Pintura mediúnica pode ser exercida com seriedade e dignidade, diz Florencio Anton

Por Manoel Fernandes Neto*

A presença do médium e conferencista Florencio Anton em Santa Catarina desperta costumeiramente em alguns amigos e amigas do movimento espírita da região de Blumenau opiniões contrárias à pratica da psicopictografia.

Estas vozes, mesmo legítimas como manifestação de opinião, talvez por desinformação ou desinteresse pela pesquisa, classificam este tipo de mediunidade como “fenômeno de espetáculo” e desaprovam a comercialização dos quadros pintados, mesmo quando revertida para trabalhos assistenciais, prática similar à da receita de livrarias, editoras e psicografias de livros espíritas.

Mestre Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, classificou a atividade mediúnica como sagrada, destacando a importância do crivo da razão em todas as manifestações dos Espíritos. Quem, em sã consciência espírita, seria capaz de classificar de “fenômeno de espetáculo” um Raul Teixeira ou um Divaldo Franco, psicografando uma mensagem mediúnica de “trás para frente” ou em “outro idioma”, diante de centenas de pessoas, em diversos congressos e seminários patrocinados pela Federação Espírita Brasileira?

Com o intuito de colaborar com a pesquisa e o esclarecimento na seara de estudo da Doutrina dos Espíritos, a Sociedade Espírita Nova Era abre espaço em seu site para uma entrevista exclusiva com Florencio Anton, destacando que esta sociedade sempre estudou, esteve presente e refletiu sobre a atuação do médium.

Nesta entrevista, Florêncio é bem franco em relação a todos os temas apresentados por nossas questões: o enfrentamento pacífico e cristão das críticas ao seu trabalho, a sede das pessoas em relação à espiritualidade, a atividade de psicopictografia, o trabalho assistencial no complexo Comunidade Maria de Nazaré (CMAN), Salvador-BA, além da própria alegria de retornar a Blumenau – “Oportunidade de reencontrar almas do meu passado espiritual, de modo que estar nessa cidade é permitir-me envolver nas vibrações ternurentas da amizade”, diz Anton.

O filósofo e pesquisador Herculano Pires, no estudo sério que fez sobre a mediunidade de José Arigó, destacou que o movimento espírita deve, diante das manifestações do mundo espiritual, pesquisar e observar o médium, porque isto “nada mais é do que a defesa da própria mediunidade”. É mister lembrarmos as palavras de Herculano sobre os médiuns em momentos de embate: “Cumpre a missão que Deus lhe deu entre os homens. Bem sabe que os lobos da incompreensão e as hienas do sectarismo religioso rondam o seu trabalho. Mas confia e espera sem abandonar a luta”.

Acompanhe, a seguir, a entrevista exclusiva com Florencio Anton.

Sociedade Espírita Nova Era – Muitos companheiros, dentro da Doutrina Espírita, colocam em dúvida o trabalho de pintura mediúnica. Como você vem enfrentando isso?

Florencio Anton – De forma pacífica, contudo, não passiva. Entendo, como educador, que a dúvida sincera é ponto de partida para uma aprendizagem efetiva; entretanto, quando se torna sistemática, fundamentalista… traz sempre prejuízos.

O Brasil é um celeiro de fenômenos na área da mediunidade e, naturalmente, encontraremos médiuns dos mais variados matizes intelectuais e morais exercendo as suas faculdades. Alguns, dentro das perspectivas espíritas; outros, não. E aqui é que encontramos um grande desafio a ser enfrentado: o de mostrar ao Movimento Espírita Brasileiro que se pode exercer a faculdade mediúnica de pintura e desenho com seriedade, dignidade, respeito, santidade e religiosidade, conforme preconizava o ilustre Mestre de Lion, Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, sem perdermos de vista, também, o caráter de que nos revestimos para a excelente tarefa de divulgação da VERDADE ESPÍRITA.

A pintura mediúnica é uma forma de mensagem. Uma mensagem que não possui o conjunto de signos, sinais e significantes que formam a língua; antes, possui a capacidade de, através das cores, das formas, dos temas estabelecer um processo de comunicação afetiva a levar alegria, esperança, consolação e beleza, assumindo, aqui, o lugar, como em outras modalidades mediúnicas – a exemplo da psicografia –, de promover a educação. Nesse caso, a Educação Estética.

Dora Incontri, em seu excelente livro “A Educação Segundo o Espiritismo” chama-nos a atenção para o fato de que as obras de arte “se dirigem à nossa parte intuitiva e afetiva, para além da racionalidade; elas têm o poder de se impregnar em nosso eu com muito mais força e rapidez que um discurso racional ou um enunciado objetivo. […] Devemos inserir a arte em todos os contextos pedagógicos, para harmonizar e estimular, atrair e envolver.”

Uma das funções do espírita é a divulgação doutrinária, que não se estabelece somente através das belas oratórias ou páginas escritas pelos Espíritos, encarnados ou não, mas através da Arte. E, especificamente, da pintura mediúnica, ao lado destas outras modalidades, uma função de linguagem universal a revestir-se de características eminentemente pedagógicas, o que facilita a disseminação do Espiritismo no caso de ser exercida por espíritas, como é o nosso.

