Convivendo com os idosos
Por Mauro Falaster
As atuais posições e funções específicas das gerações de hoje já estiveram trocadas em vidas passadas. E ainda se inverterão em vidas futuras. A geração mais velha de hoje em função educadora foi a mais nova e educanda de ontem; e será a de amanhã.
Os papeis vão sendo invertidos no suceder das exigências, para permitir um intercâmbio salutar de experiências, de vivências e de conhecimento, de infusão recíproco de valores em ampla e necessária complementaridade.
A passagem dos espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.
INFÂNCIA
A infância, etapa que vai desde o nascimento até a puberdade, configura-se como tempo de transição de uma existência para outra; período de convalescença da árdua travessia da vida espiritual para a material, onde a primeira função é o repouso e as faculdades em latência encontrarão, no trabalho envidado pelos pais/responsáveis, os estímulos para que se manifestem.
ADOLESCÊNCIA
A adolescência, puberdade, fase que adentra em tese, além um pouco dos vinte anos, caracteriza-se pela descoberta e afirmação do EU, onde períodos de egocentrismo, crises de irriquietude, irritabilidade, alternando-se com períodos calmos, ou de entusiasmo e depressão são freqüentes.
MATURIDADE
No mesmo enfoque e importância esse Espírito alcança, atinge (na tese de uma seqüência lógica) a maturidade onde pressupõe-se o equilíbrio físico e emocional no vigor e a energia que esplendem. O Espírito se exteriorizaria aí em toda solidez, firmeza, precisão e desenvolvimento.
É a idade madura, por excelência, o período da plenitude; é o rio que corre a toda força e espalha pela campina a riqueza e a fecundidade.
ENVELHECIMENTO
Por que a do envelhecimento da matéria?
De começo a ação é altamente enérgica – a assimilação ultrapassa a desassimilação – o indivíduo cresce (infância e juventude). A seguir vem o equilíbrio das perdas e ganhos – é a maturidade, a estabilidade da matéria.
Cessado, rompido esse equilíbrio, os tecidos não mais convenientemente alimentados, esvai-se a força vital até a exaustão completa. Caracterizou-se a velhice dessa matéria até o sobrevir de extinção completa, no caso, na morte. A matéria agora desagregada retorna ao mundo inorgânico.
Essa matéria em desagregação influencia o Espírito, limitando sua exteriorização, sua expansão, impõe-lhe ritmo diferente.
O processo natural do envelhecimento da matéria apresente menos problemas ao Espírito quando se faz acompanhar desse conhecimento e do fruto das atitudes positivas e condutas corretas no dia-dia, desde a mocidade.
Daí entender, compreender essa fase natural da existência e trabalhar nela para que o espírito se mantenha ativo, lúcido, entusiasmado e permanentemente livre, embora limitado pela matéria que o restringe.
A História mostra que o envelhecimento da matéria não se processou em paralelo, para quem soube cultivar o Espírito ou em outras palavras, a idade cronológica não representou barreiras para Verdi, Picasso, Churchill, entre outros, que não se entregando a vida contemplativa permanecem vivos até hoje quando pelos efeitos de suas descobertas, invenções, idéias e ideais se mantiveram produtivos, interessados, interessantes e atuantes, apesar, do envelhecimento físico.
De modo geral, por hábito, costume, desconhecimento da real significação das palavras usamos como sinônimo de idoso, o termo velho.
E não têm elas (as palavras idoso e velho) a mesma significação ?
Se tomarmos o dicionário mais simples encontramos:
Velho: adjetivo – gasto pelo uso, antigo, usadíssimo, desusado, antiquado, aboleto, arcaico.
Idoso: substantivo masculino – homem que tem muita idade.
Nota: O vocábulo velho sendo adjetivo, indica qualidade, caráter, modo de ser ou estado do ser ou dos objetos nomeados pelo substantivo.
Desse modo é velho quem perdeu a jovialidade, quem só dorme, quem nada ensina ou recusa-se a aprender.
O idoso, aquele que se entende na bênção de viver uma longa vida, compreendendo o desgaste natural das células, não se permite a degenerescência, o decaimento, o definhamento.
O idoso sonha, aprende, se exercita, faz planos, povoa a vida de ocupações pessoais interessantes; renova a cada aurora que surge entendendo o hoje sempre como o tempo bendito de atualizar algo, rever um aspecto, aprender melhor isto ou aquilo num calendário repleto de amanhãs.
