Perda de entes queridos

A morte não existe para nós que somos espíritos encarnados.

Rose Mary Grebe

Os últimos tempos e especialmente os últimos dias nos tem feito pensar bastante sobre algo que é uma das maiores certezas de que temos. A de que todos morreremos um dia, seguindo uma programação feita, na maioria das vezes, por nós mesmos. Exclui-se aqui o suicídio.

Nosso pouco conhecimento a respeito, nos faz apresentar a morte de uma forma assustadora, uma figura, normalmente esquelética empunhando uma foice a ceifar vidas. Uma visão bastante simplista, mas é a imagem que, normalmente, se tem da morte. Vidas tiradas, entes queridos que se perde, pessoas inocentes, jovens que se vão.

E ainda dizemos: por que não morreu o fulano que estava tão doente, ou tal pessoa que já é tão velha. Justamente morre o outro, tão bom, com a vida toda pela frente. Por que não aquele outro, que não presta, só incomoda….

E assim divagamos, questionamos Deus, damos os nossos veredictos. Tudo isso, pelo pouco conhecimento que temos, e não queremos ter, sobre o assunto. Muitos ainda dizem que os espíritas adoram falar de morte, são frios, não têm sentimentos. E em muitos lugares este assunto é encarado assim:

“ Deus me livre, não quero falar dessas coisas”. Como se alguns de nós fôssemos ficar “para a semente”.

De modo geral não gostamos de falar sobre morte, sobretudo sobre a própria ou de nossos entes queridos. Essa resistência nos torna despreparados para um acontecimento que é inevitável.

Joanna de ngelis nos ensina que é preciso reservar um tempo para a reflexão em torno do assunto. Se não nos preparamos para a desencarnação, igualmente não temos incluído na educação dos filhos consideração a respeito do tema. Quase sempre só os preparamos para a vida longa na Terra, como se todos desencarnassem em idade avançada.

Por que os Espíritas falam da morte com naturalidade?

A Doutrina Espírita nos mostra uma visão diferente, nos apresenta o desencarne como mais uma das etapas de nosso desenvolvimento: espiritual e físico. Na verdade, a morte não existe para nós que somos Espíritos encarnados. O que precisamos entender é que uma vez criados não morreremos jamais, nem que queiramos. Existe a morte de um corpo que nos foi dado como instrumento de evolução. Por isso devemos cuidar bem dele. Este corpo segue as leis da matéria.

A Doutrina Espírita nos mostra que somos seres milenares, encarnando e desencarnando, evoluindo e, consequentemente, buscando a perfeição e a felicidade. Isto é inexorável. Todos chegaremos à perfeição, relativa, um dia. E, com isto, à felicidade plena.

Mas com certeza, é doloroso para qualquer ser humano com sentimentos ver partir um ente querido seu. Principalmente quando este ente querido é jovem.
Como é confortador saber que este ser, tão querido, na verdade não morreu, ele deixou uma veste, ou um corpo físico, partindo para um outro plano de vivência, o espiritual; absolutamente programado, sem “acasos”.

É nisto que gostaria de me fixar. Não existem acasos ou coincidências .

Nós, ao reencarnarmos, fizemos uma programação de vida terrena, que pode ser de dez, vinte, quarenta, sessenta, oitenta anos, como pode ser de meses ou dias.
Temos que ter muito claro:

  • Esta programação é de acordo com o que necessitamos, feita no plano espiritual, com uma equipe especializada;
  • Para nós, Espíritos, o corpo é um instrumento de progresso, que serve por um determinado tempo;
  • Que a vida verdadeira é a espiritual.

Quando se tem este conhecimento internalizado, aceita-se o desencarne, com resignação, sem questionar Deus.

Em tempos passados alguns filósofos tinham ideias bastante interessantes sobre a morte. Por exemplo, Montaigne falava que filosofar é aprender a morrer e nos deixou esta frase, a respeito:

“ Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhes dá.
Há quem viveu muito e não viveu”.

Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver”.

( Convite à Filosofia de Marilena Chaui)

Mais remotamente, na época tribal, vemos que a morte não é propriamente um problema. Ela não é enfocada do ponto de vista da morte de um indivíduo. O homem primitivo, tão envolvido em sua comunidade, não tendo o centro em si mesmo, vê a morte não como uma dissolução, mas apenas como o assumir uma forma diferente da existência. O morto muda de estado, passando a pertencer a comunidade dos mortos.  Daí os rituais de passagem. Não há a ideia de aniquilamento e os mortos podem retornar ao mundo dos vivos durante o sono destes e por meio de aparições.

( Filosofando – Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins)

Sêneca nos afirma:
“ Quem não souber morrer, terá vivido mal”.

“ O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer”. ( Nietzsche)

Há necessidade, então de que entendamos alguns mecanismos sobre o desencarne:

Ninguém desencarna sozinho e abandonado. Há uma equipe espiritual responsável por esta tarefa, que faz o desligamento entre o nosso Corpo Espiritual e o Corpo Físico.

A separação da alma e do corpo é dolorosa? ( L.E. 154)

Não, o corpo sofre, frequentemente, mais durante a vida que no momento da morte; neste a alma não toma parte. Os sofrimentos que experiência, algumas vezes, no momento da morte, são um prazer para o espírito que vê chegar no fim o seu exílio.

À iminência da morte, dispara um processo de “ balanço existencial”, mesmo que o desencarne não se complete.

Após o desencarne, o Espírito passa por um tempo de perturbação, que será mais ou menos longo, dependendo do estado de evolução de cada um.
Dependendo deste estágio o Espírito pode ser levado a uma colônia espiritual, a um hospital, que reúna espíritos afins, ou outros locais. Mas, sempre ele terá a assistência espiritual. Mesmo os Espíritos mais renitentes no mal, ao primeiro sinal de arrependimento, são ajudados.

O que acontece é que não viramos anjos quando desencarnamos. Continuamos a ser a mesma individualidade. Portanto, depois de desencarnados, vamos sintonizar com os Espíritos com os quais nos afinizamos, continuaremos com os mesmos gostos, vontades, vícios…

Dependendo do estado, mais ou menos materializado, o Espírito continua preso às suas coisas: casa, dinheiro, objetos pessoais, pessoas. Muitas vezes, acompanha o velório.
Por tudo isso precisamos ficar mais atentos nos velórios, ajudando o ser desencarnante, com nossas preces e vibrações positivas. Muitas vezes o velório se converte em momento de piadas, lembremo-nos que isto só atrapalha.

Quanto ao cemitério, é apenas o local dos despojos, matéria que vai se decompor e voltar à natureza. Claro que deve haver o respeito, muitos Espíritos para ali são atraídos pelas preces ou choro da família. Por isso precisamos nos desvencilhar do atavismo de dizer que vamos visitar aquele ente que já está no cemitério. Ele irá para lá se o invocarmos, e nem sempre isto acontece. Podemos orar por este ser em lugares mais agradáveis. Tenhamos a certeza de que nos visitam no momento do sono.

Nós não perdemos nossos entes queridos, eles seguem suas programações de vida. Cabe a nós, se é que os amamos, ajudá- los nesta nova etapa de vida, não os retenha, que é uma prova de egoísmo, mas orando por eles, tendo bons pensamentos.

Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da Casa Espírita Nova Era.


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