O jovem e a instituição espírita
O que as instituições espíritas podem oferecer às novas gerações?
Marcelo Henrique
Juventude é sinônimo de oxigenação de ideais e de trabalho ativo, na construção de uma nova Sociedade. Muitas instituições sociais de nosso tempo sempre se preocuparam em propiciar ao jovem o alcance das informações e a satisfação de suas necessidades mais prementes. Nos campos cultural, filosófico, científico, educacional e de lazer, são os jovens o alvo de iniciativas e programações, em que se aposta na possibilidade de escolhas, no consumo de bens e serviços e, igualmente, na disseminação de valores e ideias.
E a instituição espírita? Como é este universo no chamado movimento espírita?
Nossos jovens têm reclamado da postura usual do meio espírita que considera o segmento juvenil, nas casas espíritas, como um “mundo à parte” ou um “movimento paralelo”, até uma “ameaça” ao poder constituído, porque os jovens crescem, amadurecem, apresentam novas ideias e disputam as eleições na casa espírita. Por isso tudo, em geral, pouco se faz em relação ao jovem e este continua, as mais das vezes, se reunindo na “última” sala da instituição, sem recursos, com reduzido apoio e sem envolvimento na própria administração das entidades.
Mas, por vezes se ouve dos dirigentes e expositores adultos e mais experientes, que “o jovem é importante para o movimento” e que “os jovens serão os dirigentes do amanhã”. Será mesmo? Entendemos imprescindível romper a barreira real entre o discurso e a práxis, para fomentar a participação efetiva do jovem na condução do movimento espírita, seja pela reformulação das técnicas, da linguagem, seja pela adoção de novos modelos gerenciais e a reforma de estatutos e regimentos internos das entidades, contribuindo decisivamente para a mudança de paradigmas em relação ao que seja “ser jovem” nos ambientes e ações espíritas.
Fundamental é, por isso, proporcionar espaços e fóruns reais de discussão acerca da realidade do jovem no movimento espírita, alcançando metas e desafios para o presente e para o futuro. Envolver o jovem espírita (e, quem sabe, até o não-espírita, o simpatizante que chega à instituição pelas primeiras vezes, curioso e surpreso com o que passa a ver) com a proposta do entendimento e da divulgação do Espiritismo. Para não ser vazia ou artificial, a filosofia espírita carece da prática constante, e esta requer o respeito recíproco, a igualdade real entre todos os que participam da instituição, e a manutenção de todos os canais possíveis de inter-relação com o semelhante, através da postura fraterna e participativa.
As diversas questões emergenciais de nosso tempo exigem que os centros espíritas sejam usinas vivas e permanentes, tanto de vivência como de disseminação dos ideais de fraternidade e felicidade humanas, para a melhoria dos ambientes sociais, onde a violência e a incompreensão são uma constante, infelizmente.
Adotar os princípios espíritas como referenciais diários, muito mais do que mera retórica, ou seja, viver ao invés de apenas falar ou pensar espiriticamente, é o principal desafio do presente. O “ser espírita” não pode estar, assim, restrito aos dias de atividade e ao local da “casa”. O jovem observa bastante os mais velhos, sobretudo aqueles que assumem funções destacadas na instituição. E, neles, deseja se inspirar, como referenciais seguros, já que o ser humano sempre busca “modelos” de conduta, já que o ideal de modelo espiritual, inclusive pela referência contida na questão 625, de “O livro dos Espíritos”, ainda se acha bastante distante.
Neste novo paradigma, é imprescindível aceitar o processo de renovação, com a abertura de frentes permanente de trabalho para os espíritos em fase juvenil, sob a orientação segura e calcada nos princípios kardequianos para ter, sempre vicejantes e frutíferas, as diversas atividades espíritas, seja pela continuidade (em bom nível) dos trabalhos existentes, seja pela criação de novos horários de estudo e práticas espíritas.
Que os adultos – sobretudo os de mais idade – percebam o jovem não como um competidor, um adversário, mas um aprendiz-colaborador, que lhes segue os passos e que carece do seu apoio, compreensão e orientação, como o estudante que recebe do mestre as informações úteis para sua formação moral, intelectual e profissional. Afinal, todos nós somos gratos e lembramos com afeição daqueles educadores que, entendendo nosso desejo de saber, corrigindo nossas imperfeições e, indicando-nos o caminho, permitiram-nos chegar ao ponto em que hoje nos encontramos, com significativo avanço na trajetória. Isto no meio espírita e, também, na própria vida.
Ajudemos, pois, o jovem, incutindo-lhe disciplina na conduta, fidelidade ao Espiritismo e amor em seus atos, para que ele sempre se recorde carinhosamente daqueles que, mesmo à frente na seara, abriram-lhe as portas do trabalho espírita, na forma do incentivo e da oportunidade, apoiando-lhe nos primeiros, mas decisivos, passos.