Fugas psicológicas
Por Elisabeth D’Andrea Balsini |
Palestra realizada em 28/11/2019 FUGAS PSICOLÓGICAS
Pesquisa de Elisabeth D’Andrea Balsini
Ninguém cresce ou se desenvolve, evitando esforço e luta. É a lei da vida.
A existência física é como a execução de um plano de alta complexidade, sujeita às mais diversas circunstâncias – especialmente as emocionais.
Por isso mesmo, variando de períodos de progresso e de queda. Como na dualidade desta vida, alternando entre luz e escuridão; conhecimento e ignorância; verdade e mentira; sofrimento e felicidade.
A incapacidade de resolver todos os desafios do dia-a-dia, levam o indivíduo, muitas vezes, ao afastamento social – como uma forma de poupar-se de qualquer tipo de sofrimento.
É normal que ocorram algumas fugas psicológicas: medo, culpa, insegurança, ressentimentos, estresse, raiva, ansiedade, como uma maneira de neutralizar o excesso do volume de responsabilidades a que somos submetidos todos os dias.
Já a saúde mental e emocional, será sempre o resultado do equilíbrio psicológico que possuem as pessoas que trabalham o seu interior, cultivando a confiança irrestrita em Deus e na vida.
Certas pessoas porém se caracterizam por processos psicológicos empobrecidos, pois seu equilíbrio emocional não está nelas, mas sim, preso ao psiquismo dos outros.
São denominadas “reféns-emocionais”- ainda não acenderam a própria luz para iluminar sua casa mental!
Quando tomarmos consciência da capacidade de materializar por fora, o que somos por dentro, compreenderemos que cada um de nós, vive no mundo de luz ou de trevas que criou para si mesmo.
Neste contexto, torna-se necessário saber de maneira bem clara, o que se deseja atingir na vida, pois é preciso ter um objetivo para lutar e vencer!
— Será que sabemos o que realmente queremos da vida?
— Como entender os porquês desta realidade tão diversificada?
— Para que vivemos neste mundo?
— Queremos mesmo fazer o que fazemos?
— Estar como e com quem estamos?
Marx dizia que não tinha interesse em conhecer o mundo, mas em transformá-lo.
A maioria das pessoas, igualmente, não tem nenhum interesse em compreender o mundo em que vivem. Há pessoas que jamais questionam isso, porque não querem saber nada sobre elas mesmas. Umas estão empenhadas em desfrutar do mundo – sem questionamentos. Outras, apáticas, longe de compreender, vivem por viver. São criaturas que agem impensadamente, sem medir o alcance de suas palavras e atitudes.
— Qual é então, o propósito da vida?
Se aqui não é o lugar onde encontramos a perfeição, só através da Educação, poderemos transcender. Esse plano e elevar a consciência ao reino espiritual.
Não a Educação intelectual, mas a Educação moral – que consiste na arte de formar o caráter, auxiliado pela fé verdadeira, que respeita os ritmos e os ciclos da natureza da vida, considerando que “tudo está certo, no lugar certo”.
A palavra educação nos leva a pensar em estudo, escola, aquisição de conhecimentos, cultura, intelectualidade. Tudo isso é importante, mas Educação moral é mais do que isso. Allan Kardec, com a contribuição dos Espíritos Superiores e à luz da Doutrina Espírita, a definiu como “o conjunto dos hábitos adquiridos”.
Educação, portanto, para o Espiritismo, é formação de hábitos (bons hábitos) – hoje somos resultado dos hábitos que formamos ao longo de nossas existências passadas; amanhã seremos a soma de novos hábitos que vamos incorporando.
Todo processo educacional, deve envolver transformação – Deseje as transformações! Examine o passado e verá no presente suas tendências. Há um fio de comportamento, uma sequência de características (boas ou más) que só você tem.
Não apenas aceite, mas deseje que transformações positivas aconteçam com você. Aumente sua grandeza de espírito, sua força interior e a capacidade de sentir um novo mundo e uma nova vida. Confie em Deus e aja. Cada um de nós que muda, muda tudo à sua volta Cada um de nós deve ser essa luz de mudança.
A vida exterior é o retrato plasmado do seu reino interior, portanto, quando nos dispomos a ser melhores, já somos vitoriosos.
Tudo que nos rodeia, foi estimulado por nossa capacidade mental e intelectual.
Nos criamos, com convicções falsas e pensamentos de defesa, “o céu ou o inferno”que vivemos, através da Lei de atração e sintonia.
Sem força para enfrentarmos os problemas com naturalidade- determinadas predisposições emocionais impedem a aceitação das ocorrências mais desagradáveis. Em face desta conduta, surgem os mecanismos de “fugas psicológicas” com a ausência de discernimento diante dos percalços da vida. É quando são tomadas atitudes levianas e irresponsáveis – como se estivesse agindo de forma correta.