CARACTERÍSTICAS:
A velhice é um processo pessoal, natural, indiscutível e inevitável, para qualquer ser humano, na evolução da vida. Nessa fase sempre ocorrem mudanças biológicas, fisiológicas, psicossociais, econômicas e políticas que compõe o cotidiano das pessoas.
Há duas formas básicas de ocorrer essas mudanças, de maneira consciente e tranqüila ou ser sentida com grande intensidade, tudo dependerá da relação da pessoa com a velhice. Os sinais característicos dessas mudanças são nítidos por conta da ação do tempo e social. Vejamos abaixo alguma delas:
1 – Mudanças Físicas: gradual e progressiva: aparecimento de rugas e progressiva perda da elasticidade e viço da pele; diminuição da força muscular, da agilidade e da mobilidade das articulações; aparição de cabelos brancos e perda dos cabelos entre os indivíduos do sexo masculino; redução da acuidade sensorial, da capacidade auditiva e visual; distúrbios do sistema respiratório, circulatório; alteração da memória e outras.
2 – Mudanças Psicossociais: modificações afetivas e cognitivas: efeitos fisiológicos do envelhecimento; consciência da aproximação do fim da vida; suspensão da atividade profissional por aposentadoria: sensação de inutilidade; solidão; afastamento de pessoas de outras faixas etárias; segregação familiar; dificuldade econômica; declínio no prestígio social, experiências e de valores e outras.
3 – Mudanças Funcionais: necessidade cotidiana de ajuda para desempenhar as atividades básicas.
4 – Mudanças Sócio-econômico: acontecem quando a pessoa se aposenta.
MEDO DO ENVELHECIMENTO:
Em razão do conceito defasado em torno do envelhecimento, quando afirma que esse período é de sofrimento e amargura, muitos indivíduos passam a temer a velhice, porque também se aproximam da morte, como se essa não ocorresse em qualquer fase da existência.
O medo da velhice é muito cruel, tornando-se um verdadeiro tormento para quantos não consideram a existência física na condição de uma jornada de breve duração, por mais longa se apresente, passando por estágios bem delineados desde o berço até o túmulo.
A velhice deve ser considerada inevitável e ditosa pelo que encerra de gratificante, após as lutas cansativas das buscas e das realizações.
A ausência de vigor físico e mental não é problema somente da velhice, mas resulta de outros fatores, especialmente naqueles indivíduos que têm uma existência atribulada, rebelde, derrapando no abuso de suas energias, nos problemas que decorrem da saúde abalada, e que é normal em qualquer idade.
Homens e mulheres em idade avançada prosseguem trabalhando e realizando obras memoráveis, enquanto jovens e maduros são incapazes de produzir realizações que os beneficiem ou sejam úteis aos demais.
Não se trata, portanto, de uma resultante da idade, mas da disposição interior de viver e de participar dos desafios humanos.
É comum associar-se à velhice a rabugice, como se essa fosse privilégio dos anciãos.
Quantos indivíduos rabugentos, antipáticos, agressivos e mal-humorados em todos os períodos da existência.
A ocorrência da rabugice encontra justificativa na atitude que os adultos têm para com os idosos: desprezam-nos, depreciam-nos, levam-nos ao ridículo, subestimam-nos, provocando essas reações psicológicas.
Somente aqueles que dispõem de resistências morais relevantes suportam com certa indiferença esse comportamento que alguns mantêm em relação à sua idade.
Naturalmente que a velhice aproxima da morte. Todavia, como é lamentável que uma pessoa, cuja existência tem sido larga, possa temer a morte, nunca se permitindo raciocinar que cada dia do currículo carnal é também um dia mais próximo da desencarnação.
IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
Enfatizou-se a necessidade do desenvolvimento da capacidade de adaptação, que de certo modo, será difícil de ser trabalhada quando já nessa idade avançada.
Necessitamos estar atentos, pois numa sociedade de consumo, imediatista e baseada no lucro, quem deixa de produzir, é visto como estorvo. Nesse enfoque, os idosos, os pais passam a ser entendidos como obstáculos, onde o asilo, a “casa de repouso” ou afins acenam como solução.
