O Evangelho como roteiro para a família
Por detrás das palavras escritas pelos evangelistas a respeito do que Jesus disse, existem preciosas lições de sabedoria que, quando contextualizadas, oferecem roteiros para a compreensão dos mais diversos problemas familiares. Para alcançarmos um significado mais profundo, além das palavras, é preciso abrir o coração para o sentimento do amor e a mente para a sabedoria espiritual.
A utilização do Evangelho, como ferramenta para o trato social, não exclui sua aplicação ao mundo íntimo de cada um, sobretudo quando na vivência das relações familiares. Nelas o
espírito se desenvolve e retoma seus processos psíquicos deixados em aberto nas encarnações precedentes.
O Evangelho ou Boa Nova é um guia precioso que pode nos fazer entender melhor, do ponto de vista psicológico, os mais complexos problemas envolvendo o relacionamento familiar. Jesus falou para pessoas que viviam num contexto familiar, portanto suas palavras não se dirigiam apenas a eles, mas também à família da qual faziam parte. Jesus trouxe idéias que podem nos levar ao entendimento de que a vida em família é um sistema possível, no qual a convivência e o auxílio mútuo podem proporcionar a felicidade ao grupo de espíritos que dela fazem parte. Suas idéias penetram o Espírito fazendo com que este olhe para si mesmo, mostrando-lhe que a Vida é mais do que o corpo e do que sua exclusiva felicidade.
Não estamos mais no tempo em que uma única pessoa é responsável pelos destinos de uma família. Todos agora são convidados a assumir os rumos que o grupo familiar vai seguir. Pais, filhos e agregados são co-responsáveis pelo futuro da família. A partir da adolescência o espírito assume sua encarnação, saindo da condição de criança que precisa de cuidados para a de adulto que já colabora e participa das decisões coletivas.
O espírito cada vez mais precocemente assume seus processos cármicos que influenciarão o próprio destino. Por esse motivo, a família se torna mais cedo o palco onde todos são convocados a colaborar uns com os outros, no qual se misturam desejos e expectativas com as provas que a Vida propõe a cada um. O Evangelho em família deve ser passado principalmente pelo exemplo. Quando verbalizado deve mostrar-se como lições imortais de amor e luz, proferidas com suavidade e sem manipulações moralistas. Que adianta proferir palavras para convencer alguém de uma moral que ainda não se pratica?
O Evangelho não pode ser transformado numa camisa de força para as gerações que estão reencarnando. Deve ser passado principalmente pelo comportamento, pois as palavras passam e as atitudes se impregnam em quem as vê. Não se deve obrigar alguém a aceitar uma ideia. Muito embora se deva tentar passá-la, é preciso respeitar os limites de cada um e seu momento evolutivo. A luz do Evangelho pode cegar aqueles que não estão acostumados à claridade, por isso é preciso ter paciência para que eles se acostumem. É preciso mostrá-la em doses adequadas para que sua divina claridade não prejudique sua absorção. As palavras de Jesus foram utilizadas para diversos fins. Uns fizeram delas bandeira para dominar e matar. Outros, como fio condutor do espírito para os caminhos do amor. Os exemplos são muitos de parte a parte. Temos que nos conscientizar do uso que delas fazemos para que os espíritos que conosco convivem não morram pelo nosso dogmatismo. A tolerância e a paciência, além do desejo sincero de auxiliar o outro, são instrumentos mais eficazes do que palavras, por mais verdadeiras que sejam.
Cada um traz seus processos cármicos a serem resolvidos. Eles são intransferíveis. O Evangelho, se bem vivido, torna-se poderoso instrumento para que a encarnação seja um abençoado momento de equilíbrio e aprendizado. Os ensinamentos nele contidos podem ser encontrados em outras religiões, pois o amor e a sabedoria não são privilégios dos cristãos e sim patrimônio de Deus.
A família é o núcleo básico da sociedade e sua expressão mais simples. Cada ser humano no convívio familiar deve aprender e vivenciar experiências que serão úteis em sua vida social. Deve buscar ser na sociedade o que é em família e vice-versa. Ausentar-se dela, sob pretexto de que é diferente dos demais com quem convive, é fugir do próprio destino e da oportunidade de crescer espiritualmente.
A convite da inspiração amorosa decidi por fazer um livro diferente. Neste trabalho trouxe alguns casos verídicos envolvendo conflitos familiares com que tive contato ao longo de mais de vinte cinco anos de atendimento ao público. Analiso cada caso à luz do Evangelho, da Psicologia Analítica e do Espiritismo, trazendo uma mensagem ao final de cada capítulo.
Evitei trazer idéias que se encontram no imaginário coletivo, optando por grafar histórias do cotidiano da vida real como ela é e com personagens que nem sempre encontramos nos livros. São histórias simples com pessoas também simples que podem ser encontradas na própria família da qual fazemos parte como também em nossos vizinhos. Não pertencem às galerias de famosos nem são conhecidos do grande público. São pessoas como eu e você e que estão em busca da felicidade. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto nem tampouco de me aprofundar demasiadamente, mas oferecer àqueles que se encontram sob a proteção da família subsídios no Evangelho para que possam guiar-se diante dos desafios e não venham a soçobrar sem suas claridades.
Interessei-me por reunir algumas palavras do Cristo num pequeno estudo sobre a família por considerar que é na família que sua mensagem deva ter importante aplicabilidade. A vida em sociedade é uma parte da vida do espírito. A outra se dá na família. Na sociedade ele vive o mundo da persona1 , o mundo cheio de máscaras. Em família ele se revela o mais próximo possível de sua realidade existencial.
Decidi por trazer aspectos específicos da mensagem do Cristo que pudessem atender ao mundo interior do ser humano, fugindo das interpretações generalistas ou exclusivamente ortodoxas. Neste modesto trabalho procuro levar o leitor a entender que em algumas palavras atribuídas ao Cristo se pode encontrar lições preciosas que o conduzirão à solução dos mais diversos conflitos vividos em família.
Publicado no livro Evangelho e Família.