatos tidos como mediúnicos, pós-Kardec, para referendar suas incipientes teses. Em paralelo, é bastante comum que os espíritas tradicionais falem de “lugares circunscritos” para onde vão os  “sofredores”, os “devedores” e, como o tema permite, os “suicidas”. Compõem colônias ou vales, onde o sofrimento descrito se assemelha muito às passagens bíblicas antiquíssimas, em que são caracterizados o Purgatório ou o Inferno das religiões cristãs.

 

Causa assombro ver essa repetição e ênfase na “cultura do sofrimento”, quase uma idolatria, como se a “passagem” pela dor fosse condição inescusável e inafastável para a progressão dos Espíritos. Não é!

Parece-nos que a afinidade com tal cultura extravasa séculos, quiçá milênios, entre encarnações sucessivas, e as prédicas acabam sendo constantes na tríade “medo-culpa-punição”, como que uma justificativa para as próprias penúrias que o ser vivencia, quando na carne, ou fora dela.

Esquecem-se, tais pessoas, que nem o mais “temente” ser, num momento de profundo desespero e não conseguindo enxergar outras saídas, não evita o ato capital apenas por prescrições de natureza religiosa, sejam de onde provenham. Se assim fosse, aqueles, por exemplo, que se dizem cristãos,

inclusive partícipes de igrejas ou templos, ou de casas espíritas, jamais passariam por estes momentos dolorosos, seja em relação a si mesmos, seja em face daqueles que ombreavam com eles as atividades ditas religiosas.

O discurso há de ser outro. E as atitudes, também. Se a teoria espírita nos coloca na posição de protagonistas em nossas vidas, não há qualquer predestinação de espíritos para lugares de “pranto e ranger de dentes”, indefinidos quanto ao tempo, como parecem prelecionar muitos espíritas. As atitudes de cada um, no curso das existências, é o condão, o fiel das nossas balanças existenciais, e o amor, enquanto realidade e prática de cada passo, opera como “advogado” importante para avaliar nossos desatinos e atos negativos. Sempre…

Esperamos da casa espírita MUITO mais diálogo, muito mais ATITUDES. Há quanto tempo você não conversa com o seu companheiro “de mesa” ou “de trabalho”. Vocês se conhecem, mesmo? Quando é que a conversa vai além do mero cumprimento, das amenidades, ou do “como vai”, que na verdade é uma saudação corriqueira, porque, as mais das vezes, quase ninguém tem tempo (nem interesse) de saber como a vida do outro está indo. E quanto às pessoas que, semanalmente, comparecem às atividades, para assistir uma palestra, participar do estudo ou receber um passe? Quem são eles? De onde vêm? Do que precisam?

Especialistas em prevenção do suicídio – autoridades, profissionais clínicos ou voluntários capacitados de organização não-governamentais – salientam sempre que o maior “antídoto” contra o suicídio é o acolhimento. É o estar PRESENTE. É o disponibilizar os OUVIDOS. É o ficar JUNTO. É o se disponibilizar, pelo diálogo, pelo carinho, pela assistência, em ser o ombro amigo, o parceiro, o ouvinte. Sem julgar, sem condenar, sem prescrever quaisquer condutas.

Desejo que a sua casa ou trabalho espírita possa destinar alguns instantes dos múltiplos e compenetrados afazeres para o acolhimento. O Alerta Amarelo está sempre às nossas vistas. É preciso enxergar… E ajudar!

Vamos?

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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