Nas tragédias da vida familiar onde os filhos deixaram extravasar o sentimento de peso, estorvo, empecilho, traste que o idoso agora representa. O pai, a mãe percebe, não é preciso que lhe falem – as desavenças recíprocas entre filhos, noras, genros, netos, as grosserias, a falta de delicadeza quando não até de educação, e que leva o idoso a “livremente optar” ir para a “casa de repouso”/ asilo, onde ainda por amor a esses mesmos filhos, abre mão do convívio com os entes queridos na família que se esfacela.
Nasce nesse instante, o Espírito enfermo no medo, na insegurança, na depressão, dor, sofrimentos diversos, na perda da memória em que se refugia. Descrente do amor, fecha-se no trato difícil, agressivo, revoltado, hostil ou na indiferença, no mutismo, na tristeza onde tudo perdeu o valor, onde nada mais vale a pena.
Os familiares, desconhecendo-se como geradores ou propiciadores dessas exteriorizações, usam-nas como justificativa do acerto da decisão tomada, “pacificando” a consciência nos remorsos pequeninos que vez por outra teimam aparecer.
Como podemos ver, quando a família opta em ignorar a realidade do idoso, buscando simplesmente em livrar-se do problema, acaba por agravar o convívio com eles, gerando magoas, dissabores e ingratidão, que poderão ultrapassar a barreira da vida física.
Mas é na família que se pode mudar essa realidade, compreendendo suas limitações, orientando-os para que continuem sendo úteis e inseridos na sociedade, mostrando que a vida é o melhor professor e continua ensinando através do filho, do neto, da empregada, do gari, do estudante, de uma criança, de um doente onde cada situação trás lições, experiências e sabedoria.
Com certeza o humor deles mudará, assim como diminuição da incidência de doenças, facilitando em muito o convívio familiar.
Daí da importância de se manter o idoso junto a família, uma vez que, o núcleo familiar, mesmo quando o espírito aparentemente pareça não percebê-la ou até mesmo portar-se em relação a ela, de forma hostil, representa-lhe nutrição tão importante quanto aquela dirigida à criança que está formando uma mentalidade, iniciando uma nova romagem.
ATIVIDADES
O grande temor, muitas vezes, nessa idade é tornar-se repetitivo, maçante. Já ensinava o poeta (…) se somos interessados, somos interessantes (…). Daí a importância da atualização.
A concepção do trabalho enquanto princípio ordenador da vida social, é produto do mundo moderno. Assim, o aposentado quando se afasta do mundo produtivo, afasta-se também do espaço público, ficando com a sociabilidade enfraquecida, pois freqüentemente, ela foi construída sobretudo, a partir das relações de trabalho.
Para que o idoso se sinta útil, é necessário mantê-lo ocupado. Assim sendo, é importante a participação em atividades sociais, culturais, educacionais e esportivas.
Mudança de interesses e oportunidades – é hora de, por exemplo, ler ou dedicar-se a um prazer que em outros tempos não foi possível. O livro é caro ? Há os aconchegantes ambientes das bibliotecas públicas onde se encontra todo tipo de leitura, bem como outras atividades culturais, como palestras, filmes, oficinas culturais.
Idade não é limitante para a sede de conhecimento. Ah ! sou analfabeto !!!
Bem próximo de cada um, na escola pública, na associação de bairro, na igreja, no centro espírita, há oferecimento de bem montados cursos de alfabetização. Sei ler, concluí cursos, sou de formação universitária ? São inúmeros os cursos de reciclagem ou aprimoramentos diversos em outras áreas disponíveis.
Acabando com a carência social e afetiva substituindo por uma socialização, os idosos se ajudam e têm uma nova visão do mundo e da vida com o grupo.
O idoso que exerce alguma atividade, se sente mais saudável, as condições psicológicas, sociais e econômicas são totalmente diferentes em relação aos que vivem à margem da sociedade, em asilos ou abandonados em sua casa.
OS AVÓS
Realmente, a condição de você tornar-se avô ou avó é daquelas experiências afetivas que lhe propiciam elevadas alegrias ao coração.
Diz-se popularmente que ser avô ou avó é fazer-se pai e mãe duas vezes, o que configura indiscutível verdade.
Ainda que muito importante e nobre a função dos avós, é importantíssimo que:
1- Respeite seus filhos, no que se refere à orientação aos seus netos.
