Justiça Divina

Fabrício Gasparetto

Falando de Justiça Divina, a primeira questão que devemos trazer à tona é a da NÃO EXISTÊNCIA DO NADA, pois o NADA não existe.

Que sentido teria nossa vida se nossas conquistas morais se perdessem da noite para o dia? Onde estaria a Justiça Divina, se realmente existisse o nada? E se as pessoas que se dedicaram a vida toda ao amor e à caridade tivessem o mesmo destino de alguém que só fez o mal aos seus semelhantes?

Acreditar em Deus sem admitir a vida futura é um grande contrassenso.

O homem sempre se preocupou com o seu futuro após a morte. Independentemente da religião a que pertença, e de qual destino essa crença dê à sua alma após a morte. Mas de acordo com a interpretação ou interesses da instituição, uma coisa não se nega: a continuidade da vida.

Temos o costume de avaliar as passagens, as dificuldades da vida como castigos divinos. Atavismos ancestrais levam significativa parte da humanidade a acreditar-se “pecadora”, e que esses pecados resultaram de castigo por parte de Deus.

Essa forma de pensar foi herdada das religiões que abordam o assunto justiça divina de forma totalmente equivocada, utilizada para controlar as pessoas e manter a sua estrutura. Criam na mente desses espíritos a falsa ideia de que o ser humano tem de sofrer, ser punido pelos seus erros.

Derivativo deste pensamento é acreditar que Deus é cruel e vingativo; que ele castiga os seus filhos. E erro maior ainda é o de se considerar que toda pena é eterna em local destinado ao suplício.

O Espiritismo e a razão nos dão outra visão. O homem não é um pecador; é um espírito criado simples e ignorante, destinado a alcançar, por seu próprio esforço, a plenitude, a perfeição, a felicidade maior que existe em planos espirituais mais elevados. Deus criou todos iguais, sem privilégios para ninguém, e dotou o homem do livre-arbítrio, para que cada um possa caminhar com plena liberdade de ação e aprender com o próprio erro. Estabeleceu uma lei de resgate natural, denominada Lei de Causa e Efeito.

A Lei de Causa e Efeito é complemento necessário à Lei de Justiça, de Amor e de Caridade. Por ela o homem vai, com seu próprio esforço, corrigindo os erros, se purificando, até alcançar a perfeição e a consequente felicidade.

A Lei de Causa e Efeito, também chamada de Lei de Ação e de Reação, é automática, ou seja, gera naturalmente consequências em relação aos nossos atos. Atos bons trazem como consequência efeitos positivos. Atos maus, efeitos ruins. Atos medianos e neutros, efeitos iguais. Tudo interligado em uma teia complexa e surpreendente.

A semeadura é livre, a colheita é obrigatória. Todos, absolutamente todos, colheremos sempre apenas e tão somente o que plantarmos. Por analogia, citamos o caso real das plantações na terra: podemos escolher se vamos plantar trigo, soja ou espinhos, mas a colheita vai ser obrigatoriamente aquilo que plantamos.

O homem, no início simples e ignorante, vai ampliando o seu livre-arbítrio à medida que avança em sua reforma íntima. Ele erra, porque é imperfeito. Com as consequências de seus erros, ele aprende; e quando aprende, não erra mais.

O erro é consequência da imaturidade. Um exemplo claro é o das crianças, que em seu processo de aprendizagem sofrem muitas vezes efeitos de seus atos, e, quando adultos, sorriem ou se envergonham ao verificar quanta coisa tiveram de passar por sua própria culpa. Quem já não ouviu aquela velha frase: “Se eu tivesse, quando mais jovem, a experiência que tenho hoje, como as coisas teriam sido diferentes…”

Então, a questão da causa e efeito se explica bem diante de nossas atitudes, principalmente em pensamentos e sentimentos, que serão as causas das nossas tristezas e sofrimentos ou das alegrias e conquistas.

A forma como visualizamos as coisas, as dificuldades, as facilidades, nos agitam ou nos tranquilizam. Está em nós, muitas vezes, a solução para os nossos problemas. Não é fácil passar por privações, doenças, mortes de entes queridos, pois estamos em aprendizado, mas devemos aceitar e lutar, para superar essas dificuldades da melhor forma possível e com muita fé em Deus.

Na verdade, se pensarmos um pouco, Jesus foi um exemplo na Terra de amor puro e de perdão incondicional. A porção divina materializada.

No caso de Deus, então, é a suprema perfeição, causa primária de todas as coisas. Deus é infinitamente bom e justo e não castiga os seus filhos; eis que apenas criou a lei de causa e efeito, para que todos nós somente soframos as consequências de nossos próprios atos e, com essas dificuldades, possamos avançar infinitamente.

Deus nos criou para a felicidade, não para o sofrimento. É um erro supor que a Terra será sempre um vale de lágrimas. Ela, hoje, ainda como planeta de provas e expiações, abriga em seu seio espíritos muito imperfeitos. E a situação desordenada do mundo nada mais é do que a colheita coletiva que estamos fazendo dos atos repletos de egoísmo e de toda essa falta de amor com que temos agido ao longo de nossa caminhada, em nossas reencarnações. Forma em que ainda insistimos em agir nesta existência.

