Matrix e os modelos mentais

 Rita Foelker

Cada um de nós vive no mundo de sua mente

Matrix (1999, o primeiro e melhor deles) é um filme que continuam reprisando e que continua fascinando plateias.

Ele tem os ingredientes de filmes de sucesso, incluindo efeitos e ação. Mas o que ele aborda, a meu ver, é um aspecto bem sutil da existência humana. Os modelos mentais.

O filme

Entendo que ele tem três pontos decisivos.

O primeiro é o do combate com Morpheus (Lawrence Fishburne), uma combinação de artes marciais em ambiente virtual em que Neo (Keanu Reeves) termina fisicamente ferido.

O segundo ocorre na antessala do pequeno apartamento de Oracle (Gloria Foster), onde um menino (sugestivamente vestido como um monge) brinca com a forma de uma colher e, quando Neo não consegue modificá-la, a resposta é compreender que “não há colher”.

O terceiro é o do confronto com os atiradores em que Neo simplesmente para as balas, antes de atingi-lo. Numa cena anterior, no terraço de um prédio, ele havia desviado dos tiros, mas agora ele ultrapassa seus conceitos anteriores e acontece um tipo de “iluminação”, onde ele realmente percebe que aquele momento é criado por um programa que está rodando. A verdade é que “não existem balas”…

Tudo é sobre um modelo mental: um modo de “saber” como a realidade funciona e o modo como isso condiciona comportamentos.

Percepção e realidade

Nossa percepção do mundo é um modelo mental, feito de pequenos modelos mentais de objetos e situações que compõem um conjunto complexo a ponto de nos convencer de que o que pensamos é absolutamente real.

É árduo, o processo de compreender que a realidade não é o que está na nossa cabeça. Desse modo, se consegue transcender o modelo.

Em sentido inverso funciona um programa de computador com uma “interface intuitiva”. Ele reflete o modo como a nossa mente funciona, para facilitar o uso. Não vou seguir por esse assunto agora, só lembrar que Matrix era assim, intuitiva. Descobrimos em Matrix Revolutions (2003) que a versão original do programa, em que a vida era maravilhosa e todos eram felizes falhou (não convenceu?) e então o Arquiteto criou outras, até chegar àquela que era baseada em aspectos da psique humana, na qual as pessoas possuíam vidas que eram capazes de aceitar e em que podiam crer…

O professor Donald Norman entende que um modelo mental é um conjunto de crenças sobre como o sistema funciona e dentro do qual interagimos com a realidade.

Talvez a vida virtual nos atraia tanto na medida em que ela corresponde ao que esperamos e cremos. Nesse sentido, ela de certo modo confirma o sentido do “domínio do simulacro”, de Baudrillard, a ideia de que é possível passar a viver numa simulação do mundo que é tão eficiente, a ponto de não mais sabermos o que é real ou não.

O fato é que cada um de nós vive no mundo de sua mente, desafiado pelas circunstâncias da vida exterior a ampliar seu entendimento e melhorar suas ações. Por isso, as aparências enganam: porque nossos modelos são imperfeitos. Por isso, somos surpreendidos por notícias e fatos que chocam e contradizem o que pensamos.

Num curioso experimento apresentado no programa “Truques da Mente” (NatGeo) foi pedido a um grupo de estudantes universitários que desenhassem uma bicicleta. Poucos desenharam uma bicicleta capaz de rodar e fazer curvas. Mesmo considerando a dificuldade com desenho, a capacidade de observação da realidade é testada dessa forma e revela que nossa ideia sobre as coisas é diferente de como elas são de fato.

E para mim é muito claro que essa construção mental complexa nos faça eventualmente sofrer. Neo sentiu falta de ar e até sangrou, na luta com Morpheus.

Então, antes de ficar muito ferido(a), é melhor perguntar “o que é real?”…

Ou antes, “qual programa você está rodando?”

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“Um único passo não forma um caminho na terra, então um único pensamento não formará um caminho na mente. Para fazer um caminho profundo e físico, devemos andar vez após vez. Para fazer um caminho mental profundo, devemos pensar vez após vez sobre os pensamentos que queremos que dominem as nossas vidas.” (Henry David Thoreau)

“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensai nessas coisas.” (Filipenses 4:8)

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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