Aceitação
Por Elisabeth D’Andrea Balsini
Mais do que nunca, a vida nos coloca diante de um desafio no âmbito da convivência humana, jamais antes imaginado. A pandemia da COVID-19 exigiu de nós um distanciamento imediato e que se tornou contínuo, se prolongando muito mais do que queríamos. Em algum momento acabará – pensamos!
Há um tempo para tudo, mas não sabemos exatamente quando e como estaremos. Ainda assim deixará marcas de uma experiência repleta de dificuldades. Uma experiência marcada por profunda transformação e muito aprendizado. Vamos esperar que estaremos mais afetivos mais compreensivos mais empáticos mais resilientes mais solidários mais humildes. Tendo consciência da vulnerabilidade de nosso corpo (vencidos que fomos por um pequeno vírus).
O mundo, então, terá atingido uma possibilidade de melhora científica e moral, com perspectivas altamente promissoras. A resposta a este questionamento só depende de nós mesmos como resultado de um diálogo interno permeado de verdade e coragem. Levando em consideração nossas necessidades de espíritos imperfeitos, como todos no universo, necessitamos mais do que nunca de acolhimento, de carinho, de amparo. Sobretudo porque nosso dia-a-dia tem sido permeado por sentimentos de tristeza, medo, angústia e ansiedade.
A ansiedade como uma reação normal do ser humano, diante de uma situação desconhecida. Ainda que precisemos nos distanciar socialmente, é possível manter o calor necessário às relações humanas.
Reflexão e prudência
Fazer contato com as pessoas que amamos com o único propósito de expressar nosso afeto e conversar livremente (deixando as palavras que estavam guardadas em nosso coração circularem espontaneamente). É um simples ato, que numa situação como essa, se converte num exercício de grande poder terapêutico em prol da saúde emocional de todos os envolvidos.
O som de nossa voz, traduz sentimentos e emoções que não raro se transformam numa experiência tão especial, que conscientemente fazemos questão de guardar na memória do coração, para ser revisitadas pelas nossas lembranças. O brilho de um sorriso tem o poder de um verdadeiro bálsamo afetivo, não encontrado em farmácias, porque já está acessível ao ser humano que traduz suas emoções em gestos espontâneos.
O afeto que transmitimos, se nutre do desejo de ser espalhado a todos que querem fazer o Bem. Quando uma pessoa precisa dele, a outra pode oferecê-lo, expondo uma cadeia infinita que dá sentido às palavras de Jesus: “Amai o próximo como a si mesmo”. Completando mais de um ano, essa pandemia está tirando de muitos e muitos a paz e o equilíbrio emocional, fazendo-os reféns de uma violência que os atinge por dentro e por fora.
Ainda enfrentamos o mesmo medo, a mesma incerteza inicial, às vezes pânico ou por ter perdido um ente querido ou ainda por não saber assimilar tudo o que essa doença vem insistindo em se propagar, numa proporção ora alta, ora baixa. Mesmo assim, vemos pessoas que se apresentam carregando a bandeira do bem, tentando como podem, propagar a paz entre uns e outros, a esperança de dias melhores! O momento atual exige de cada um de nós certa dose de reflexão, agindo com prudência.
Equilíbrio
É no cumprimento da Doutrina Espírita que encontraremos consolo. É através de seu estudo que passaremos a refletir sobre qual é o sentido de nossa vida. Seremos levados ao conhecimento dos verdadeiros princípios das Leis que regem nossa transformação moral e acordaremos para o início de uma reforma íntima. O Espiritismo nos ensina que os acontecimentos de nossa vida são atraídos por nós mesmos, num constante aprendizado, visando nossa evolução espiritual. Só nos acontece aquilo de que precisamos. É da própria vida que após a tempestade vem a bonança, de que após horas de amarguras, sucedem-se períodos de tranquilidade.
É na Terra, planeta de provas e expiações, no seu momento de transformação planetária para regeneração, que precisamos nos questionar sobre quais valores nos oferecem alicerces na nossa vida até este momento.
A vida nos dá o que a ela oferecemos. A Doutrina Espírita nos ajuda a encontrar o equilíbrio, o bom senso e o amor.
Confiança
Vivemos uma era da rapidez das comunicações, conectados o tempo todo com todo tipo de pessoas, então perguntamos: – O que você lê em seu celular, os sites que acessa, os vídeos que vê, os programas de televisão que escolhe, estão eles te engrandecendo? É com esta leitura diária que você se alimenta? E as mensagens que você lê estão contribuindo para sua evolução, seu progresso moral, seu desenvolvimento espiritual?