2- Dialogue com os filhos em questões graves à respeito dos netos.
3- Seus genros ou noras não são obrigados a acatar suas posições.
4- Silencie com naturalidade, quando não for aceito ou está provocando discussões.
5- Evite gerar insegurança na alma dos seus netos.
6- Ame-os sem apego;
7- Ajude-os sem tomar-lhes os deveres;
8- Agrade-os sem envaidecê-los;
9- Fale-lhes de Jesus sem pieguice.
10- Não se justifique que os pais de hoje não sabem educar.
Ajude, apenas, quando solicitado a fazê-lo.
PLANEJAMENTO E REFLEXÃO:
A idade avançada, mesmo não sendo incapacitante, é limitante. Daí ser importante a formação de uma consciência lúcida onde a organização e adaptação a um ritmo novo ajudarão sobremodo.
Essas reflexões necessárias levam a perceber que envelhecer bem requer planejamento, compreensão realista das mudanças e desafios.
Pensar, planejar, mudar, adaptar significa estar desperto, consciente da realidade interior, das infinitas possibilidades de crescimentos e que incluem: libertar-se dos medos que imobilizam na inutilidade, redescobrir alegria de viver, de agir; ampliar a comunicação com a Natureza e com todos os seres, multiplicar meios de dignação humana, envolver-se na eloqüente proposta de iluminação que, querendo, estando desperto pode ser encontrada em toda parte.
JOVEM X IDOSO
A juventude, diga-se com clareza, não é somente um estado biológico, atinente a determinada faixa etária. Mas também todo o período em que se pode amar e sentir, esperar e viver, construir e experimentar necessidades novas e edificantes.
É jovem, porém, todo aquele que aspira aos ideais de enobrecimento humano, esteja transitando por qualquer período existencial, não importa. Mantendo a capacidade de realizar e realizar-se, de produzir e multiplicar, de renovar e renovar-se, desfruta do largo prazo da juventude real.
A velhice se apresenta quando o indivíduo se considera inútil, quando experimenta o desprestígio da sociedade preconceituosa, que elaborou conceitos de vida em padrões torpemente materialistas, hedonistas.
Nele, portanto, estão as disposições da juventude e da velhice, dependendo sobretudo da mente que o vitaliza e movimenta, que o aciona e mantém.
Estudos recentes comprovam que o avanço da idade não determina a deterioração da inteligência, pois ela está associada à educação, ao padrão de vida, a vitalidade física, mental e emocional. Também é preciso perder o preconceito sobre a idade cronológica das pessoas. Pode-se afirmar que há jovens com 20, 40 ou 90 anos de idade, tudo dependerá da postura e do interesse de cada um.
CONCLUSÃO
Se entendermos que os dias de agora são semeadura para o futuro, encontrar nesse porvir, felicidade, plenitude, dependerá do desenvolver das qualidades positivas do que se está fazendo hoje, onde estruturas psicológicas dignificantes, sedimentadas, proporcionarão viver esse movimento natural da idade sem tantas desordens e desentendimentos.
O envelhecimento, além de inevitável, é de extrema necessidade, pois é nesse período que já estamos mais amadurecidos, nossa visão sobre a vida é mais ampla, permitindo que possamos melhor refletir sobre tudo o que fizemos ou deixamos de fazer, descortinando uma nova oportunidade para resolver pendências que por ventura deixamos passar, como por exemplo: magoas, rancores, perdão, ou qualquer brecha que possa levar ao arrependimento futuro.
Sem contarmos que, com o envelhecimento, vamos gradativamente afrouxando os laços que nos prendem ao corpo físico, facilitando em muito, quando chegada a hora, transpor do mundo físico para o espiritual, tornando o desencarne mais rápido e sem traumas.
Lembrando, que o envelhecimento não significa o fim, mas o início de mais uma etapa de aprendizado da vida. Nessa etapa preparatória de uma nova vida (…) saibamos atravessá-la com naturalidade e harmonia, a fim de colhermos e apreciarmos as belezas de uma nova aurora.
Bibliografia:
O Despertar do Espírito – Divaldo P. Franco
Atravessando a Rua – Richard Simonetti
Vereda Familiar – Raul Teixeira
Vida: Desafios e Soluções – Divaldo P. Franco
O Homem Integral – Divaldo P. Franco