A educação de jesus

 

A verdadeira educação é aquela que desperta a sabedoria intuitiva presente em todos os espíritos

Por Walter da Silveira Franco
( Pseudônimo de Herculano Pires)

Jesus nasceu e cresceu no mundo helenístico, numa fase de cosmopolitismo. A Judéia era então uma espécie de encruzilhada cultural, mas os israelitas conseguiram salvar a sua autenticidade cultural graças a dois elementos poderosos: a predestinação racial e o profetismo. O primeiro desses elementos, a predestinação, provinha da aliança dos patriarcas da raça com Deus, que fizera dos judeus o seu povo eleito, predestinado a salvar o mundo. O profetismo é o elemento que alimentará sem cessar a idéia da predestinação e garantirá a pureza da cultura judaica em suas relações com as demais culturas do tempo.

Jesus cresceu nesse ambiente de aspirações universais orientadas pela fé cultural de Israel; uma preparação do homem para o serviço de Deus.

JESUS NA ESCOLA

No lar, Jesus recebeu lições de Maria e de José, que o iniciaram no conhecimento das escrituras sagradas, e aos seis anos, foi levado à Sinagoga de Nazaré para as primeiras aulas.

O material escolar era simples: um estilete, uma espécie de lousa escolar feita de cera e um rolo de pergaminhos com versículos dos profetas, alguns salmos e trechos do Levítico (terceiro livro do Velho Testamento; trata das leis rituais do culto), como todos os meninos judeus de pais cuidadosos, Jesus já conhecia versículos de Isaías e trechos da introdução do Levítico, que Maria lhe ensinara e fizera decorar. A educação familial ia agora ampliar-se na escola, mas sempre na mesma orientação. E o menino Jesus, saindo do círculo da família, entrava no mundo judaico através do processo de sociabilidade que a escola representava (naquele tempo como hoje).

A sala de aula era uma dependência própria da Sinagoga, o rabino também era o professor. As aulas começavam cedo, pouco depois do sair do sol, e terminavam quase meio dia. Constavam de preleções especiais, adaptadas à mente infantil, e de exercícios de cópia e decoração de textos – a memorização era a base da sabedoria.

Consta, na tradição judaica, que o menino Jesus destacou-se logo na classe pelo seu precoce conhecimento dos textos. O rabino o inquiria continuamente a respeito, querendo saber onde ele aprendera tudo aquilo. O menino respondia que aprendera com a mãe; mas era tão rápido o aprendizado desse garoto que o rabino ficava pensativo. Maria gostava de sugerir que talvez os anjos do Senhor lhe estivessem ensinando essas e muitas outras coisas.

A escola judaica não era apenas a sociedade em miniatura, mas a própria vida em elaboração. Porque lá toa a vida tinha esse mesmo sentido unitário e global. Toda ela se fundava nos livros sagrados. Viver, na verdade, não era levar a vida, mas viver as escrituras. Nos anos seguintes, Jesus aprofundou-se no estudo do Talmude, que contém os ensinos dos rabinos sobre a Torá (Velho Testamento). Sua capacidade de aprender e de interpretar por si mesmo os textos escritos colocou-o novamente em posição de destaque. Depois entrou no estudo do livro das tradições. Toda a vida de Israel, todo o seu passado, toda a sua cultura estavam ao seu alcance. Já adolescente, estava preparado para os cursos superiores, nas escolas sabínicas. Essas escolas equivaliam às atuais faculdades de teologia, e formavam sacerdotes e doutores da Lei.

OS SÁBIOS DE ISRAEL

A discussão de Jesus com os doutores do Templo em Jerusalém foi mais do que um episódio de sua educação, foi, a prova incomum de conhecimentos e a capacidade de raciocínio que o jovem ofereceu. Mas o que distinguiu Jesus de seus colegas foi a capacidade de assimilar os espíritos da educação judaica. Ele penetrou na essência da educação hebraica e por isso foi capaz de superar o Judaísmo e reforma-lo, arrancando das entranhas do formalismo a verdade oculta que brilharia mais tarde no Cristianismo.

É evidente que, para fazer isso, Jesus tinha de trazer contigo algo mais do que possuíam até mesmo os sábios de Israel. E ele trazia a sabedoria intuitiva que desabrochava aos simples toque dos estímulos educativos. A educação de Jesus nos interessa, pois, não apenas como possível curiosidade histórica ou lendária, mas como exemplo vivo da natureza da Educação, que é a dinâmica do despertar do espírito pelos estímulos do ambiente. Podemos ver isto não só em Jesus, mas também nos grandes gênios que fizeram a humanidade avançar no campo da criatividade, partindo dos mesmos sistemas educacionais em que gerações inteiras se perderam na rotina das repetições.

Os poderosos estímulos da educação judaica estavam condicionados pelo formalismo da tradição. O espírito superior de Jesus rompeu esse condicionamento porque as forças interiores nele despertadas eram mais poderosas que os diques da tradição. Penetrando no sentido dos textos, Jesus descobriu, por trás da letra que mata, o espírito que vivifica.
É difícil conciliarmos, hoje, a violência do Velho Testamento com os ensinos de paz e amor do Evangelho. Não obstante, a seiva que informa o Sermão da Montanha vem das profundidades de Tora através das raízes da educação judaica. Essa educação teológica, nascida nas entranhas das civilizações teocráticas do Oriente, tinha um sentido oculto, que somente um dos educandos foi capaz de sentir e revelar.

IDOLATRIA NA MÁQUINA

A educação cristã iria cair também no mesmo círculo vicioso. O Cristianismo aproximou-sedo modelo totalitário do Judaísmo e criou a civilização teocrática da Idade Média. A cadeira de Moisés foi substituída pela cátedra de São Pedro. O Templo de Jerusalém teve a sua réplica no Vaticano. O formalismo cristão, herdeiro do formalismo judeu, restabeleceu o império da letra e sufocou de novo o espírito que vivifica. A educação cristã foi derrotada pelo paganismo que renasceu no pluralismo materialista das ciências. Como conseqüência, a educação leiga se impõe ao mundo como única solução para o impasse educacional criado pelo sectarismo religioso.

A idéia de Deus e do destino espiritual do homem foi sufocada pela concepção utilitária do mundo vazio e da vida sem sentido. A Educação se converteu em simples reelaboração da experiência. Caímos numa forma nova de paganismo em que a civilização tecnológica impõe-nos o império da Técnica com a idolatria da Máquina. É neste momento que a educação espírita surge como solução histórica do novo impasse educacional. Porque nela, na educação espírita, reencontramos a seiva judaica e a seiva cristã libertas de todo formalismo, oferecendo ao homem a síntese da concepção redentora que Jesus apresenta em seu Evangelho.

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Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.

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