A quem interessa a mistificação da Mediunidade?

Não há interpretação espírita da Mediunidade sem ou fora de Allan Kardec.

Marcelo Henrique

Vejo muitos espíritas falando “da” Mediunidade. Constato outros mais praticando “a” Mediunidade. E observo um grande número de pessoas que, no segmento espírita, aceitam obras discutíveis, só porque teriam sido concebidas pela psicografia e detém assinaturas (mais ou menos) “ilustres”, tanto em termos do encarnado (médium?) quanto do desencarnado (espírito “de luz”?).

Ora, senhores… Não há interpretação espírita da Mediunidade sem ou fora de Allan Kardec. É impossível entender o FENÔMENO MEDIÚNICO (que Crookes bem conceituou como “O Fenômeno Espírita”, em um belo clássico da nossa literatura temática) sem acatar as judiciosas observações do Codificador, que concebeu uma sistemática e uma metodologia capaz de entender o processo, afastar a mistificação, a idolatria, a submissão e a introdução de conceitos bem estranhos em relação aos princípios espíritas.

Vejo muitos espíritas “ávidos por novidades”, frequentando stands de feiras literárias ou seguindo os expositores-medalhões, em grandes (ou nem tanto) eventos espíritas. Acotovelam-se em filas de autógrafos, e passam a CRER CEGAMENTE nos “livrinhos” que têm em mãos, dizendo serem “obras complementares à Codificação”.

Precisa ser explicado para eles que COMPLEMENTAR não pode, sob qualquer hipótese ou pretexto, CONTRARIAR o que foi estatuído em Kardec – a não ser que, sob criteriosa pesquisa, investigação e seleção de escritos mediúnicos – algo relevante e novo possa ser agregado ao “edifício espírita”, não sem a chancela da generalidade.

Se há a liberdade de pensar – e, dela decorrente, a de escrever, no tocante aos que editam ou publicam obras psicografadas – nada substitui o critério de observação, juízo, seleção e entendimento doutrinário. E quem faz isso? Poucos, muito poucos.

Lembramos um trecho contido no laboratório kardeciano, a Revue Spirite (dezembro, 1858): “Como opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar prediletos; que pode produzir-se em toda parte, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, ainda melhor do que em público? O meio de prevenir os inconvenientes nós o fornecemos em nossa Instrução Prática: Torná-lo de tal modo compreendido que nele apenas se veja um fenômeno natural, mesmo no que apresenta de mais extraordinário”.

Se o fenômeno é natural e ocorre todos os dias – independentemente do local tido como “sagrado” pelos espíritas, o “centro” e que não precisa de qualquer ritualística ou adereços, nem está condicionado à autoridade “mundana” de dirigentes ou pretensos especialistas – NÃO se quer dizer, com isso, que TUDO O QUE VEM DOS ESPÍRITOS DEVA SER TIDO COMO VERDADE. Muito pelo contrário.

Um bordão que foi destacado por Kardec em suas obras (32 no total) é o de que a condição de desencarnado não torna ninguém, sábio e que nós, após a vida física, todos, continuamos sendo o que fomos em vida. E, não raro, permanecemos envoltos nos mesmos interesses e conhecimentos, até que tenhamos outras oportunidades de ampliação, pelo estudo, pela experiência, pela conduta, pelas vivências em provas e expiações, nossos horizontes. Não é o “brilho” da assinatura, a “adjetivação” do cargo ou da função que ocuparam em vida, a “vinculação” ao movimento espírita ou às religiões em geral, na última existência conhecida, que o Espíritos (desencarnado que se manifesta) será reconhecido como pontual e agregador, em termos de conhecimento, ao Espiritismo.

Natural é a Mediunidade e deve ser compromisso igualmente natural de todo espírita estudioso e interessado avaliar cada parágrafo, cada artigo, cada texto, cada livro que lhe chegue em mãos, evitando, na singela e oportuna lembrança de um dito atribuído ao Mestre dos Mestres, Yeshua, nos caracterizarmos, infelizmente, como os cegos que são guiados por outros cegos.

É hora, definitivamente, de expulsarmos a trave de nossos olhos, que tem sistematicamente impedido que muitos espíritas enxerguem além!

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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+ Marcelo Henrique