Se fizermos uma avaliação espiritual da humanidade, percebe-se que o ser humano avançou muito em conhecimento, tecnologias, mas está muito aquém no que diz respeito a relações humanas, ética, fraternidade e solidariedade.
É preciso lutar sempre, e renovar nossa coragem para fazer deste mundo um lugar melhor e mais justo. Tão importante quanto essa atitude firme e aguerrida em favor de mudanças, é saber confiar nos desígnios de Deus, quando as coisas não vão bem, quando não sabemos como aceitar um problema. As dificuldades são necessárias, lições que estão sendo colocadas no seu caminho.
Você já se viu pensando que não era bom o suficiente? Vamos pensar positivamente, cultivar a paciência. O sentido da vida está além do que você já definiu como problema. Cada um de nós está neste planeta para realizar alguma função que nos leva a se interconectar com o todo.
Aceitação significa admitir, tolerar, suportar. A Doutrina Espírita nos dá a confiança para enfrentarmos as dificuldades que encontramos em nosso caminho. Temos a condição de transformar nossas dores em aprendizado. Se eu não aceitar o que está me acontecendo, vou aumentar aquilo que está me amargurando. Preciso fazer uma transformação interior. Somos responsáveis por aquilo que conquistamos: valorizar nossas conquistas, nosso momento e agradecer o tempo que ainda temos. Viver é aceitar como se é. Aceitar-se como um caso todo especial. Aceitar-se é o princípio do amor a si mesmo.
Amar a si mesmo é amar a Deus, o criador dessa maravilha única que é você. Você é único no mundo. Você é o pensamento mais perfeito de Deus.
Adversidade e confiança
A história da humanidade é cíclica. Hoje vivemos um tempo de instabilidade, preocupações, dor, sofrimento e isso nos faz adoecer. É preciso aprender com a adversidade. Precisamos abrir nossos olhos para a aceitação de que o momento atual é parte da evolução.
Ter a confiança de que após momentos de escuridão, já estarão sendo plantadas as sementes de um período novo e esplendoroso. Necessitamos de sabedoria para crer que quando os problemas parecem grandes demais, não estamos sozinhos, somos parte de um todo.
Existe uma força maior que rege o Universo, conduzindo os eventos de forma harmônica – mesmo que muitas vezes tenhamos dificuldade em perceber – como neste momento pelo qual estamos passando. Nós também podemos fazer nossa parte na contribuição pela harmonia do todo. É preciso aprender com cada adversidade, com a confiança de que nada é por acaso. A realidade de fora reflete o que temos por dentro. Se encontrarmos a paz espiritual, o mundo à nossa volta espelhará essa mesma condição. Da mesma forma que frequentamos academias de ginástica para trabalhar os músculos e obter resultados que nos satisfaça, também temos que trabalhar para encontrar a força no exercício da força da prece e do perdão.
A prece não é apenas um símbolo de agradecimento, é uma força, uma ação. O perdão não é apenas o que nos faz sentir, melhorar, ele literalmente transforma o coração.
Como éramos antes da pandemia?
Vivemos num momento de crise, de transição de épocas. A aparência é de um mundo decadente, mas quem tem olhos de ver consegue enxergar os primeiros clarões de uma nova aurora amorosa.
Para este resgate, é preciso uma revolução em todos os cenários que abrangem nossa existência corporal, emocional, mental e espiritual. São investimentos a longo prazo.
O prazo fixado para o final, acontecerá quando toda a humanidade alcançar uma condição evolutiva na qual sairá soberano o Bem contra o mal, liberto do apego aos bens materiais, valorizando a família em que Deus nos colocou, trabalhando para a formação de uma sociedade mais justa. Esta ação, em tese, para ser um processo de renovação para melhoria da alma, baseia-se em três aspectos: o material, o espiritual e o moral.
Através do trabalho material, propriamente dito, dignificando-se no cumprimento dos deveres consigo mesmo, para a família que Deus lhe confiou e para a sociedade da qual participa. Pelo trabalho espiritual exercer a verdadeira caridade com o próximo, estender a mão a quem precisa e aperfeiçoar-se no conhecimento da Doutrina Espírita como a fé que escolheu. No campo da atividade moral, lutar para adquirir qualidades firmes de caráter, ou se for o caso, por sublimar aquelas que já conquistou.
Assim, para os momentos difíceis, estará assegurado o equilíbrio interior, o “conhece-te a ti mesmo“, como um mapa esclarecedor que o levará a atingir o verdadeiro Eu. Emmanuel, falando-nos ao coração, exorta também a esta mudança, dizendo: “Recorda que em Doutrina Espírita, é preciso aprender, entender e aplicar”, destacando assim a necessidade do espírita alicerçar seu conhecimento pelo estudo constante, pela caridade ativa.
