O Livro por Excelência

Marcelo Henrique

Analisando-se a evolução da vida, percebe-se, de tempos em tempos, a eclosão de inventos e descobertas a facilitar a vida material: o fogo, a roda, a escrita. Detendo-nos nesta última, vamos nos aperceber que, além do desenvolvimento de um código de comunicação, propício para cada povo e época, ainda tivemos a busca pela melhor forma de acondicionar os registros, isto é, as diferenças de materiais nos quais a escrita foi sendo aposta. Paredes, argila, tábuas de pedra, pergaminho, papiro, até chegar ao papel, cada vez mais fino e branco, dos dias de hoje.

Do papel para a multiplicação dos escritos foi uma consequência natural. Precisavam, os escritos, de divulgação. Gutemberg, a seu tempo (séc. XV) concebeu a imprensa e, logo, a difusão do conhecimento tornou-se realidade. Isto tudo para chegarmos ao livro.

Sim, é dele que estamos a falar. 165 anos é a referência ao surgimento de O livro dos espíritos, a obra introdutória e fundamental da Doutrina Espiritista.

Denisard Hypollite Leon Rivail, o pedagogo, o homem de letras e ciências era dotado de espírito cético e questionador. Por certo, ouviu falar – pela imprensa da época – dos fenômenos da pequena Hydesville (New York, EUA, 1848), inquietantes e psicológicos, antevendo o instante da alvorada de luz sobre as trevas que viria bem em seguida. Convidado por amigos, relutante até o último momento, veio a presenciar algumas reuniões da aristocracia francesa, das mesas saltitantes e dançantes e das cestas escreventes. Interessou-se por descobrir a “causa inteligente” do fenômeno observado.

Neste cenário surge o livro. Resultado do esforço do gênio céltico, do sacerdote druida, do pregador e reformador tcheco, do professor francês… facetas de uma mesma personalidade espiritual, o bom-senso reencarnado.

Na obra, os Princípios Básicos do Espiritismo: Divindade, Individualidade (da alma) ou Espiritualidade, Transcomunicabilidade, Evolutividade, Pluralidade (das Existências e dos Mundos Habitados). Repousa nas Leis Naturais.

E, para termos a exata idéia do objetivo desta obra, Kardec mais tarde haveria de proclamar como indispensáveis dois elementos para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar. Ora, é justamente pelo livro (material ou virtual, como hodiernamente se vê) que se abrem as portas para a difusão do conhecimento, ou sua popularização – o alcance das massas.

 

O livro, hoje é o precioso instrumento, a útil ferramenta de popularização da Doutrina Espírita, para levá-lo a todas as pessoas, inclusive para quem não tem instrução, numa linguagem acessível. Mas, como “não se entrega um aluno para ser alfabetizado para quem não tem qualificação para tal”, há necessidade do estudo metódico, da disponibilização de cursos e espaços democráticos de aprendizado. Aí o porquê das sociedades espíritas, a fim de desenvolver os princípios da Ciência e difundir o gosto pelos estudos sérios.

A grande preocupação do momento, quanto ao livro, reside na proliferação de livros pseudo-espíritas (espiritismo x espiritualismo): romances, contos, psicografias, opiniões pessoais, “achismos”, sem o critério da “universalidade do ensino dos Espíritos”, base da tarefa kardequiana. Quais os critérios para publicar? Quais os critérios para indicar? Que obras adotar e recomendar? “Preferível é rejeitar nove verdades, do que aceitar uma só mentira”, tal a recomendação de Erasto ao Professor francês.

Até que ponto a cumprimos e respeitemos? Meditemos, pois!

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


Continue no Canal
+ Marcelo Henrique