A maratona de 2017 e a mensagem de Natal

Dora Incontri

O ano de 2017 foi uma maratona, em que todos corremos e suamos, nos desesperamos às vezes, desanimamos outras, intensificamos nosso esforço outras tantas… O mundo está mergulhado num turbilhão, o Brasil está sofrendo um desmonte em tudo o que tinha duramente construído (com idas e voltas, avanços e retrocessos) nos últimos 100 anos: universidades públicas, sistema de saúde, educação pública, direitos dos trabalhadores, direitos humanos, pesquisa científica, proteção ao meio ambiente e todo e qualquer outro setor que se queira mencionar. Os horizontes são difíceis e se estamos cansados com o ano que se finda, ficamos ainda mais cansados, quando pensamos no ano que se inicia. Lutas intensas, trabalho árduo e, sobretudo, esforço redobrado para manter a esperança, a energia e o sonho – é o que sem dúvida nos espera.

Se nossa perspectiva for apenas material, de fato, se torna difícil manter a luz da esperança acesa. Mas se tivermos uma abertura para a espiritualidade, para a transcendência, como diria Jesus, o fardo fica mais leve e o jugo mais suave.

Olhemos a história e veremos que esses períodos de crises intensas, de retrocessos absurdos, de esgotamento da civilização, já se deram muitas vezes. Basta pensar em algumas das personalidades que admiramos e queremos seguir, para nos darmos conta dessa verdade. Um Francisco de Assis rodeado de um ambiente de extrema injustiça social, em que cristãos moviam guerras contra outros cristãos (como os cátaros) e contra os islâmicos… Um Comenius, enfrentando a guerra dos 30 anos, entre protestantes e católicos, e sendo perseguido e banido de sua pátria, depois de ter perdido sua família e ter seus livros queimados… Pensemos mais recentemente em Janusz Korczak, o brilhante e humanitário educador e médico, engolido e morto pela barbárie nazista, junto com suas 200 crianças num campo de concentração. Ou ainda Gandhi, que pregou e viveu a não-violência, caído com uma bala de um próprio compatriota seu. E Martin Luther King, que teve o mesmo destino de Gandhi, que o inspirou, mas cuja luta pela igualdade étnica nos Estados Unidos ainda hoje encontra barreiras para sua plena realização.

Este é o mundo que nos é dado. Há nele transformações, evolução, melhoria? Muitos duvidam que haja, dados esses ciclos de barbárie que vão e que voltam. Mas se examinarmos bem, veremos que apesar dos pesares, temos sim andado alguns passos. Primeiro, todas essas personalidades acima, e outras tantas não citadas, deixaram suas marcas transformadoras no mundo. Arrastaram tantos outros e ainda nos inspiram ao bom combate. E, mais, hoje também temos muito maior consciência de nossas mazelas sociais, econômicas, morais, do que tínhamos, por exemplo, 200 anos atrás. Basta ler algum autor do início do século XIX para ver a ingenuidade inconsciente diante da realidade, que havia mesmo em mentes bastante lúcidas para a época. Há militâncias do bem em toda parte. Muita gente que dedica a vida ao próximo, muitos movimentos de vanguarda. Andamos sim. Não tanto como gostaríamos ou, talvez, como deveríamos.

Com o peito ofegante pelo esforço de 2017, agora façamos a nossa pausa para o Natal e lembremos da grande, luminosa e confortadora mensagem de Jesus. Ele que nos acenou com a possibilidade concreta de nos tornarmos plenamente humanos em nossa humanidade: humanos no amor, na compaixão, na solidariedade, na linguagem da paz! Nosso maior esforço deve ser justamente o de viver sua mensagem para aclarar os nevoeiros do mundo. Iluminando-nos, iluminar. Transformando-nos, transformar. Florescendo nossa alma, semearmos boas sementes em outros corações e no solo dilacerado desse planeta. Pensemos nele, o doce e divino Mestre, e sigamos. Algum dia, seu Reino será sim desse mundo!

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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