Em todas casas de fé há almas aflitas com as mãos estendidas. Na Terra, estamos suscetíveis a acertos e erros, a quedas e voos, a dores e alegrias. Se ficarmos caídos no meio do caminho, lamentando, a vida não vai mudar, a coragem não vai aparecer. É preciso levantar, limpar o joelho e seguir em frente.
A coragem de viver é agir com determinação, ética e amor. A Lei de Causa e Efeito vigora em nossa vida. Considerando que não somos perfeitos, é natural que tenhamos êxitos e fracassos em nossa trajetória evolutiva, mas é assim que vamos desenvolvendo nosso potencial. Como se diz, a dor é inevitável, o sofrimento é optativo.
À medida que nos conscientizamos e nos educamos, aprendemos a fazer o Bem e a superar o egoísmo. Kardec ensina que “a lei natural é a lei de Deus”, é a única necessária a felicidade das pessoas: ela lhes indica o que devem fazer ou não devem fazer. Portanto, ânimo, coragem, aceitação, confiança, para avançar sempre.
Aprendizado
Estamos no melhor corpo, na melhor família, na melhor sociedade que pudemos obter segundo nossos méritos ou deméritos.
Precisamos assumir a direção de nossa vida, para melhor aproveitar esta reencarnação.
Joanna de ngelis nos traz o seguinte lembrete: “A tua luz é conquista sublime dos esforços desenvolvidos ao longo da marcha ascensional. Com a aproximação da fase de Regeneração do nosso planeta, teremos resolvido as pendências de provas expiatórias, para que estejamos em condição de viver em um planeta melhor”.
Nesse mesmo sentido, Emmanuel afirma: “ Não somos criaturas milagrosas destinadas ao Paraíso. Somos herdeiros dos séculos, conquistando valores de experiência em experiência, de milênio a milênio”. Ou seja, a Doutrina Espírita oferece uma concepção da vida, do homem e do mundo, como um “vir a ser” que se projeta precisamente no que ainda não é, na reta da aspiração humana em direção a Nova Era.
Esta renovação poderá resultar numa renovação socio-moral no futuro próximo. É o que nos conduz a viver conscientemente, eticamente e não alienados, honrando e dignificando a centelha divina que existe em cada um de nós.
Allan Kardec, em a Gênese, cap XVIII já afirmava que “os tempos são chegados” porque já podemos admitir que estamos amadurecidos para subir um degrau. Guardemos pois, a lição do tempo, e caminhemos para diante com a melhoria de nós mesmos. Este é um encontro que abrirá caminhos de autoconfiança, segurança, tranquilidade e harmonia interior, chegando a compreensão da necessidade de substituir os defeitos por virtudes. Conquistar um propósito firme para não cair na malha dos maus pensamentos. Observar na própria conduta o comportamento que temos diariamente.
Neste contexto, torna-se necessário possuir bem claro o que se deseja conquistar na vida, pois é preciso ter um objetivo para, por ele, lutar e alcançar. Precisamos aprender a condicionar nossa atividade mental, disciplinar nossa vontade e treinar nossa tranquilidade.
Cada um de nós é uma obra prima de Deus – única e com características particulares: nasceste no lar que precisavas, vestiste o corpo físico que merecias, moras no melhor lugar que Deus poderia te proporcionar de acordo com teu adiantamento, teus parentes e amigos são almas que atraístes com tuas próprias afinidades.
Portanto, o teu destino está constantemente sob teu controle. Apenas damos ou recebemos aquilo que temos. Disse Jesus, que toda lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos – Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: – Amarás a teu próximo como a ti mesmo. À medida que aprendemos a nos amar, aprendemos a amar o próximo.
Quem não aprendeu a amar a si próprio não pode amar aos outros. Não peçamos amor antes de dá-lo a nós mesmos, pois o amor que tenho é o que recebo, e o que dou. Cada um de nós renasce para aprender e crescer sempre, abordando a existência com os olhos curiosos de um eterno aprendiz.
Assim sendo:
aceita a vida que Deus te deu
aceita-te como és
aceita teus familiares
aceita teus conflitos
aceita tuas decepções
aceita tuas desilusões
aceita as ingratidões contra ti
aceita atos e atitudes que te deixam perturbados
e faz o melhor que puderes.