Uma psicóloga, falando sobre gerenciamento do estresse em uma palestra, levantou um copo d’água. Todos pensaram que ela perguntaria se eles viam o copo meio-cheio ou meio-vazio, mas com um sorriso no rosto ela perguntou: Quanto vocês acham que pesa este copo d’água? As respostas variaram: 100,200 gramas,300, 350 gramas E ela continuou:
—O peso absoluto não importa!
—Tudo depende de quanto tempo você o segura!
Se eu o segurar por um minuto – não tem problema. Se eu o segurar por uma hora – meu braço ficará amortecido e paralisado. Em todos os casos, o peso do copo não mudou, mas quanto mais tempo eu o segurar mais pesado ele ficará…..e continuou:
O estresse e as preocupações da vida são como este copo cheio d’água. Eu penso sobre eles por pouco tempo e não acontece nada Eu penso sobre eles pouco mais de tempo eles começam a pesar e a me machucar. Eu penso neles o dia inteiro e me sinto incapaz, paralisada, sem conseguir fazer qualquer coisa!
Então o que devo fazer? –Então, você deve, simplesmente, “largar o copo”.
Quando despertamos nossa consciência, transformamos o mundo em nós e então perceberemos que não eram propriamente nossos conflitos que pesavam tanto, e sim nossa maneira de vê-los e senti-los. Nossos maus hábitos.
Não permita que suas emoções o abalem, os pensamentos se embaralhem. Tenha paciência nas dificuldades, confiança no futuro, creia na bondade de Deus, acredite no aprendizado, lute, evolua, estude.
O Espírito Emanuel alerta-nos que “as mais terríveis tentações encontram-se no fundo sombrio do nosso ego”. Pelo impositivo da reencarnação, ignorar as responsabilidades, apenas nos transferem para o tempo futuro.
Ao reencarnar, temos o esquecimento do passado, assim a simples presença do adversário de outras épocas, faz ecoar dentro de nós um sinal de alerta, daí, necessidade de proteção, exigindo de nós reparação, que só trará sofrimento.
A proposta da Doutrina Espírita é conduzir o indivíduo à reflexão e à aquisição de novos hábitos, sem amarras com os fracassos que ficaram no passado.
O ser humano é todo um feixe de emoções que necessitam ser bem direcionadas e que o conhecimento, aliado à educação moral, se encarregam de transformar em vivência.
Vivência que procede do espírito que o exterioriza de acordo com seu padrão evolutivo. Nessa atitude está embutida uma fuga psicológica, que acaba ocultando o próprio desapontamento, disfarçado em defesa e já transformado em rebeldia e mágoa.
Entre as crianças, por não terem compreensão da gravidade de seus atos, é comum escapar da responsabilidade através da mentira.
Assumir, portanto, as próprias dificuldades, constitui um dos passos necessários para superá-las.
Na revista “O Semeador” nº 747 encontramos um artigo intitulado “Conhece-te a ti mesmo” ratificando que devemos aprender a direcionar nossa atividade mental para a harmonia interior, treinar a necessidade de mudar as atitudes, substituindo defeitos por virtudes.
Como seres humanos, ainda em processo de crescimento, portadores de imperfeições de vários tipos, o auto-conhecimento, com a aceitação de si mesmo, torna-se um recurso valioso.
Por isso a vigilância! Não iremos atravessar o mundo sem tentações! Elas nascem conosco, surgem de nós mesmos, alimentam-se de nossas atitudes porque não as combatemos com a dedicação necessária.
Toda vez que se tenta evitar esforço e luta, trabalhamos em sentido contrário às Leis da Vida, que impõem movimentos de ação, transformados em bons hábitos, como recurso de crescimento psicológico, moral e espiritual. É no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap XVII, item 4, que lemos: “O verdadeiro espírita se reconhece pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.”
Em vez dos enfrentamentos dos problemas com naturalidade, predisposições emocionais impedem sua aceitação , produzindo um movimento automático de fuga, mediante o qual, parece que poderemos nos livrar das dificuldades, quando na verdade apenas as adiamos.
É preciso estar atentos, porque são nossas emoções que precisam ser vigiadas, pois são elas que nos levam a agir (para o mal ou para o bem).
Através do estudo da Doutrina Espírita, encontramos orientações para a prática do estudo de obras de formação moral, sob a orientação do Evangelho.
É um meio de conquistar a saúde emocional e espiritual, favorecendo o equilíbrio psicológico, a temperança e os bons pensamentos.
O ser humano deve, para a Doutrina Espírita, mostrar que possui uma destinação superior e se conduzir por uma visão realista da própria condição humana (lembre-se de largar o copo), ou seja, sem ignorar o mundo do aqui e agora, sem viver improdutivamente, incapaz de competir ou aceitar dificuldades.
Todo ser humano existe para a realização de seu crescimento interior.
A busca da harmonia é inevitável! Chegar a conquistá-la, no entanto, é uma tarefa árdua.
