Nos deram espelhos
Quero ver um mundo que seja melhor do que este que todos os dias vislumbro.
Marcelo Henrique
Ouço por aqui, por ali, por acolá, um bordão que já se tornou célebre no “movimento espírita”. Buscando na memória, como me tornei espírita em 1981, podemos dizer que ouvi pelas primeiras vezes nesta década, 1980. Vamos, então, ao “mantra”: “o planeta Terra está em transição!”.
Hummmmmm… Transição é? Sei…
Ora, meus amigos, tudo está “em transição” desde sempre. Uma semente que é lançada em qualquer solo propício, irá atravessar toda a sua existência (individual) no processo de transição (crescimento, aprimoramento, progresso).
Um animal, de qualquer espécie, idem.
O homem, seja a época em que estiver encarnado, como Espírito imortal, em sucessivas existências, também.
E o Planeta – este ou qualquer outro dos mundos habitados (as “muitas moradas na casa do Pai”, para lembrar carinhosamente do nosso Magrão) vai, dia a dia, seguindo o seu curso EM TRANSIÇÃO.
Surpreende, então, a afirmativa daqueles que querem pontuar este quadrante temporal como “mais” ou “melhor” que qualquer outro, para a TRANSFORMAÇÃO (interior e exterior, por consequência) de quem quer que seja. Não, não é! E só poderá ser, caso o indivíduo, por seu livre arbítrio, SUPERE A SI MESMO, aplique seus TALENTOS em favor de si e dos demais e CRESÇA EM ESPÍRITO E VERDADE.
Daí soar completamente “destoante” a ideia de que há Espíritos Superiores conduzindo os seres encarnados para “algum lugar”, ou fazendo algo que toca e diz respeito APENAS aos que estão, neste orbe, encarnados. Não, Senhoras e Senhores! O guia espiritual da casa espírita “X”, o mentor espiritual do médium “Y”, o “anjo” espiritual do Brasil, ou até Jesus de Nazaré não estão “no leme”. Nem podem estar. Se o barco (Terra) atravessa uma (permanente e dura) tempestade, são os que aqui se encontram EMBARCADOS, os responsáveis pelas escolhas do trajeto, as mudanças no leme, nas velas, na potência do motor, no uso dos instrumentos náuticos, SOMOS TODOS NÓS!
Espírito nenhum, por mais carinhoso e afetuoso que nos seja, irá nos “livrar” dos percalços, das dificuldades, das lutas sociais, das experiências malsucedidas em face das nossas escolhas (pessoais ou coletivas). Não há nenhum “missionário” montado num “cavalo branco” para assumir postos de comando político neste e em qualquer outro país. A relação é – e será sempre – de causa e efeito e, consequentemente, de responsabilidades.
A propósito, qual a SUA responsabilidade neste momento tão difícil que o planeta atravessa? A pandemia, a recessão, a carestia, o desemprego, a fome, a violência, a intolerância em relação aos semelhantes, a falência das administrações públicas, as más escolhas dos governantes… Podemos ficar por aqui nos “problemas existenciais”, certo?
Resgato, aqui, o verso de célebre canção composta por Renato Manfredini (o Russo), na forma de poesia: “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. Sim, o “mundo” (planeta) está doente. Agoniza, se debate, e registra – ao lado de toda a excelência tecnológica e de tantas invenções prodigiosas – os mais altos índices de INGRATIDÃO, de DESRESPEITO e de INIQUIDADES de toda a história. Um mais apressado poderia dizer que os “piores momentos” da história terrena foram as duas grandes guerras, no século XX. Pois vivemos uma terceira guerra, por vezes silenciosa, e que vai minando, aos poucos e com frequência, as nossas resistências.
Busquemos Kardec, na tradução das instruções das Inteligências Superiores: “os bons são tímidos, os maus, audaciosos”. Onde estão, onde foram parar os BONS? Em que “bunkers” estão escondidos? Em que cavernas revivem seus mitos? Em que charcos pantanosos se protegem, enquanto o peixinho vermelho já encontrou – e voltou para buscar os seus convivas, sendo tachado de “louco” – o oceano?
Espelhos… Eles estão por toda a parte! O mundo doente se espelha em nós e nós nos espelhamos nele… Não se trata de nenhuma preferência por esta ou aquela ideologia – ainda que elas existam e se confrontem em todos os cenários onde nos encontramos… Trata-se de HUMANIDADE. E onde foi parar o sentimento de humanidade?
Volto a Renato (viva Legião!) para buscar outro trecho da mesma poesia: “Quem me dera, AO MENOS UMA VEZ, que o mais simples fosse visto como o mais importante”! Quem são os mais simples? Onde eles estão? Eles estão – como Espíritos (encarnados, ou não) POR TODA A PARTE, assim nos disseram as Vozes Invisíveis, repetindo o Mago-Mestre de Nazaré… Ou, como ele também nos disse: “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem”. E, depois, a Verdade (por Kardec) também exortou: “Espíritas [os que assim se identificam como tais], amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo”. Amor e Instrução. Onde está o Amor que não acompanha a Instrução? Onde está a Instrução que não explica que o Amor é incondicional – inclusive e necessariamente – aos “inimigos” (os desafetos de qualquer ideologia, religiosa, política, social, econômica, espiritual…
Quero me olhar no espelho. E ao me enxergar, quero ver um mundo que seja melhor do que este que todos os dias vislumbro, nas redes sociais e nos cenários físicos. Em transição, desde o dia em que foi concebido pela Causa Primeira. Com a recomendação de Kardec (“é reconhecido o verdadeiro espírita pela SUA TRANSFORMAÇÃO MORAL e pelos ESFORÇOS para DOMAR SUAS MÁS INCLINAÇÕES”) em todos os momentos. Será possível?