Esforço
Aceitar não quer dizer aplaudir e fazer o mesmo, mas compreender que cada um de nós tem e faz o que pode. Aceitar, mas trabalhar em favor de teu adiantamento espiritual. Junto com a aceitação virá a sabedoria, e ela te conduzirá a vitória sobre teus conflitos existenciais, e assim darás valor para todas as coisas da vida.
Pode ser que em muitas ocasiões não possamos escolher situações e ocorrências externas de nossa vida, mas com certeza sempre poderemos optar pela única maneira de enfrentá-las: com amor. Ex: Um relógio de corda constitui um sistema integrado por um conjunto de peças. A remoção de qualquer uma dessas peças pode ocasionar sua paralisação ou desequilíbrio.
Assim também nós fazemos parte de um sistema integrado como num relógio de cordas: nós, os outros e o Universo. Ou seja, as criaturas e as criações representam parcelas de um todo. Tudo está unido. Tudo é igual a um relógio de cordas, integrando uma maravilhosa engrenagem.
Somos peças importantes no mecanismo da Vida, interdependentes, promovendo nosso crescimento para, por meio do auxílio mútuo, chegarmos à unidade absoluta com Deus. A partir de agora, podemos sentir uma grande alegria dentro de nós, livres das amarras que nos acompanharam, podemos, finalmente, perceber que somos seres concluídos para a alegria, o prazer e o amor.
Não se trata de um trabalho mágico, é um esforço concentrado e dirigido. Precisamos continuar a crescer, reconhecendo que sempre teremos mais a aprender, sentindo orgulho de nossas conquistas. Necessitamos aceitar e descobrir ainda quantas qualidades podemos acrescentar a nossa vida, quanto amor podemos dar a nos mesmos e aos outros, quanta energia positiva podemos trazer ao mundo.
O capítulo V do ESE intitulado “Bem aventurados os aflitos” traz a interpretação espírita para estas palavras de Jesus. Kardec explica que as vicissitudes da vida são de duas espécies. Umas tem causa em vivências anteriores e outras tem origem na presente existência. E, se aquele que sofre, atentasse para seu comportamento, perceberia que, em grande número de situações, foi seu orgulho que o colocou na presente condição.
Mas Kardec também aborda os problemas que tem origem nas vivências anteriores: eles podem referir-se a provas que o próprio indivíduo escolheu, antes de assumir a presente existência, para que sua evolução acontecesse de maneira mais rápida e efetiva.
Assim diz Hamed:
Aceita atos e atitudes e faz o melhor que puderes. Aceita a ti e ao próximo como são, e trabalha em favor do teu adiantamento espiritual e assim serás mais feliz. Renove-se por dentro, alcançando a compreensão de que a vida não é tão problemática como nós supomos. São nossas atitudes que a transformam em algo complicado. A vida é feita de ajustes, e todos nós, temos o dever de melhorar a própria qualidade de vida.
Muitas de nossas aspirações só se concretizam na época e no momento adequados. A Sabedoria Divina sempre nos reserva algo de bom. Com isso, aceitação também consiste numa paciente espera, principalmente levando em consideração o bem-estar alheio, respeitando qualquer que seja sua condição evolutiva, sua posição na sociedade, sua cor, seu sexo, sua idade.
ORAÇÃO
Acalme meu passo Senhor
Desacelere as batidas do meu coração
Aclamando minha mente
Diminua meu ritmo apressado
Com uma visão da eternidade do tempo
Em meio as confusões do dia-a-dia
Dê-me a tranquilidade das montanhas
Retire a tensão dos meus músculos
E vermos com o som
Com o som sereno das águas constantes
Que vivem em minhas lembranças
Ajuda-me a reconhecer o poder mágico dos sonhos
Ensina-me a arte de tirar pequenas férias
Reduzir meu ritmo para contemplar
Uma flor, conversar com um amigo,
Afagar uma criança, ler um poema,
Ouvir uma música
Acalma meu passo Senhor
Para que eu possa perceber no
Meio do incessante movimento do
Cotidiano, de ruídos, lutas, alegrias
Cansaços e desalentos
A Sua presença constante em meu coração
Acalme meus passos Senhor
Para que possa entoar o cântico
da Esperança
Sorrir para o meu próximo e calar
Para ouvir a sua voz
Acalme meus passos Senhor
E inspire-me para que eu possa
Enterrar minhas raízes no solo
Dos valores duradouros da vida
Para que eu possa crescer para a Vida Eterna
Obrigado Senhor, pelo dia de hoje, pela família que me deu
Pelo meu trabalho e sobretudo pela
Sua presença em minha vida
Acalme meu passo Senhor! Amém