Nunca tive medo de dúvidas, pois estou certo de que sou médium e médium cristão- espírita.

SENE – Nos encontros e seminários em que você é convidado a participar, qual o principal anseio que você percebe dos participantes em relação à Doutrina Espírita?

Florencio Anton – Percebo que a criatura humana tem sede de espiritualidade. O Espiritismo, naturalmente, é água que dessedenta!

Seja nas minhas intervenções profissionais ou espíritas, constato que essa busca pela VERDADE ESPIRITUAL que nossa Doutrina em seu tríplice aspecto desvela é uma realidade gritante.

Aqui, em nosso País, como também no exterior, vejo que a busca é a mesma.

SENE -Existe diferença entre receber uma pintura mediúnica e um livro mediúnico? Comente.

Florencio Anton – Com exceção dos efeitos físicos (objetivos) provocados pela exsudação de ectoplasma, fenômeno que ocorre em algumas pinturas públicas, promovendo odores de éter e flores, ou até mesmo mudanças no volume do som ou mudança nas faixas tocadas, o mecanismo é o mesmo.

Na psicopictografia como na psicografia observa-se a intuição, o semi-automatismo ou o automatismo. Em nosso caso, a pintura é exercida de forma semimecânica e mecânica, o que faz com que os espíritos pintem no escuro, com as duas mãos e até mesmo com os pés, promovendo, também, a mudança de caligrafia de acordo com o espírito que pinta.

No aspecto econômico se diferenciam apenas pelo tempo em que as obras são adquiridas. Na pintura, as obras são adquiridas logo após a sessão, e os livros precisam de certo espaço de tempo para ser preparados pelas editoras.

Tanto a pintura como os livros mediúnicos são vendidos e, se foram recebidos pela mediunidade orientada pelos princípios espíritas, haverão de oferecer meios para a multiplicação de obras que venham a atender às necessidades humanas, que são muitas.

SENE -Em que estágio está o trabalho assistencial que você desenvolve na Bahia?

Florencio Anton – Falar da nossa Instituição é falar de um ideal que alimento desde jovem.

Hoje, graças aos recursos advindos com o trabalho dos Espíritos Pintores, por nosso intermédio, podemos atender mensalmente uma população flutuante de cerca de 400 pessoas com atividades espíritas e sociais.

No campo pedagógico e social atendemos a 85 crianças, que recebem noções de higiene, reforço nas áreas de leitura e interpretação de texto, evangelização, e um lanche reforçado. Em fevereiro, recebem o kit material escolar; no Dia das Crianças e no Natal, além da festinha, recebem brinquedos e roupas novos.

O apoio às mães conta com a distribuição de um aporte nutricional mensal, do qual constam mais de 15 itens, desde elementos de higiene pessoal até alimentos não- perecíveis, bem como palestras educativas na área da saúde.

Estamos viabilizando a formação da oficina de corte e costura que, dentro em breve, estará a funcionar.

Dentro dos nossos projetos ainda constam a inclusão digital, oficinas de inglês e espanhol básicos, entre outros.

No campo espírita, dispomos de reuniões doutrinárias, passe, atendimento fraterno, ESDE, curso básico de Espiritismo e mediúnica.

Todo o complexo funciona em uma área de aproximadamente 1.200 m2, com dois prédios construídos e um terceiro em fase de construção. O complexo chama-se Comunidade Maria de Nazaré (CMAN) e abraça o Grupo Espírita Scheilla (GES), seu órgão gerenciador e que fundamos em 29 de agosto de 1999.

SENE -Como você analisa o movimento espírita brasileiro?

Florencio Anton – Com otimismo. Esperando que possamos “discutir idéias sem discutir pessoas”, dentro de um verdadeiro clima de paz e sem os arroubos do fundamentalismo execrável, que nos afasta das manifestações espontâneas e delicadas da amorosidade.

SENE -Qual a sua expectativa em relação ao seu retorno a Blumenau para palestras?

Florencio Anton – Blumenau trouxe-me a oportunidade de reencontrar almas do meu passado espiritual, de modo que estar nessa cidade é permitir-me envolver nas vibrações ternurentas da amizade.

Desejo que possamos ter um excelente momento de reflexão sobre nossas posturas, no sentido de revermos alguns conceitos inflexíveis, que sempre denotam a nossa imaturidade espiritual diante de novos desafios que nos são impostos pela vida.

Kardec dizia: “Espíritas, se quiserdes ser invencíveis, sede benevolentes e caridosos…”. Não existe, portanto, até o presente momento, caridade e benevolência com inflexibilidade.

Amorosamente,
o amigo, espírita convicto, Florencio Anton.

Abraços fraternos.

* Manoel Fernandes Neto, 45 anos, é jornalista, estudioso, palestrante e monitor espírita. Presidente da Sociedade Espírita Nova Era, em Blumenau.

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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