Todo herói, mesmo quando tomba no campo de batalha, não deve ser categorizado como vítima. Seu gesto ao perder ali a existência, é motivo de confirmação do ideal do bom soldado, que vibrou no seu mundo íntimo.
Cada vitória que se apresenta, servirá de base para a força moral de outros companheiros. Este é um encontro conosco mesmo, que abrirá caminhos para a auto-confiança, a segurança das atitudes, a tranquilidade e a harmonia interior.
Esse estado de bem-estar, resulta das conquistas morais, da vitória sobre as fugas psicológicas e conflitos emocionais como: raiva, ressentimento, ciúme ou medo.
Leon Denis afirmou que o ser dorme no reino mineral, sonha no vegetal, move-se no animal, desperta no reino hominal e sublima-se no angelical. Na caminhada do tempo, percorremos a rota dos séculos no processo evolutivo do ser.
Precisamos percorrer ainda um longo trajeto para atingir o desenvolvimento total de nossas aptidões.
Quem se renova cresce, corpo e alma regidos pelas normas de Deus. Nosso mais urgente compromisso é com a harmonia interior – a paz de espírito.
Somos todos irmãos, espíritos que já estivemos aqui muitas vezes, que escrevemos os projetos que estamos vivendo agora e aguardando a divina promessa da eternidade no amor de Deus.
Observe na estrada da vida, como tudo se renova e se modifica com o tempo, para ressurgir de uma forma melhorada.
Velhas folhas são substituídas por novas. Quando as flores caem os frutos desapontam para o crescimento. Após o frio que queima a relva, surge novo tapete verde para encobrir encostas e montes.
A vida sempre se renova.
São ciclos que influenciam todos os reinos da criação divina,convidando-nos não só para a transformação física mas também a espiritual, pedindo que assimilemos novas ideias e novas maneiras de ser.
É incontestável que quem parou à margem da estrada evolutiva, sofrerá as intempéries de uma jornada inacabada. A Doutrina Espírita nos faz entender que viver na Terra é como passar por uma escola onde somos todos alunos-aprendizes.
Estamos aqui para aprender, crescer, evoluir. O que dá sentido à vida é progredir, através dos desafios diários. Somos livres para mudar nossa linha de pensamento, nossa percepção da realidade. Assim, posso agarrar com firmeza o volante de um carro e olhar para a estrada; ou posso pousar levemente as mãos no volante e olhar para a estrada. A estrada continua a mesma, mas podemos dirigir de duas maneiras: ou com esforço e estresse ou sem esforço e com a tranquilidade de crer que estou no caminho certo!
Sabemos então, qual é nosso rumo? Para onde estamos indo? Se não conseguirmos visualizar com clareza o mapa da estrada a ser percorrida, esperemos um pouco mais.
Quem acende a luz interior, confia, espera.
Esperar é também uma atitude corajosa.
Há em nós uma orientação diurna, que se ouvida humildemente, nos leva a tomar o rumo certo, no momento certo.
A consciência divina espera nosso despertar. Trilhar um novo caminho, pode exigir sacrifícios e dificuldades, mas quando sabemos o que queremos, superamos os obstáculos com menos esforço e até com prazer.
Estaremos caminhando na direção do que superamos, sabendo que há sempre um norte a seguir, um recomeço – já que nosso espírito é imortal.
São Francisco fala da importância de superarmos nossos desafios com alegria “Troquemos o desespero pelas preces do amor.As preces do amor representam acordes de esperança e devotamento, despertando para visões mais altas da vida”
Durante muito tempo, acreditava-se que o ser humano vinha ao mundo como uma tábula rasa, uma folha de papel em branco, e que através da imitação do que via, ia adquirindo conhecimentos.
Com o advento de novas conquistas psicológicas, pode-se constatar que há uma herança atávica, hereditária, assinalada em todos os indivíduos.
Assim, cegos , que não podiam acompanhar as expressões das faces de quem jamais haviam visto, apresentavam características faciais de alegria ou de tristeza; povos primitivos demonstravam os mesmos sentimentos dos seres civilizados, embora nunca tivessem tido contato com eles. E crianças recém-nascidas, trazem consigo sensibilidade suficiente para interagir e reagir ao comportamento dos adultos com quem convivem.
Essa herança procede de reencarnações anteriores imprimidas no Espírito, facultando o avanço progressivo do ser, ressurgindo como uma herança psicológica de outras existências.
Precisamos despertar o ser de luz que há em nós. Temos todas as condições de fazer coisas boas para nós mesmos e para os outros.
Deus nós dá os meios para vencer o medo dos nossos sentimentos:
1. A culpa, pode transformar-se em perdão.
2. O medo, servir de estímulo para o avanço contínuo.
3. A incerteza, converter-se em certeza.
4. O ressentimento, se transformar em amizade
5. O estresse, em alegria