Herculano Pires e a construção da Civilização

Por Manoel Fernandes Neto, Especial para a S.E. Nova Era

São 116 livros, uma infinidades de artigos, pensamentos, teses, ensaios, depoimentos de amigos, confrades, irmãos: como encontrar o jornalista, filósofo e escritor José Herculano Pires e restringi-lo ao espaço destinado a este perfil? Começamos por recorrer a uma sigla, JHP, pois cada milímetro utilizado aqui será importante.

Em seguida, o auxílio de Sérgio Aleixo, outro jornalista e estudioso da doutrina dos Espíritos: “Estou convencido que uma urgente valorização superlativa da obra de JHP é capaz de promover o encontro efetivo do movimento espírita com seus melhores destinos, a despeito dos dignos esforços que foram encetados até aqui; os mediúnicos, inclusive”

Uma ficha biográfica é necessária: encarnou em 1915, em Avaré, interior de São Paulo, desencarnou em 1979, em São Paulo, capital. Aos 40 anos entrou na faculdade de Filosofia da USP, para melhor se aprofundar nos aspectos filosóficos da doutrina. Jornalista e presidente do sindicado da classe, foi repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário, no legendário Diários associados de Assis Chateaubriand durante 30 anos. Manteve uma coluna espírita durante muitos anos na publicação, sob o pseudônimo de irmão Saulo.

Espiritismo universalista

Seu talento com as letras e o pensamento contemporâneo não ficou nos limites da codificação. Sua preocupação foi, isto sim, inserir Kardec e a codificação em todas as áreas do pensamento científico, filosófico e religioso. JHP navegou por poesias, romances, ensaios e teses. Em ocasião da obra Barrabás, de 1954, o renomado crítico Wilson Martins escreveu em O Estado de São Paulo: “Na literatura brasileira de nossos dias, JHP se situa num inegável primeiro plano, com um livro bem construído, bem escrito e refletindo a vis dramática que nenhum romance pode deixar de ter”

Na âmbito espiritista, a maioria de suas obras ainda são atuais e estão em catálogos das editoras especializadas, inclusive a fundada por ele, a Paidéia. Nessas obras, JHP continua a enviar recados para os existencialistas e cientistas. As vezes para ambos, simultaneamente: “A ciência atual, amparada pelas pesquisas da Astronáutica, não encontrou o nada em parte alguma. Assim, a idéia do nada se tornou absurda, filosófica e cientificamente”, escreveu em Concepção existencial de Deus.

De escrita vigorosa, era tido entre confrades como o “zelador do espiritismo”, pela sua defesa intransigente da codificação kardeciana e a harmonia entre o três pilares da doutrina; contra o que ele classificava de sentimento igrejeiro exacerbado de associações e centros espíritas, sempre dispostos a cultivar dogmas e crendices e a fazer “bocas de siris” às deformações que as ciências e as religiões teimavam em inserir o espiritismo.

Aliás, sua obra, toda racional, sóbria e coerente com o equilíbrio necessário, não se furtava à argumentação veemente, útil para a compreensão histórica do progresso do Planeta e em defesa da Codificação. “As religiões atuais, monstros antidiluvianos, remanescentes das épocas de terrorismo clerical, essas pobres religiões encarquilhadas na velhice de seus crimes assombrosos, lutam hoje para escapar ao dilúvio de terrores que lançaram à terra”, bradou no livro Vampirismo. Ou em uma obra inteira dedicada ao tema: A agonia das religiões.

Em o Espírito e o Tempo, obra apontada por uma pesquisa como uma das dez mais importantes obras espíritas do século 20, ele defende, destemido, com palavras precisas e uma análise que fala às nossas mentes e aos corações, a construção da Civilização do Espírito. “Se os livros de Kardec não forem efetivamente estudados, investigados na intimidade profunda de seus textos e transformados em pensamentos vivos na realidade social, a civilização não passará de uma utopia e de uma deformação da realidade sonhada.”

Viver a Doutrina

Heloisa Pires, pedagoga e estudiosa espírita – que estará em Blumenau em agosto para uma série de palestras em diversas casas espíritas, inclusive na S. E. Nova Era -, afirma que, acima de tudo, JHP era uma homem de ação. “Para entender o filósofo Herculano Pires é preciso entender o homem Herculano Pires. Ele não teorizou sobre a doutrina espírita. Ele a viveu.”. Heloísa explica que seu pai conseguiu vencer, graças a Doutrina, as barreiras do mundo material. “Desligar-se dos problemas efêmeros, dos vínculos primários da matéria, transcender sua humanidade, voando nas asas do pensamento até a essência da natureza”

Atualmente a obra de JHP pode ser conhecida na totalidade em um antigo sobrado na cidade de São Paulo, onde ele residiu com a esposa, e que é sede da Fundação Maria Virginia e José Herculano Pires. Todavia, seus ensinamentos são seguidos por milhares de espíritos encarnados e desencarnados, dentro ou fora, do movimento espírita brasileiro.

Emmanuel, ao afirmar que JHP foi o “melhor metro” que mediu Kardec, com certeza já esperava que essa “unidade de medida” continuaria prestando auxilio na compreensão aprofundada da Doutrina dos Espíritos. Não de uma forma dogmática, presa na letra, nas frases e nos discursos exteriores de pseudo-sábios; mas sim como aquilo que JHP mais admirava nos ensinamentos de Jesus: “em Espírito e Verdade.”

Acervo:
Editora Paideia – Home

 

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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