A segunda milha

Por Inny Buch

“Se alguém te obrigar a andar mil passos, vai com ele dois mil!”.  Esta exortação ainda faz parte do Sermão da Montanha.

A primeira milha é a milha do dever. É a da obrigação. É quando a criatura faz o que pode dentro do seu estado evolutivo. O que é normal para ela.

“Quando tiverdes feito tudo dizei: somos servos inúteis” que é igual ao cumprimento da obrigação. É a primeira milha. É o que propusemos, quando para aqui viemos. Cumpriu-se exatamente o que foi pedido, nada além disto. Já que vivemos em sociedade, deve-se fazer o mínimo esforço para conviver em paz.

Mas este comportamento faz a criatura permanecer sempre na mesma posição. Não altera para melhor nem a sua compreensão, nem seu entendimento.

Por isso a conclusão de Jesus: sois servos inúteis. É quando se faz o dever penosamente, reclamando até para valorizá-lo.

“Quem executa penosamente as coisas pesadas, é bom; mas não é perfeito.
Quem carrega sua cruz gemendo, é bom; mas não é perfeito.

Quem verifica que o jugo do Cristo é amargo e pesado, é bom; mas não é perfeito.

Só quem executa com leveza as coisas pesadas; quem carrega sua cruz sorrindo; quem sabe por experiência íntima que a amargura da disciplina espiritual é suave e que seu peso é leve – este é perfeito.” ( Huberto Rohden)

Este exercício pode ser feito em todos os lugares: no lar, no trabalho. Para que haja tranqüilidade entre quatro paredes, muitas vezes alguém é convidado a renunciar em benefício da paz. Ou a perseverança, quando se quer alcançar êxito, sem machucar outros.

…Quantos desistem de seguir adiante, quando estavam prestes a concluir a jornada. Faltou a segunda milha.

Num relacionamento com o próximo, a solidariedade é baseada principalmente na compreensão e na paciência.

No Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos no capítulo XVII, ítem 3: “…possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.”

Quando se quer colher frutos, é imprescindível o exemplo, e a vivência do exemplo é diuturna. É doando o que o outro não espera, que se consegue a reflexão deste, sobre o gesto de desprendimento. É assim, e só assim que conseguimos mudar um relacionamento para melhor.

Conosco mesmos, no combate às imperfeições, não podemos esmorecer e somos sempre, obrigados a andar esta segunda milha.

É a transformação do sujeito. É a mudança qualitativa. Alguém quer tentar a segunda milha? Leia O Livro dos Espíritos, questão 919, na íntegra!!!

A segunda milha é a doação de tudo aquilo que não é obrigatório. É o gesto do desprendimento. É ir além do caminho exigido. É ir, principalmente, junto àqueles nossos companheiros mais intolerantes, mais difíceis, mais exigentes, mais intransigentes, mais orgulhosos.

Este é o campo de experiência!…

Jesus ainda hoje prossegue com a humanidade na expectativa de que ela mude.

Que caminhemos com amigos as milhas que forem necessárias. Mas aos desafetos, vamos dar as milhas de oração. Não esperemos que com isto eles possam mudar, mas que possamos nós, vê-los como irmãos.

Num texto do Irmão José (espírito) lemos:

“pelo modo de carregar a cruz, antes mesmo de alcançar o topo do calvário, Jesus já havia modificado dezenas de pessoas que lhe acompanhavam o martírio silencioso e, ainda hoje, aquela segunda milha percorrida pelo Cristo permanece como um apelo eloqüente à consciência de toda a Humanidade.”

Publicado originalmente em 10.2004

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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