Aprendendo a nos amarmos, e colocando esse amor na frente de todos os nossos atos, mudaremos o mundo e construiremos, aqui na Terra, um planeta maravilhoso, fraterno, saudável, sustentável e feliz. Somos os construtores de nosso destino. Por enquanto, ainda plantamos muito egoísmo e agimos com muita falta de amor. Mas nossos erros guardam em si mesmos o remédio para nossos males e nos impulsionam a mudar nossos hábitos e promover a cada dia a nossa reforma íntima.

Na verdade, temos que começar a ver Deus de outra forma. Não como um Senhor ou um Rei, pois ele não se coloca desta forma, respeita nosso livre-arbítrio, entende nossa ignorância e nos ama, mesmo quando cometemos o pior dos crimes. Muito melhor nos colocarmos diante de Deus como auxiliares da boa-nova, como professores praticantes de seus ensinamentos, do que O temermos e cumprirmos rituais criados pelos homens, que não têm sentido algum.

E sempre temos o Evangelho:

“Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado”.

As coisas do mundo nos confundem, e cabe a nós diferenciarmos o que é importante e o que é transitório, inútil, fútil, em nosso dia a dia.

Poucos de nós compreendemos que somente provas bem suportadas podem nos conduzir à elevação espiritual.

O desânimo é uma falta, pois devemos ter coragem para persistir.
Nós devemos agradecer a Deus por nos enviar à luta, pois não temos amor e perdão ainda como características nossas. Não praticamos a caridade como hábito permanente, não olhamos ainda as pessoas à nossa volta, independentemente de classe social, raça, cor, religião, como nossos irmãos.

No livro “A CABANA”, de William Young, o personagem Mack trava um diálogo com Jesus que nos faz refletir como ainda estamos enraizados a instituições, dogmas e preconceitos e com dificuldade de compreender o que é o amor universal:

JESUS: Mack, eu as amo (falando das pessoas da igreja/instituições). E você comete um erro julgando-as. Devemos encontrar modos de amar e servir os que estão dentro do sistema, não acha? Lembre-se, as pessoas que me conhecem são aquelas que estão livres para viver e amar sem qualquer compromisso.

MACK: É isso que significa ser cristão? – Achou-se meio idiota ao dizer isso, mas era como se estivesse tentando resumir tudo na cabeça.

JESUS: Quem disse alguma coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão. (Grifo nosso).
A ideia pareceu estranha e inesperada para Mack e ele não pôde evitar uma risada.

MACK: Não, acho que não é.

Chegaram à porta da carpintaria. De novo Jesus parou.

JESUS: Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, e em irmãos e irmãs, meus amados. (grifo nosso).

MACK: Isso significa que todas as estradas levam a você?

De jeito nenhum – sorriu Jesus, enquanto estendia a mão para a porta da oficina. – A maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês. (Grifos nossos).

Então, devemos raciocinar para perceber o que realmente vem da Justiça Divina e o que foi criado pelos homens que são, por essência, cheios de imperfeições e, consequentemente, de interesses.

A Justiça de Deus é amor, e o amor é uma usina geradora de felicidade que nos conduzirá sempre pelo melhor caminho, para que possamos cumprir nossos objetivos nesta encarnação.

Se você ainda não sabe exatamente o que a vida deseja de você mesmo, tente aprender a amar e, com certeza, cumprirá a maioria, senão a totalidade de Seus desígnios.

Mensagem de Emmanuel: Diante de Deus

Para Jesus, a existência de Deus não oferece motivo para contendas e altercações.
Não indaga em torno da natureza do Eterno.
Não pergunta onde mora.
Nele não vê a causa obscura e impessoal do Universo.
Chama-lhe simplesmente “nosso Pai”.
Nos instantes de trabalho e de prece, de alegria e de sofrimento, dirige-se ao Supremo Senhor, na posição de filho amoroso e confiante.
O Mestre padroniza para nós a atitude que nos cabe perante Deus.
Nem pesquisa indébita.
Nem inquirição precipitada.
Nem exigência descabida.
Nem definição desrespeitosa.
Quando orares, procura a câmara secreta da consciência e confia-te a Deus, como nosso Pai Celestial.
Sê sincero e fiel.
Na condição de filhos necessitados, a Ele nos rendamos lealmente.
Não perguntes se Deus é um foco gerador de mundos ou se é uma força irradiando vidas.
Não possuímos ainda a inteligência suscetível de refletir-lhe a grandeza, mas trazemos o coração capaz de sentir-lhe o amor.
Procuremos, assim, nosso Pai, acima de tudo, e Deus, nosso Pai, nos escutará.
(Fonte Viva, F.C. Xavier/Emmanuel)

Bibliografia:

Xavier, Chico. Fonte viva. Editora FEB, 2007.
Xavier, Chico. Jesus no lar. Editora FEB, 2008.
Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. Editora FEB, 2008.
Kardec, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEB, 2005.
Losier, Michael J. A lei da Atração. Editora Nova Fronteira, 2007.
Young, William P. A Cabana. Editora Sextante, 2008.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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