Sinal vermelho na imensidão azul
Bolsões de lixo navegando pelos oceanos alertam para os perigos dos dejetos jogados nos rios, praias e até nas ruas: Mais de 40% dos poluentes que entram nos mares vêm de terra firme.
Por George De Marco / [email protected]
O Oceano Pacífico tem 180 milhões de quilômetros quadrados e cobre quase um terço da superfície do planeta. É a maior massa marítima do globo, situada entre a América, a Ásia e a Antártica e foi batizado por Fernão de Magalhães de pacífico, quando em comparação com o tempestuoso Oceano Atlântico. Existem várias correntes oceânicas e quatro delas limitam uma área de calmaria conhecida como Giro Pacífico Norte – um local onde o oceano giro devagar devido aos poucos ventos e aos sistemas de pressão muito altos. Descoberta em 1997 pelo capitão e pesquisador oceanográfico Charles Moore, esta área passou a ser descrita como “sopa gigante de lixo” ou “ilha do lixo” devido à gigantesca quantidade de detritos flutuando na região, notadamente objetos plásticos. Moore ficou tão impressionado que vendeu seus negócios de família, justamente na área de exploração de petróleo, e criou a fundação de pesquisas marítimas Algalita. A fundação, sem fins lucrativos, fica situada em Long Beach, Califórnia, e se dedica à proteção do ambiente marinho e de suas bacias hidrográficas, por meio de pesquisas, educação e restauração ambiental. A Algalita está na vanguarda da investigação sobre poluição causada por plásticos nos oceanos e as implicações desta poluição na cadeia alimentar de pássaros marítimos e peixes. Embora pareça difícil, se não impossível, a corrida contra o tempo tem forma e tamanho: Calcula-se que o bolsão de lixo no Giro Pacífico Norte tenha o tamanho dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás, somados. É quase do tamanho dos Estados Unidos.
Do rio para o mar
Apesar da alta visibilidade dos estragos marinhos causados pelo petróleo, este estrago é pequeno quando comparado com outros tipos de poluentes. Os recursos terrestres são responsáveis por 44% da poluição marinha, aqui incluindo mineração, restos de nutrientes e pesticidas agrícolas, detritos urbanos e esgoto doméstico. Muitas gente acha que aquela garrafinha plástica deixada na praia ou na rua não vai contribuir com a poluição marítima. Mas se a tal garrafinha não for recolhida, ela será levada pelas correntes do mar (quando deixada na praia) ou pelas águas do rio (quando largadas na rua, pois cairá na rede de esgoto que desemboca no rio e, por sua vez, corre para o mar). O Rio Tietê é o mais conhecido e tradicional de São Paulo. No passado, eram comuns prática esportivas, provas de remo e utilização das margens do rio como área de lazer. Hoje nada disso é possível: Desde 1972 a prática esportiva no Tietê está proibida por lei, graças aos níveis de poluição.
Com uma área de cerca de 380 Km², a Baía de Guanabara bem sofrendo com o elevado crescimento urbano, intensificando o processo de degradação ambiental, a destruição dos ecossistemas periféricos, além da inadequada gestão dos esgotos sanitários. Despejar esgoto não-tratado nos rios, ou simplesmente jogar lixo direta ou indiretamente neles, contamina e polui a água. A água contaminada pode causar doenças como cólera, febre tifóide, disenteria, entre outras. Isso afeta uma grande parcela tanto de pessoas como de animais. Para a manutenção destas vidas é essencial o equilíbrio dos componentes físico-químicos além daquelas que dependem da água para completar seu ciclo de vida. Trocando em miúdos: A água é componente essencial para sustentar a vida na Terra. Desta forma, a garrafinha plástica largada, na praia ou nas ruas não só é uma agressão ao meio ambiente como também uma agressão aos seres vivos que habitam este planeta e, entre eles, está você. Não pense que é exagero: Em ilhas do Havaí, nos EUA, chegam dejetos vindos do Japão. O lixo viaja o mundo através das correntes marinhas e, de alguma forma, volta para você. É como se, ao abrir a torneira, aquela garrafinha pudesse cair na pia e te dizendo, sorrindo: “Eu voltei, agora para ficar!”
Morte do berço da vida
A teoria clássica da origem da vida na Terra estima que há 4 bilhões de anos os primeiros organismos vivos foram bactérias que se desenvolveram nas profundezas oceânicas. Mas, apesar de ser considerado o berço da vida e conter sistemas importantes para a manutenção da mesma, os oceanos sofrem com a violência ambiental. Entre as décadas de 50 e 70, a pesca cresceu a uma taxa de 6% ao ano, contra apenas 2,3% nas duas últimas décadas após atingir um pico de 86 milhões de toneladas de pescado anual. Onde das quinze maiores áreas de pesca do mundo estão em declínio acentuado. A captura nos mares peruanos, um dos mais produtivos do mundo, despencou de 12 para 2 toneladas em um período de apenas três anos. A exploração descontrolada dos recursos marinhos está colocando no limite ou ultrapassando a capacidade de renovação da fauna e da flora dos mares.
Mahatma Gandhi disse que nós precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo. Ou seja, antes de mudar o planeta, o ser humano deve mudar a si próprio – suas palavras, atitudes, pensamentos. Sendo a natureza, nas palavras de Emmanuel, “o livro divino, onde a mão de Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem”, percebemos que ecologia, para o Espiritismo, deriva de uma consciência do respeito indispensável para com todas as formas de vida, sua preservação e sua sobrevivência. Portanto, jogue a garrafinha no lixo.
Para saber mais
Greenpeace – www.greenpeace.org/brasil/
Navega São Paulo – www.navegasp.org.br
Fundação Algalita – www.algalita.org/
[Os números da poluição no Rio Tietê]
Mais de 35% do lixo jogado no Tietê é originado nas próprias ruas. Algumas cidades, como Guarulhos, arremessavam seus esgotos diretamente nas águas do rio, sem nenhum tratamento. Em 1992 uma manifestação popular resultou num documento com mais de 1,2 milhão de assinaturas pela despoluição do Tietê. Deste abaixo-assinado surgiu o “Projeto Tietê”, com o objetivo de coletar e tratar os esgotos de cerca de 18 milhões de pessoas da região metropolitana de São Paulo. O projeto está na sua segunda etapa. Já a despoluição da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, se prolonga desde 1990.