Primeiro a Teoria!

Por Cristina Helena Sarraf

É muito natural do ser humano o desejo de propagar aquilo de que gosta, que lhe faz bem e no que acredita. Principalmente para a família. Por isso muitos espíritas, empolgados com as novas luzes, procuram todos os meios para motivar seus entes queridos e amigos a conhecer as soluções que encontraram no Espiritismo. E se você é espírita ou tem parentes espíritas, já deve ter vivenciado tal situação.

Muitas vezes, porém, o entusiasmo recebe uma ducha fria, através de uma delicada mudança de assunto, ou mesmo de um sorriso sarcástico ou comentários desairosos e duvidosos.

Pela forte convicção que possui , o espírita freqüentemente procura, para uma próxima oportunidade, argumentos mais consistentes , testemunho de pessoas representativas, trechos das obras de Kardec, enfim, reúne tudo ao seu alcance, porque já viu que a filosofia científica do Espiritismo, se adotada, trará um novo rumo às dificuldades existenciais daqueles que ama e quer ajudar.

Há quem use técnicas persuasivas; outros, apelativas. Muitos “esquecem” livros espíritas (onde um inocente marcador de páginas, foi estrategicamente colocado) em lugares bem escolhidos da casa, para que cônjuges ou filhos os encontrem e tenham curiosidade de abrir.

Quando os argumentos e táticas não funcionam, nasce a esperança que um fato radical aconteça, para não deixar “pedra sobre pedra”, ou seja, para vencer qualquer resistência e convencer de uma vez. Essa infalibilidade supostamente viria da pessoa presenciar um fenômeno mediúnico.

“É muito fácil desejar isso”, pensam, “nada mais real que a realidade da comunicação co m os Espíritos para convencer um incrédulo”. Para tanto, a imaginação até se supera: “Ah! E se aquela tia querida se comunicasse e lhe desse um puxão de orelhas…?”

Apesar da boa vontade, entretanto, Kardec é o primeiro a desaconselhar tal providência.

ORIENTAÇÃO DO CODIFICADOR

O capítulo “Do Método”, no início de O Livro dos Médiuns, trata exatamente disso. Nele, o Codificador transmite toda a experiência adquirida desde que aceitou conhecer as mesas gigantes, e isso corresponde a seus anos de “trabalho assíduo e milhares de observações”, analisando todo tipo de mensagens e dialogando com espíritos de diferentes ordens.

O que ele nos recomenda, de forma firme e convicta, é que em primeiro lugar relatemos pontos da teoria espírita, mostrando como ela se apóia na razão e no bom senso. Deixando assim, que a própria vida ou possibilidade de presenciar um fato mediúnico espontâneo apresente na prática, o que foi antes apreendido teoricamente.

A estrutura mental de cada pessoa é exclusiva e o que nos parece claro, lógico e convincente, pode não sê-lo para os outros. E geralmente não é…

O Espiritismo é uma ciência diferente da Física e da Química, diz Kardec. No aspecto experimental dessas disciplinas, as leis conhecidas são teorias estabelecidas e com base nelas, faz-se, quantas vezes se queira, uma experiência que, atendidas as condições necessárias, produz sempre o mesmo resultado.

 

A ciência espírita lida com seres inteligentes e independentes, que são os Espíritos, os quais não se podem reduzir a movimentos, máquinas e substâncias. Sendo dotados de livre arbítrio, cada um tem a sua capacidade pessoal de entender a vida e agir diante dos fatos.

Por isso, nem médiuns e nem ninguém pode obrigar um Espírito a fazer o que ele verdadeiramente não queira como, por exemplo, comunicar-se com determinada pessoa. Insistir nisso é abrir portas para que outros talvez ajam, só que inescrupulosamente. E o que pretendíamos que fosse uma ajuda, acaba sendo um grande desvio de rota e um convite à descrença.

As resistências das pessoas aos conceitos do Espiritismo, refletem suas condições atuais de sentir e pensar. Apesar de toda boa vontade empregada em convencê-la, o efeito até pode ser inverso pois, quem sabe, sua revolta aumente ante as insistentes imposições cometidas, mesmo por algum parente que os queira bem.

A melhor forma de despertar o interesse pelo Espiritismo é pela demonstração de equilíbrio, solidariedade e alegria e conquistados pelo espírita que se esforça para melhorar. A divulgação eficaz nasce do exemplo.

O Espiritismo nasceu da observação de fatos mediúnicos, pelo professor Rivail, que depois disso adotou o pseudônimo de Allan Kardec . Não significa que todos tenham perante tias fatos as mesmas reações que ele. Daí, sua indicação de que ofereçamos a teoria espírita em primeiro lugar, e assim mesmo, ele frisa com muita ênfase, apenas para quem aceite ouví-la. Porque os que não querem nem isso, devem ser respeitados. O conhecimento do Espiritismo, na teoria e na prática, é apenas para quem o queira.

CRISTINA HELENA SARRAF é educadora, palestrante e ministra cursos baseados nos Princípios do Espiritismo. Edita o jornal do Grupo Espírita de Iniciativas Doutrinárias, CEM, grupo fundado por ela há 24 anos.

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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